quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Risco, filhos!

Às vezes, eu digo a amigos portugueses que não se faz avaliação de risco nos bancos portugueses. Toda a gente me diz que estou enganada: faz-se, faz-se, e é bem feita. Eu é que não conheço Portugal...

Então mostrem-me a avaliação de risco que foi feita para autorizar que alguém na Caixa Geral de Depósitos empreste €120.000 para José Sócrates ir tirar um mestrado a Paris, numa escola que nem é nada de extraordinário. Quem foi o fiador do empréstimo?

Se faz favor, mostrem-me também as estatísticas de empréstimos comparáveis para demonstrar que isto é um empréstimo de rotina e há muito mais gente no mesmo barco. Porque, senão, isto é um banco do estado a fazer um favor a um ex-Primeiro Ministro desempregado.

P.S. Notem que o total dos empréstimos da CGD até é €170.000, que é mais do que o meu mestrado, doutoramento, e especialização juntos...

17 comentários:

  1. Porque é que é mais arriscado emprestar 120 000 euros a uma pessoa que, entre outras coisas, possui uma casa que vale 650 000 do que, por exemplo, 1100 milhões a um banco que cota a 0,008 Euros a acção? Ou 44 milhões a um ex-deputado para fazer especulação imobiliária? 120 000 euros é quanto ganha, por ano, em Portugal, um comentarista, por meia hora de propaganda política ao Domingo à noite; entre outras coisas, uma das actividades de José Sócrates, até ser silenciado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não faz sentido o que disseste. Um banco não pode usar critérios que apenas são válidos para um individuo. O controle de risco num banco deve ser sistemático e não pontual. Para além disso, tu não podes desculpar um negócio duvidoso com o facto de existirem outros negócios duvidosos.

      Eliminar
    2. Bom, mas então também não faz muito sentido armar um texto em que se afirma arriscado emprestar 120000 euros a um indivíduo a quem se atribui a posse de 23 milhões.

      Eliminar
    3. Mais uma vez, não podes dizer isso. Os empréstimos bancários são baseados em dados duros. Tens de mostrar fonte de rendimentos, como declarações de IRS, emprego estável, etc.

      Achas que as declarações de IRS que José Sócrates submete ao Fisco demonstram que ele possui €23 milhões? Suponhamos que sim, ele declara tudo, então se alguém possui €23 milhões, porque é que precisa de pedir vários empréstimos para ir estudar em Paris? Tem lógica?

      Isto não tem lógica nenhuma, se fizer parte de um processo sistemático de avaliação de risco.

      Eliminar
    4. Chegámos, por fim, à mesma conclusão. Esta é uma história sem pés nem cabeça. Alegar que um indivíduo vende o património familiar e faz 3 empréstimos à CGD para disfarçar uma fortuna de dezenas de milhões de euros não lembra ao careca.

      Eliminar
    5. Não chegaste à mesma conclusão que eu: estes empréstimos não têm lógica, mas existem. Eu quero saber a lógica de avaliação de risco que justifica a sua existência. Que o post envolva José Sócrates é para mim secundário. Até podia envolver o Papa Francisco, se tivesse a situação financeira de José Sócrates. Nos EUA, eu posso consultar os impostos do Presidente Obama e saber exactamente os rendimentos e património que são usados para apoiar um pedido de empréstimo dele.

      Eliminar
    6. Em Portugal também. As declarações de rendimentos de titulares de cargos políticos são de acesso público.

      Eliminar
  2. A verdade de que muitos fogem, ou tentam esconder. Se os nossos media não estivessem quase todos comprados, ou controlados, socrates e os que o acompanh(ar)am . . .

    ResponderEliminar
  3. Ena pá, esta série estridente de posts indignados chama a atenção. As despesas do homem em Paris esquadrinhadas severamente (com contas!!!)... A licenciatura da Independente... A Argentina e o Lula e não sei quê mais... O empréstimo da Caixa (mais contas!!!)... Os comentadores socráticos corridos a pontapé pelo Aguiar Conraria nas caixas de comentários... Safa, a Socratomania deste antes algo aborrecido e cinzento blogue económico está a atingir níveis de um autêntico Correio da Manhã. Eu acho que vocês não são nada professores de Economia, isso é tudo tanga!!! Isto é um blogue de heterónimos do João Miguel Tavares!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, André! Mas como tu disseste: era aborrecido, agora não é. Porque é que não aprecias a trabalheira que dá arranjar maneiras engraçadas de dar as notícias? Quase que tenho acidentes de carro quando imagino estas coisas.

      Ainda por cima, nós, economistas, temos a reputação de ser uns tipos sisudos e pouco interessantes. Andamos aqui a remar contra a maré e tu vens chover no nosso desfile, pá? Isso não se faz. Já bem basta o Thomas Carlyle ter chamado à economia a ciência dismal por causa do Malthus. O Malthus, coitado, era reverendo. Devia ter falado mais de sexo, obviamente, mas eu dou o meu melhor para corrigir este problema centenário. Eu até tive História do Pensamento Económico.

      Pensa bem no que recebes com este blogue: se eu não escrever parvoíces, como é que vais saber que uma economia minimamente desenvolvida devia garantir tampões às mulheres? E olha, tu podes sempre não me ler. Eu não te obrigo. Quanto à Cristina, Sócrates, e Lula--são factos que indicam que Portugal está em péssima companhia.

      Eliminar
    2. Hey! Eu não sou professor de Economia!

      Eliminar
  4. "Eu acho que vocês não são nada professores de Economia, isso é tudo tanga!!! Isto é um blogue de heterónimos do João Miguel Tavares!!!"

    Ah ah ah. Muito bom andré, tiveste piada. A parte boa do blogue estar mais divertido é que os comentários ficam mais engraçados também.

    ResponderEliminar
  5. A banca portuguesa é deveras engraçada a conceder crédito. Tanto tem desses créditos fantásticos, sem garantias ou contrapartidas de qualquer espécie, como exigem - sem que ninguém ache estranho - garantias que são contra-natura. Mas passo a explicar:

    A minha empresa, uma PME (sociedade por quotas "familiar") com 18 pessoas e 35 anos de mercado, é uma péssima cliente dos bancos: não recorremos por norma a crédito, não "investimos" (somos uma empresa de "serviços") nem temos necessidade de outros produtos bancários rentáveis (cartões de crédito, garantias, factoring, etc).

    No entanto temos, desde há muito, contas correntes caucionadas, por uma questão de tesouraria e por causa do Estado (leia-se, garantir liquidez quando se tem de pagar ao Estado, que esse "fornecedor" não perdoa).

    O normal nessas contas - e isto JÁ é um entorse - é as contas serem garantidas por avais pessoais dos sócios e gerentes. Sendo normal, é uma desvirtuamento da ideia de empresa de responsabilidade limitada pois, de facto e sobre o valor dessas contas, a responsabilidade dos sócios e gerentes é ilimitada até ao valor de crédito concedido.

    Mas, pior que isso e com um banco famoso da nossa praça, que se gaba de ser o "banco das PME" é terem exigido não só o meu aval, mas igualmente o da minha mulher que não tem NADA, zero, a ver com a empresa. Não é sócia ou funcionária ou o que quer que seja. Entretanto, há coisa de um mês, o referido banco comunicou-me que deixou de ser entrava porque eu os tinha informado que, se o Banco não confia em mim (melhor, na empresa), a empresa igualmente não confia e não tem interesse em trabalhar com o banco.

    Isto para dizer o quê: a exigência de garantias pessoais em empréstimos a empresas é, no meu entender, um abuso que deveria ser liminarmente proibido por lei. A ideia das empresas de responsabilidade limitada existe exactamente para evitar uma retracção excessiva do investidor, pois retira-lhe a segurança de saber o que arrisca quando se mete numa actividade.

    Dir-me-ão que assim os bancos não concedem empréstimos (os responsáveis do banco referido anteriormente disseram-me isso mesmo - ao que eu perguntei se o Eng. Belmiro avalizava todas as operações bancárias que tinha com eles). Se não querem, não concedam. Ou peçam outras garantias (como hipotecas sobre o imobilizado da empresa). Ou, em último recurso, emprestem aos sócios a título pessoal e estes podem posteriormente investir na empresa. Mas a maneira como é feito actualmente não é aceitável.

    ResponderEliminar
  6. O Carlos Duarte tocou no nervo. Isso de ao que tem um risco individual pequeno exigir garantias pessoais e ao que tem risco quase sistémico aceitar como garantia aquilo que se adquire (ex: Fino - Cimpor e Soares da Costa; Berardo - BCP,..; Ongoing - PT,...; accionistas do BPN - imobiliária; clientes angolanos do BES, etc) muito contribuiu para que tudo se escangalhasse.

    ResponderEliminar
  7. Incluindo ou excluindo, ora lá ou cá, situações como informar-se o interessado é informado que é impossível emprestar-lhe "100.000" devido à insuficiência de garantias? Problema logo resolvido emprestando-lhe o dobro sendo metade para a compra imediata de acções de certa empresa?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso também acontece(u). O presidente do Banco a cujo balcão um dia me dirigi para fazer um empréstimo à habitação e onde me ofereceram condições mais favoráveis caso comprasse, além da casa, acções do próprio banco recebe hoje 175 mil euros de reforma por mês.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.