Quando vi David Ayslworth, a primeira coisa que notei foi que as cores da sua roupa eram as cores dos seus quadros, mas depois disseram-me que quem escolhe a roupa não é ele, mas o seu companheiro. Recordei-me de quando passeio pelas lojas e sítios. Muitas vezes, quando encontro algo interessante, não vejo a coisa, vejo a reacção de alguém que conheço àquilo que encontrei. A coisa ou o sítio tem uma dimensão afectiva para mim; mas não me interessa pessoalmente, interessa-me porque evoca os sentimentos de alguém de quem eu gosto. Talvez o companheiro de David também escolha a roupa dele assim e talvez seja por isso que a fronteira entre a obra e a forma como o homem se apresenta seja aos meus olhos inexistente.
Cada quadro não é um quadro; normalmente, o artista trabalha meses ou anos e os quadros sucedem-se na mesma tela, podendo haver seis quadros sobrepostos. Às vezes, David tira fotos dos "quadros-bebé", o nome que ele dá aos quadros que existiram e sobre os quais ele voltou a pintar, até chegar ao quadro final, aquele que quer preservar. Já ofereceu mostrar às pessoas que compram as suas obras as fotos dos quadros escondidos, mas não estão interessadas, apenas querem saber do quadro final, aquele que estão a comprar. Surpreende-o a falta de interesse e, no entanto, a decisão de os esconder foi dele.
Apesar dos quadros expostos terem sido pintados ao longo de 10 anos, havia uma coesão na exposição. David estava feliz: estes mesmos quadros tinham sido expostos em Beaumont, TX, mas neste espaço em Galveston tinham adquirido uma nova dimensão que lhe agradava muito. E também ficou surpreendido por terem uma boa recepção; várias pessoas tinham vindo de Houston para a abertura, e tinham feito uma viagem de mais de uma hora numa noite em que a chuva ameaçava.
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