domingo, 15 de novembro de 2015

Política de portas abertas

E assim se reforça a minha ideia de que nunca devíamos ter deixado os portugueses entrar na Europa.

Surrealismo...

O Facebook quer, à viva força, que eu mude as cores do meu perfil para reflectirem a bandeira francesa. Não posso mudar. No Líbano, na quinta-feita à noite, pelo menos 41 pessoas morreram às mãos de ataques suicidas com bombas. Sabemos hoje que o avião russo que explodiu sobre o Egipto no mês passado, onde pereceram 224 pessoas, também foi um atentado terrorista. Não é suficiente eu mudar a cor da minha foto. É necessário fazer pressão para que os governos consigam soluções diplomáticas que diminuam o risco de terrorismo para todos.

Note-se que, no caso do avião russo, o Reino Unido foi o primeiro país a cancelar os voos da Egipt Air, a 5 de Novembro, mas não se comprometeu a dizer que era um atentado terrorista na altura, apenas disse que as provas suportavam essa conclusão com probabilidade superior a 50%. Depois disso, a Rússia proibiu voos para o Egipto e ontem cancelou voos da Egypt Air de aterrar na Rússia. Os EUA disseram que não sabiam ainda o que se tinha passado. Tantas opiniões diferentes acerca da mesma coisa só nos diz que cada um trata de si e Deus trata de todos.

A impossibilidade de nações coordenarem esforços contra os terroristas é paga com vida humana. Não há colorizações do meu perfil no Facebook que mudem este facto!

Deixo-vos algumas fotos das vítimas do avião russo. A bebé na foto em baixo é a bebé que está na foto em cima, mas em cima estava na barriga da mãe. Nesse voo, 17 das vítimas eram crianças.

sábado, 14 de novembro de 2015

Os imbecis

Parece que foi encontrado  junto de um dos terroristas abatidos em Paris um passaporte de um sírio que tinha sido recenseado em campo de acolhimento de refugiados existente na Grécia. Parece também que, na sua maioria, os terroristas seriam de nacionalidade francesa. Os imbecis que acham que faz sentido usar o primeiro facto como argumento para a Europa fechar as fronteiras aos refugiados deveriam pensar que a consequência do seu raciocínio seria o absurdo de defender a expulsão da França da União Europeia. 

Ressentimento e tolerância

Há dias escrevi um post sobre o ressentimento, que para mim explica muito do que se está a passar em Portugal face ao rumo que a situação política tomou depois das eleições de 4 de Outubro. No fundo, as duas forças políticas com maior apoio nacional têm (objectivamente) razões de queixa mútuas. E, não as esquecendo, avolumam-nas quando em dificuldades ou, pelo contrário, quando estão “na mó de cima”, como popularmente se diz.

Abecedário da intolerância

Agora Brinca Com Deuses Espúrios, Faz Graçolas, Hipálages, Inquietudes, Justifica Laicismos, Mas Nunca Oculta Pentecostes, Quaresmas, Reificações, Sumidades Teológicas. Unilateralmente Valoriza Xingar Zeus.

Make into life

Ontem, só soube dos atentados quando cheguei a casa, já para lá da uma - tinha ficado sem bateria no telemóvel horas antes e a pessoa com quem estava não tem o mesmo hábito irritante de estar sempre a consultar as notícias. Fui a uma Royal Opera House lotada em todos os seus três níveis ouvir a vida de um homem resumida ao dia do nascimento e ao dia da morte. Marcaram-me particularmente duas linhas do maravilhoso texto: a primeira dita pela parteira ao ansioso pai: "your son has made it into life" (acho que ninguém congratula uma criança pelo esforço de se tornar viva - lutamos para permanecermos vivos, não para nos tornarmos vivos); a segunda dita pelo velho rapaz que conseguira nascer, lamentando-se pela morte da mulher: "she died... forever" (houve mesmo um longo silêncio entre "died" e "forever"). São duas não existências - a de antes do nascimento e a de depois da morte- iguais em tudo exceto no tempo. Somos exatamente o mesmo e decidimos o mesmo - ou seja, nada. Mas na morte isso dura bastante mais tempo.    

Depois da ópera fomos jantar a um pequeno restaurante italiano na china town, bebemos um vinho aceitável, e ainda apanhámos o último comboio. Lamentei-me profundamente por o comboio estar cheio de lads bêbedos e histéricos, demasiado para o meu gosto de fim de sexta feira. 

Os terroristas abominam a vida. Digamos que queriam a peça que vi ao contrário. Querem ser congratulados por having made it into death. Querem trocar a inconsciência, a impotência com que nos tornamos vivos, pela consciência, pela falsa sensação de controlo e sentido, com que morrem. São, sobretudo, uns chatos de merda que desprezam as pequenas coisas extraordinárias que fazemos no dia-a-dia, sem perceber que a vida é mesmo esse dia-a-dia até não haver mais dias. 

Liberté, Égalité, Fraternité


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Paris, outra vez...

Paris está sob ataque outra vez. Há mortos e talvez reféns. Não há palavras que descrevam estas coisas. Estou triste. Não é novidade para o mundo; infelizmente, acontecem coisas piores todos os dias noutros sítios. Mas é Paris, é próximo. Muitos de nós temos lá família.

Tendência estável

O pior é a volatilidade em torno da tendência...

"in tatters..."

Uma das newsletters de investimento diárias diz "the government in Portugal is in tatters..." É isto que os fundos de investimento, os bancos, os analistas de dívida, etc. estão a ler neste momento. Em frangalhos!!! Estamos em frangalhos depois de António Costa, o segundo megalomaníaco a liderar o PS numa década, nos ter dito que só derrubaria o governo se tivesse uma alternativa credível e estável.

Obrigada por nada, António Costa e PS.

A DBRS agradece a publicidade...

Feminismo

Houve quem achasse o meu post sobre o comentário de Pedro Arroja às senhoras do BE como sendo mau feminismo. Independente das ideias das mulheres do BE, elas têm o direito de defendê-las. Achei muito má a postura do Pedro Arroja: ele tem o direito de refutar as ideias delas; revelar que estas mulheres não lhe dão pica é informação a mais e não nos diz nada acerca das ideias das senhoras do BE. Mas ele não foi inovador: dizer a uma mulher que ela é menos desejável sexualmente por causa das ideias que tem é uma técnica muito comum para intimidar as mulheres e as mandar calar: "Eras mais gira se estivesses calada, ó 'mor!".

Por outro lado, também não gostei da reacção das mulheres do BE. Se um homem me insulta, eu não acho bom exigir desculpas. Porquê? Porque se está a dizer aos homens que podem insultar-nos à vontade, pois, se depois pedirem desculpa, tudo ficará bem no universo. Acham que é isto o que eu quero para mim e para as outras mulheres? Eu quero poder abrir a boca e falar à vontade sem ser insultada.

Se os Pedros Arroja do mundo querem revelar a toda a gente que quando ouvem uma mulher, estão a pensar se vale a pena levá-la para a cama, não é o que elas dizem que lhes interessa, isso diz mais acerca do bigotismo e imbecilidade desses homens do que das mulheres que são alvo desses comentários ou das suas ideias. Por isso, mulheres, exigir desculpas de homens assim é dar-lhes a oportunidade de eles se safarem ficando bem, quando o que nós queremos é que eles deixem de ser estúpidos.

Para a próxima, enviem ao senhor um ramo de rosas com uma nota tipo: "Estas são bonitas e não são esganiçadas, mas cuidado quando as levar para a cama: os picos talvez não dêem muita pica."

Este é o meu feminismo.

Isto é um assalto!

Na sessão plenária de aprovação na generalidade do Orçamento do Estado para 2014, eu estava sentado junto da bancada do BE. Uma deputada do BE clamava que o OE para 2014 era um roubo aos funcionários públicos, um assalto! No dia anterior eu tinha recebido o verbete de vencimento com o valor do subsídio de férias. Virei-me para o meu colega do Ministério das Finanças, que estava do meu lado direito, e disse-lhe: “Sabes, ontem quando vi o meu verbete de vencimento pensei algo parecido com o que a deputada está a dizer”. A primeira reacção dele foi ficar muito sério, mas depois, claro, riu-se.

Uma história semelhante passou-se em 2014, aquando da suspensão dos cortes salariais pelo Tribunal Constitucional, entre maio e setembro. Numa das reuniões mensais de análise da execução orçamental com os dirigentes máximos dos serviços do Ministério da Administração Interna o ambiente estava mais distendido do que era habitual. Comecei a reunião por referir que nos encontrávamos numa situação ambivalente: por um lado, estávamos todos mais bem-dispostos graças à reposição dos salários; mas, por outro lado, esse aumento salarial colocava-nos sérias dificuldades em termos de execução orçamental. Os semblantes ficaram todos mais fechados.

Os cortes salariais não são ideológicos. Os cortes salariais foram impostos pela realidade da situação das finanças públicas, e anunciados em 2010. É verdade que a realidade mudou/melhorou muito nos últimos anos. Mas, infelizmente, não mudou tanto como Mário Centeno pensa (ou deseja). 

Re: Tudo sobre rodas

O Fernando achou meio esquisita a entrevista de Mário Centeno. E considera duas hipóteses de trabalho para explicar aquela entrevista. Não me parece que o Fernando tenha razão. A verdade é bem mais prosaica. Centeno disse o que disse porque se fosse honesto BE e o PCP retirariam o apoio ao Partido Socialista e já não havia governo. Tão simples quanto isso.

Sem dinheiro, não há centro nem consenso

Vasco Pulido Valente escreve hoje na sua crónica no "Público" que não lamenta a “desaparição do centro”. E conclui: “em Portugal não é o consenso que produz prosperidade; é a prosperidade que produz consenso. Se houver evidentemente quem nos dê dinheiro.” Infelizmente, os factos parecem confirmar a tese. Enquanto a “Europa” nos deu dinheiro a fundo perdido, houve centro e consenso. Agora que é a própria Europa a mandar-nos cortar na despesa lá se foi o centro e o consenso.