Quando há ataques terroristas, costuma aparecer alguém
a lembrar que morrem muito mais pessoas em acidentes de viação. São “os
idiotas da objetividade”, como lhes chamava o Nelson Rodrigues. Imaginem que é dito aos residentes de uma cidade que há dois bombistas prontos a atacar. E é dito aos
de outra cidade que há apenas um bombista. O seu risco é inferior em metade, mas acham que alguém se vai sentir mais seguro por cauda disso?
Sinceramente, acho que depende das pessoas. Eu pessoalmente sentir-me-ia. E estou neste momento na Bélgica, onde não nos sentimos particularmente seguros por estes dias (apesar do contigente militar reforçado que tem aparecido nas ruas). Mas claro, posso ser um dos "idiotas da objectividade", capaz de pensar com a cabeça e não apenas com a amígdala...
ResponderEliminarCaro IV, não sei se é ou está a ser um "idiota da objectividade"; de qualquer maneira, todos nós, por vezes, caímos na "alienação da objectividade". Neste caso, isso significa reduzir os mortos a números, a estatísticas, como se todas as mortes se equivalessem, como se fossem irrelevantes as causas das mortes, as circunstâncias em que ocorreram, as motivações dos assassinos, ignorando os medos e as emoções populares, etc.
EliminarSejamos claros: nem todas as mortes são equivalentes (as mortes por terrorismo serão de uma outra "dimensão"/critério das mortes por acidentes de tráfego, por exemplo - principalmente em termos de "percepção de controlo" pelos afectados). Isso dito, diminuir o número de bombistas é uma diminuição numa só dimensão, pelo que é claramente benéfico. Não estou a dizer que é linearmente melhor (isso vai depender de vários fatores, mas passar de 2 para 1 não significa diminuir a perceção de risco para metade), mas é de certeza o suficiente para dizer que se está efetivamente mais seguro.
EliminarIgnorar os "medos e emoções populares" tem pouco a ver com essa análise (geralmente é feito por quem quer reduzir toda a análise multicritério a uma só dimensão). O anúncio simples de que foi capturado um potencial bombista provavelmente vai causar mais percepção de insegurança (por relembrar às pessoas as ameaças) mesmo que objectivamente a insegurança tenha baixado.
Nada a opor.
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