Os resultados das eleições no Reino Unido foram a meu ver bastante negativos.
Por um lado mantiveram no poder, agora com maioria absoluta, um governo conservador que tem prosseguido politicas a meu ver erradas, e que quebrou alguns tabus que os conservadores ingleses sempre tinha evitado, como posições populistas de restrição à imigração.
Este resultado é também muito negativo, pois com este a probabilidade de o Reino Unido sair da União Europeia, e também até a possibilidade de a Escócia voltar a ter um referendo com resultados diferentes do anterior, são para mim muito realistas. E penso que a saída do Reino Unido da UE é negativa para o Reino Unido, mas é também para a UE como um todo, e em especial para Portugal.
Os resultados têm sido apresentados como uma vitória dos conservadores. E foram. Mas foram mais uma derrota dos restantes. A linha seguida pelos conservadores não lhes deu mais votos. Os conservadores tiveram praticamente a mesma percentagem de votos das últimas eleições. Esta foi uma percentagem baixa para um partido que ganha eleições. Desde a segunda Guerra Mundial, apenas nesta e nas anteriores eleições os conservadores tinham ganho com menos de 40% dos votos. E é também a segunda vez desde a segunda Guerra Mundial que um partido consegue uma maioria com uma percentagem tão baixa.
Mas então o que se passou?
Passaram-se três coisas. A primeira foi uma perda brutal de
votos e deputados do partido liberal democrata. Que pagou cara a sua
participação no Governo. Nesse sentido, somando os dois partidos de Governo,
houve uma enorme penalização, com uma perda de 15% dos votos, embora esta tenha
sido toda concentrada no Partido Liberal Democrata.
A segunda foi que o partido trabalhista não conseguiu
apanhar uma parte importante destas perdas. Os Liberais perderam 15%, o partido
trabalhista aumentou 1,5%. E foi isto que permitiu aos conservadores ganhar e
ter maioria. O que aconteceu em Inglaterra é um aviso para as eleições que se
seguem em Espanha. A dispersão de votos por várias alternativas e movimentos,
pode ter como resultado garantir a manutenção dos conservadores no poder.
A terceira, foi uma enorme dispersão dos votos que saíram dos
Liberais, mas uma dispersão com efeitos imprevistos. Esta dispersão, num
sistema maioritário simples, deveria levar à perda de mandatos associados a
estes votos e a uma concentração dos mandatos nos dois maiores partidos. Nesse caso
seria de esperar, em termos abstractos, que tanto os trabalhistas como os
conservadores aumentassem o número de deputados eleitos (uma vez que ambos
tiveram maior percentagem de votos e seriam fortemente favorecidos pela
dispersão de votos).
Na prática, as coisas foram diferentes. A saída de votos dos
liberais para o UKIP e para os verdes não elegeu mais deputados a estes
partidos (o UKIP teve mais 9,6% dos votos e elegeu menos um deputado), enquanto
a movimentação de votos a favor do Partido Nacionalista Escocês (SNP) foi
extremamente eficaz (porque concentrada geograficamente) a eleger deputados –
ver ultima coluna, que conquistou quase na totalidade aos trabalhistas.
A tabela 2 mostra que entre os maiores ganhadores em termos
de votos estão o UKIP e os verdes e mostra que os trabalhistas ganharam votos,
mas mostra também que todos estes partidos perderam deputados.
Conclusão: Os resultados são bastante interessantes por
revelarem o que pode acontecer num sistema maioritário. São também claros sobre
a penalização de um dos partidos que esteve no Governo – os Liberais. E são
ainda claros sobre como a dispersão de votos por tantos movimentos tão críticos
e radicais pode servir apenas para manter o mesmo conservadorismo no poder.
"A terceira, foi uma enorme dispersão dos votos que saíram dos Liberais, mas uma dispersão com efeitos imprevistos. Esta dispersão, num sistema maioritário simples, deveria levar à perda de mandatos associados a estes votos e a uma concentração dos mandatos nos dois maiores partidos. Nesse caso seria de esperar, em termos abstractos, que tanto os trabalhistas como os conservadores aumentassem o número de deputados eleitos (uma vez que ambos tiveram maior percentagem de votos e seriam fortemente favorecidos pela dispersão de votos). "
ResponderEliminarEm Inglaterra foi exatamente isso que aconteceu - os liberais perderam 37 lugares, os conservadores ganharam 22 e os trabalhistas 15 (até tenho a ideia, mas não sei se foi mesmo assim e nem sei onde ir conferir, que os trabalhistas conquistaram mais circulos conservadores que o oposto). O que estragou totalmente o cenário aos trabalhistas foi terem sido varridos da Escócia (se não fosse isso iria parecer quase uma "vitória moral")
Acho que o que está a complicar esta eleição é que em larga medida foram duas eleições distintas (na Escócia e no resto), com dinâmicas completamente distintas, para o mesmo parlamento.
Já agora, terá havido mesmo grande dispersão de votos? O UKIP não conta para aqui, já que possivelmente muitos dos seus eleitores até achariam os conservadores o mal menor; o SNP também não já que na sua zona até são o partido dominante; o único exemplo de dispersão será mesmo os Verdes. Mas com os Trabalhistas a terem 10 vezes mais votos que os Verdes, isto terá sido uma grande "dispersão"?
ResponderEliminar[Se alguém tivesse informação e paciência, poderia-se fazer uma simulação do que aconteceria se se juntasse os votos verdes aos trabalhistas]
Não tenho dados mais desagregados que permitam estimar todas as transferências de voto. Mas em termos de transferências líquidas, o que aconteceu foi uma saída de 15% de votos do partido liberal, que maioritariamente se dispersou por partidos que nada elegeram a partir desses votos (9% para UKIP, 3% para os verdes), acabando por beneficiar os Conservadores.
ResponderEliminarConcordo com a ideia de que que foram duas eleições separadas (na Inglaterra e Escócia), explicita melhor o que eu referia do efeito da concentração geográfica explicar o sucesso do SNP. Um dos factos interessantes nesta eleição é que os partidos regionais têm 12% dos deputados, e conseguem-no com 8% dos votos.