terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ainda sobre o papel das finanças públicas na crise

Há umas semanas, escrevi sobre a "visão de consenso" proposta por vários economistas bem conhecidos, que identifica como causa da paragem súbita do financiamento à economia portuguesa (e à grega) o comportamento das finanças públicas nos anos anteriores, contrariamente aos casos irlandês e espanhol. Na altura coloquei um ponto de interrogação à frente de "visão de consenso" por não me parecer que todos a vejam dessa forma.

Agora foi Simon Wren-Lewis, professor de economia na Universidade de Oxford e um dos conselheiros económicos do novo líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, a avançar a possibilidade de a crise portuguesa ter sido o resultado de políticas insuficientemente restritivas (ou demasiado expansionistas) nos primeiros anos deste século. Pelo menos, escreve Wren-Lewis, a política orçamental seguida entre 2001 e 2007 terá agravado a situação. Pelo contrário, acrescenta ainda Wren-Lewis, a Alemanha deveria ter seguido políticas menos restritivas (ou mais expansionistas), para aliviar o esforço de países como Portugal.

3 comentários:

  1. A minha primeira reacção foi: bem, se o Simon Wren-Lewis diz, é porque deve ser uma verdade como um punho (no sentido de ser a contrapelo de tudo o que tenho lido dele). A segunda foi de que seria bom que se começassem a ler coisas dessas agora que vamos entrar num novo ciclo expansionista (se nos deixarem). A terceira foi ir ao blogue dele (que lei muito de vez em quando) e seguir o link do seu post. E o que constato é a seguinte coisa curiosa:

    O seu link remete para um paper, de que só consigo ler o abstract, que, simplificando com a minha mente básica de não economista, é uma tentativa de explicar o espinho cravado na garganta dos economistas: porque é que os políticos não ligam nenhuma aos estudos tão bons que nós fazemos? Segundo leio no blog (que se refere a esse texto, isso deve-se à má intermediação do conhecimento (comunicação social, funcionários públicos, bancos centrais) que transmitem aos políticos oportunistas a mensagem populista que eles querem ouvir sobre a austeridade (o que faz falta à malta é apertar o cinto). Tenho a certeza de que estou a simplificar (e sobretudo a adivinhar) imenso sobre um texto de que só li o abstract!

    Mas o que é verdadeiramente curiosos é que, lendo as últimas entradas do blog dele não encontro sombra de sugestão de que a crise portuguesa possa ter resultado de ter resultado de políticas expansionistas fora de tempo, a não ser numa entrada sobre um artigo que escreveu para o Independent intitulado (what else?) "A crisis made in Germmany" em que ele diz explicitamente (no blog):
    "I could also add (although it is not in the article) that if the Eurozone had adopted sensible countercyclical fiscal rules from 2000 the scale of the periphery crisis would have been reduced, and Germany had a large role in the deficit focused rules that were actually adopted."
    (Pensando bem, se calhar entendi mal e as tais políticas contracíclicas de que ele está a falar seriam expansionistas na Alemanha e não restritivas na perferia como eu inicialmente entendi, mas vocências me corrigirião).

    Ou seja: ele faz exactamente o mesmo tipo de intermediação que critica. Até pode reconhecer num paper académico que a crise portuguesa foi provocada, ou potenciada, por políticas expansionistas entre 2001 e 2007, mas o que ele continua a emitir para o grande público é a mesma mensagem do costume, absolutamente não modulada, que lhe "convém" ao seu quadro mental!

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    1. Eu também fiquei surpreendido por encontrar uma referência a Portugal no meio daquele texto. Eis o que está escrito na página 15:
      "First, fiscal policy would have been a lot tighter in the periphery countries. Inflation, measured by the GDP deflator, was at least 1% above the Eurozone average from 2001 to 2007 in Greece, Ireland, Portugal and Spain. I cannot say that if fiscal policy had been much tighter the 2010 crisis would not have happened, but it certainly would have been more manageable."

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    2. Estou totalmente de acordo com a Isabel. Alguém que leia o blogue do Simon nunca fica com essa ideia relativamente a Portugal.

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