segunda-feira, 25 de maio de 2015

Honestidade e boa-fé

Há umas semanas um colega meu, o Miguel Portela, recebeu um telefonema da Caixa Geral de Depósitos. Comunicaram-lhe que tinham uma boa notícia para lhe dar. Iam baixar-lhe a prestação do seu crédito à habitação em 118€. Nem mais nem menos, 118€. Dado que a prestação é de pouco mais de 500€ por mês, estamos a falar de uma redução de mais de 20% no valor mensal. O meu colega agradeceu a boa-vontade, mas perguntou quais seriam as contrapartidas. Responderam-lhe que aumentariam a maturidade do empréstimo em 15 anos. E voltaram a insistir e perguntar se estaria interessado nesta mudança.

O meu colega, admirado com o facto de o banco se disponibilizar, sem mais, a alargar o prazo do empréstimo, dirigiu-se pessoalmente a uma agência da Caixa e perguntou se não haveria mais contrapartidas, ou seja, se tudo o resto ficaria igual. Mais concretamente, perguntou o que aconteceria ao ‘spread’ do seu empréstimo neste novo contrato. A resposta foi a de que o ‘spread’ seria de 2 pontos percentuais.

Sem acreditar na proposta que lhe estavam a fazer, perguntou se sabiam qual era o seu ‘spread’ actual ao que lhe responderam que sim, que sabiam. Era de 0,3 pontos percentuais.

Eu, estupefacto, me confesso. A Caixa Geral de Depósitos, um banco público que tem como única utilidade impor alguma decência ao mercado bancário, anda a propor aos seus clientes que aumentem sete vezes o valor dos seus ‘spreads’. E propõe isto disfarçado de uma descida da prestação.

Isto é tudo tão inacreditável que o meu colega perguntou à funcionária da Caixa Azul se andavam mesmo a propor estas alterações de empréstimos aos seus clientes. A funcionária pegou numa circular interna e leu-a ao meu amigo, confirmando que tinha indicações para fazer propostas nesse sentindo, aumentando os spreads para 2 pontos percentuais. Apesar dessa directriz a senhora disse-lhe claramente que a proposta não era financeiramente interessante. Ou seja, no contacto directo com a sua agência a informação foi correcta e ética, o que também não admira, dado que era bastante óbvio que não seria fácil de enganar um professor de economia. O problema vem do contacto telefónico. Dado que as alterações de contrato passarão sempre pela agência de cada um, o resultado final dependerá da literacia financeira do cliente e do peso de consciência do funcionário que tratar de cada caso em concreto.

É este o sinal que a Caixa Geral de Depósitos ― banco público, lembre-se ― dá ao mercado e aos restantes bancos: aproveitai-vos da iliteracia dos vossos clientes para reformular os vossos contratos de forma ruinosa para os clientes. Perante isto, é legítimo ficarmos indignados com a forma como alguma banca privada impingiu produtos tóxicos aos seus clientes?


Ao contrário das burlas descritas no parágrafo anterior, a proposta da Caixa Geral de Depósitos tem a vantagem de não ter qualquer tipo de incerteza relativamente ao resultado final. Ao contrário do papel comercial do BES e do produto financeiro que flutuava ao sabor do mercado, o novo contrato proposto pela Caixa tem um efeito certo. É certo que o cliente fica altamente prejudicado.

5 comentários:

  1. É o problema da * pirvataria"
    Já não há respeito.

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  2. Caro LA-C,
    O problema da caixa é este
    http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/banca___financas/detalhe/cgd_perde_89_milhoes_no_trimestre_sem_negocio_dos_seguros.html

    Com a venda dos seguros o grupo caixa começou a dar prejuízo. Uma questão interessante aqui é se fará sentido os contribuintes suportarem a despesa dos spreads anormalmente baixos que foram concedidos durante o período da bolha do crédito?
    adicionalmente, fora a questão da "publicidade enganosa" de afirmarem que as condições se mantinham as mesmas, poderá para alguns clientes ser interessante reduzir a prestação mensal prolongando o prazo do crédito.

    Concordo a 100% consigo que é vergonhoso a continuação da publicidade enganosa aos clientes por parte das instituições bancárias e a falta de supervisão do banco de portugal quanto a este tipo de situações que deveriam originar penalizações financeiras avultadas ao banco.

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  3. Desde há muito que defendo a privatização da CGD que, incompreensivelmente, actua de forma mais agressiva do que algumas outras instituições de crédito na captação de negócios.
    Há uns anos atrás, quando chamei a atenção de uma empregada da CGD para a forma vergonhosa como estava a negociar uma taxa de juro, dizendo-lhe que me parecia coisa de ciganos, a senhora respondeu-me que "agora somos Banco, progredimos" e eu respondi que não progrediram, antes regrediram.
    Aceito que o Estado detenha um Banco de Investimento e uma Caixa de Aforro, que nunca deverão desenvolver campanhas agressivas de captação de clientes e que nunca deverão expandir-se para o estrangeiro onde a CGD só foi buscar prejuízos, apenas para benefício dos seus administradores que, à conta disso, fartaram-se de passear à nossa custa.
    Creio que, perante o que relatou, concordará comigo.

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  4. Caro LA-C,

    Há coisa de ano, ano e meio, o meu banco (BCP) oferecia-me dinheiro se eu renegociasse o spread. Obviamente, mandei-os dar uma curva. No entanto, não tentaram "disfarçar" como fizeram ao seu colega.

    É por essas (e por outras) que não tenho pena nenhuma dos bancos. Com alguém um dia disse, um banqueiro é alguém que lhe empresta um guarda-chuva quando está sol e pede-lho de volta mal comece a chover. A solução é deixá-los bem molhados.

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  5. Ao que nós chegamos. São os da privataria e os da roubaria. Por este andar um dia os pobres não terão mais nada para comer e aí só lhe resta os ricos. Por enquanto a merda não tem valor razão porque os riscos ainda continuam a nascer com cu.
    http://viriatoapedrada.blogspot.pt/2015/04/marco-antonio-costa-psd.html

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