quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Um oitavo de polegada

Ontem de manhã telefonou-me uma amiga que votou no Trump e que eu tenho evitado porque não sei o que pensar. Não sei se deva ter pena ou se deva ficar zangada com estas pessoas. Tentei ser seca e evasiva, até que ela me perguntou da economia e eu não me contive e disse que achava que estavamos prestes a ter uma crise enorme. Ela responde que não, que acha que as taxas de juro até vão baixar. Claro que não, disse eu, porque a política de comércio internacional de Trump é inflacionista. Ah mas o Trump vai acabar com o desperdício, responde-me.

É verdade que há desperdício, mas o governo federal também gasta imenso dinheiro em controle de desperdício; aliás o custo de encontrar e controlar desperdício no governo federal é mais alto do que o desperdício que ocorre e que se evita. Nesta administração, acha-se que o remédio para se eliminar desperdício é parar tudo: já se começou a despedir a função pública e a suspender gastos em investigação, daqui a umas semanas é quase certo que nem toda a gente irá receber pensões, nem apoio financeiro para gastos médicos ou educação ou apoio a aquisição de casa, nem que se possa contar com o governo para assistência em caso de catástrofes naturais, etc. Ou seja, está a demantelar-se todo o sistema de controle de risco e de estabilização da economia americana que foi criado no último século.

Soltei os cães na minha amiga. Como é possível ainda no outro dia ela me ter perguntado porque é que não há investigação médica para certas doenças de mulheres e ela votar num traste como o Trump, é a terceira vez que vota nele, não me pode dizer que não gosta do homem. Só que não gostava do Biden e será que eu achava melhor que ela não votasse. O Biden não era o candidato, respondi-lhe, eu também não gosto dele e não votei nele nas primárias. Mas ela também não gostava da Kamala e não gosta do Trump, mas o Trump era um oitavo de polegada (3,18 mm) melhor do que os outros e vai tudo correr bem.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O elefante e a porcelana

Há uma expressão em inglês da qual gosto muito: an elephant in a china shop, i.e., um elefante numa loja de porcelana. É isso o que os primeiros dias da segunda Administração Trump têm sido. A forma como se está a atacar o funcionamento do governo federal é completamente desastrosa. As pessoas que elegeram Trump não têm noção do papel do governo federal na economia e na vida dos americanos. É de propósito que há uma certa obscuridade acerca de como as coisas funcionam, mas também há um nível de ignorância que roça a estupidez, como ilustra o facto de ser comum ver em manifestações de pessoas anti-governo ver cartazes com "Stay out of my Medicare", como se o Medicare, o programa que fornece seguro de saúde aos reformados americanos, fosse um programa divino que tivesse caído do céu e não um produto do governo federal.

Não se pode dizer que o governo deferal seja um governo perfeito, mas não é a incompetência que dizem que é e nem sequer serve apenas os americanos. Os funcionários públicos dos EUA, no geral, são das pessoas mais prestáveis e com sentido de missão. Muito deles foram voluntários em programas como o Peace Corps, em que foram para outros países para trabalhar com pessoas desfavorecidas, aprenderam outras línguas, fizeram amigos de outras culturas, etc. Nos EUA, quase ninguém sai da escola e consegue um bom emprego se não demonstrar ter uma consciência social. Isto apesar de o resto do mundo ver os americanos como uns capitalistas selvagens, sem ponta de dever cívico.

Talvez a melhor forma de ver como o resto do mundo beneficia do que os EUA fazem e estão a deixar de fazer seja mesmo suspender tudo e atirar o país e o resto do mundo para o caos. Na primeira vez que Trump governou, houve oposição que apenas impediu que as pessoas vissem as verdadeiras consequências do que Trump propunha e niguém aprendeu a lição, logo talvez assim consigamos sair deste tipo de "groundhog day". Não vai ser um processo agradável, mas dá para ver que há pessoas que vão acabar bastante mal e não acho que sejam os coitados do costume.

E quem vai salvar o país? Obviamente que vai ser o sistem financeiro, tal como aconteceu quando a Administração Bush passou anos a abusar do poder. Talvez as pessoas já se tenham esquecido do caso de Valerie Plame, por exemplo, uma agente secreta da CIA cuja identidade foi revelada por motivos políticos pelo gabinete do VP Dick Cheney. E claro, a invasão do Iraque, e outros episódios mais. Na altura, o mundo ergueu-se contra os EUA, mas se não tivesse havido o crash de 2008, duvido que o mundo tivesse ficado melhor. Aguardemos o crash.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Uma semana que vale anos

Começámos a semana com notícia de que os pagamentos do governo federal estavam congelados, mas passado um dia Trump teve de mudar de ideias. O General Mark Milley, que se opôs a Trump durante o primeiro termo, irá ser investigado e provavelmente vai ser despromovido. Depois veio a notícia na Quarta-feira de que os funcionários públicos federais tinham recebido um e-mail com um convite para se reformarem; funcionou tão bem com o Twitter, que o Musk repetiu a dose. Nessa noite, deu-se o acidente aéreo que pasou para o primeiro plano das notícias ontem.

Entretanto, as audiências já retomaram o foco em Trump: os agentes do FBI que tenham estado envolvidos em investigações relacionadas com Trump vão ser despedidos. Foi também anunciado que amanhã é o início oficial da nova guerra comercial; os alvos serão a China, o México, e o Canadá. Há uns minutos também saiu a notícia que o Justive Department despediu os "prossecutors" envolvidos na investigação do golpe de 6 de Janeiro de 2020. E ainda temos mais umas horinhas antes de terminar Sexta-feira.

O Warren Buffet já mudou o portefólio para dinheiro e mandou as acções à fava por uns tempos. Está à espera que o mercado entre em saldo, o que me parece não ter de demorar muito.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Nem com capa se escapa

Ainda não completámos o terceiro dia da segunda administração Trump, mas já se nota que é diferente da primeira. Em vez de oposição, há uma certa resignação de que temos de aguentar com a peça até ao final do termo. Como ele tem o Congresso, a maior oposição irá vir dos estados e das cidades. Se ele conseguir passar cortes de impostos e despesa, os mais afectados, negativamente, diga-se, serão os estados que votam no Partido Republicano porque são os que crescem menos e recebem mais transferências do governo federal. Mas por vontade da fortuna, Los Angeles, devido aos incêndios, terá de pedir ajuda ao governo federal para a reconstrução e decerto que Trump se rogará.

Os incêndios de Los Angeles poderão dominar esta presidência dada a escala da tragédia e o facto de as perdas para as seguradoras serem bastante significativas, logo haverá transferências da indústria seguradora [os hubs da indústria seguradora nos EUA são Des Moines (Iowa), Hartford (Connecticut), e Phoenix (Arizona), mas indirectamente gente de todo o sítio porque há instrumentos financeiros ligados a estas apólices cujo objectivo é mesmo esse: dispersar o risco] para as vítimas na Califórnia. O mais provável é que, depois de receberem as indemnizações, muitas das vítimas irão aproveitar e sair da Califórnia. Algumas ficarão nos EUA, mas outras poderão sair do país. E isto a juntar aos que sairão porque não querem viver nos EUA de Trump.

A juntar a isto, Trump parece estar interessado em promover as indústrias da inteligência artificial e a das criptomoedas, logo podemos contar com uma ou duas bolhas que devido ao efeito acelerador de Trump ainda devem estourar durante o seu mandato. Pessoalmente, não sou fã de nenhuma destas duas indústrias, mas não há como escapar.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Um caco, mas...

Há mais de 20 anos que não passava tanto tempo em Coimbra, que continua um completo caco. A minha mãe achava que era uma cidade belíssima, mas o fado diz que o seu encanto é maior na hora da despedida. Efectivamente, não penso que é o sítio que é encantador, mas talvez a ideia de lá se ter estado ou, no meu caso, cresci lá quando ainda havia coisas bastante bonitas, mas eu tenho um imenso fraco por espaços verdes e lembro-me de ir com o meu avô passear pelo parque à beira rio para andar nos baloiços e sentir-me super-orgulhosa de conseguir manter o baloiço em movimento sem ajuda dos adultos. Devia ter uns três ou quatro anos.

Nota-se que os actuais residentes também fogem da cidade: pouca gente anda pela Baixa e os sítios mais dinâmicos são ao pé de centros comerciais estilo americano, que ficam no que antes eram arredores. Não sei se alguma vez voltará a ser uma cidade com uma Baixa a sério, mas tenho especial apreço pela Loja das Meias que ainda não desistiu da sua localização na R. Ferreira Borges.

É um bocado misterioso como é que, num país e cidade com tantas regras e impedimentos legais, é possível haver uma cidade sem qualquer planeamento urbano. Os prédios são erigidos ao calhas, os espaços verdes são insuficientes ou inexistentes e os que existem não servem qualquer função para além de ocupar espaço. Os jardins de outrora como o Parque Manuel Braga à beira rio ou o Jardim da Sereia continuam uma sombra do que já foram. Também se destruíram os canteiros no Largo da Portagem, e os da Avenida Sá da Bandeira idem. A calçada está danificada em vários sítios, por exemplo, na R. Lourenço de Almeida Azevedo, algumas almas empreendedoras decidiram colocar cimento a tapar alguns dos buracos das calçadas.

Depois, continua-se com a circulação rodoviária na Baixa da cidade completamente ilógica. Deus nos livre de haver um acidente grave ou um incêndio na Baixa porque os carros de bombeiros e ambulâncias demorarão mais do dobro do tempo necessário a chegar ao local do sinistro. Claro que talvez tentem salvar as vitimas indo em sentido contrário, se tiverem espaço.

Mas houve algum progresso. Finalmente, os prédios à beira rio cuja obra estava há décadas embargada foram terminados, um absurdo ter demorado tanto tempo a resolver o assunto. Também parece que vai haver mesmo um metro que afinal é uma carreira (não tem nada a ver comigo) de autocarros porque não há dinheiro para fazer um metro a sério, apesar de se ter andado a estudar o assunto há décadas com gente muito bem paga.

E, finalmente, há um Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, criado em 2020, ao pé do Arco de Almedina. Gostei bastante da ideia, só é pena quase ninguém o visitar porque passa despercebido, mas dizem que está num espaço temporário. Idem para o Museu Municipal de Coimbra -- Edifício Chiado, mesmo ao pé, mas a esse vou lá sempre que passo pela cidade porque alguém tem de apoiar a iniciativa e é um sítio simpático para além de ser um edifício bastante icónico da Baixa de Coimbra, desenhado pelo atelier do Eiffel. Misteriosamente, para entrar nestes dois estabelecimentos tem de se pagar com cartão multibanco português ou dinheiro porque a máquina não aceita cartões estrangeiros.

Sim, é uma cidade universitária, mas talvez na era da inteligência artificial consiga untrapassar os limites da natural.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Auspícios

No dia de Ano Novo, o meu pai teve um AVC enquanto estava no hospital. Antes do Natal, foi admitido com perda de sangue no colon, e devido a isso tinha anemia. Com o tratamento para parar a perda de sangue, ficou com níveis de glicémia altos porque é diabético. Entretanto, começou a ter dificuldade em respirar, e suspeitei que estivesse com pneumonia, o que se confirmou. Pouco tempo depois, começou a não conseguir falar e a ficar paralizado do lado direito do corpo, até que lhe foi diagnosticado um AVC. Quando a minha irmã me deu a lista de condições fiquei satisfeita, parecia-me um diagnóstico razoável para o que nós tinhamos observado. Então comprei o bilhete de avião no dia 2 de Janeiro, fiz os preparativos no trabalho para me ausentar, mas continuar a trabalhar parcialmente de Portugal, parti no dia 4, cheguei a Portugal no dia 5 de manhã e visitei o meu pai de tarde.

Em termos de trabalho, os dias 5-12 do mês costumam ser os piores e nunca planeio nada pessoal para esta altura, mas Janeiro é um mês mais lento e, ao contrário de muitas pessoas, apesar de o meu trabalho ter algum stress, também é uma forma de eu relaxar e quase meditar. É basicamente uma metodologia para lidar com incerteza, que me permite a ilusão de controlo e de redução de ansiedade. Dá jeito ter um escape diário assim, especialmente quando a nossa vida pessoal se vira de pantanas.

Antes de ver o meu pai, não sabia se era necessário falar com ele e dar-lhe permissão para morrer, mas quando o vi achei que continuava com votade de viver. Estava com um aspecto péssimo, parecia uma múmia, com os músculos da cara distorcidos, o corpo encolhido, não conseguia fechar a boca. Falei com ele normalmente e tentei relaxá-lo, não demonstrei estar chocada com a sua aparência. Não era construtivo. Ao fim de meia-hora de conversar com ele, a cara já estava mais relaxada e a parecência física já estava a retornar. Ao despedir-me deixei-lhe instruções de que dependia dele o que iria acontecer a seguir. Nessa altura, ele ainda estava em estado crítico e não era claro se iria sobreviver.

Na Segunda-feira, estava muito melhor e fiquei mais descansada porque já estava fora do período crítico. Não sei se pareço ou se sou insensível, mas nesse dia trabalhei até à meia-noite e estava tão cansada que foi fácil adormecer apesar do jet-lag. Também não gosto da emocionalidade destas situações, sempre me incomodou desde que me conheço.

Os meus colegas de trabalho foram super-atenciosos, recebi mensagens da Turquia, Brasil, EUA, a perguntarem se estava bem, se havia alguma coisa que poderiam fazer por mim. Quando ainda não sabíamos que o meu pai tinha pneumonia, disse a uma colega americana pelo Teams a minha suspeita e ela imediatamente perguntou-me se ele estava mais para o sentado do que o deitado e eu dei instruções à minha irmã pelo WhatsApp para levantar a cama. Quase de instantâneo, o meu pai conseguiu respirar melhor. Essa minha colega é mais velha do que eu e o pai dela tem mais de 90 anos, mas ainda está operacional e em melhor forma do que o meu que só tem 80.

Até agora, temos tido imensa sorte, pois apesar de no Natal e Ano Novo haver poucos médicos e enfermeiros a trabalhar (também havia uma greve), todos foram atenciosos, pacientes, e abertos às nossas dúvidas e perguntas. Quando perguntei a uma enfermeira se dava para fazer um raio X aos pulmões ela disse que só um médico o poderia pedir e pouco tempo depois o médico apareceu e falou com a minha irmã. No dia seguinte, quando voltei a ver o meu pai por videoconferência, ele já estava medicamentado para a pneumonia. Alguns dias depois, no último dia que o vi antes de regressar aos EUA, eu e a minha irmã achámos que havia outra coisa nova, talvez uma infecção urinária ou algo parecido e voltámos a falar com o enfermeiro de serviço a quem expressámos a nossa preocupação e no dia seguinte, já estava a ser medicamentado para uma infecção na próstata.

Convenhamos que o factor sorte é enorme e quando há tanta coisa a "avariar" ao mesmo tempo começa a tornar-se muito difícil apanhar tudo. Nas notícias, é comum ver-se notícias do que falha, as coisas que correm bem não merecem a mesma atenção. Mas também é uma questão de preparação da família. Por acaso, há anos li um livro chamado "How We Die" que relata algumas das formas em que o nosso corpo falha levando-nos a morrer. Esse livro ajudou-me a compreender a doença da minha mãe na altura e agora também me ajuda com o meu pai, quanto mais não seja, para ter alguma bagagem para poder conversar com os médicos e enfermeiros de forma mais informada.

Para mim, é impossível não pensar na minha mortalidade quando confrontada com a mortalidade dos meus pais, mas desde há muito que tenho tendências mórbidas e que me tenho preparado para o inevitável. A meu ver, era importante ter recursos suficientes para que os meus pais pudessem ir para um lar ou se precisassem de cuidados mais especializados. Mesmo assim, não foi perfeito e agora acho que teria sido importante que o meu pai tivesse tido algum tipo de fisioterapia enquanto estava no lar e eu não arranjei isso. E, nos últimos meses, quando falei com ele ao telefone e ele me dizia que estava com dificuldade em falar, não suspeitei que houvesse algo a acontecer no seu cérebro. Mas pronto, talvez essa lição seja importante para mim própria daqui a uns ano -- só que eu sou péssima a pedir ajuda, ainda tenho muito a aprender.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

10 anos

Comecei a escrever aqui há 10 anos. No início achei uma ideia intrigante, mas também problemática porque não achei que tivesse algo a dizer. Surpreendemente, apareceram coisas, umas mais importantes do que outras e algumas, as minhas preferidas, são as mais engraçadas. Neste período, perdi os meu três pugs, e uma das minhas amigas mais antigas, a Sónia, que tinha conhecido em 1997, quando me mudei para os EUA. Ainda não me refiz do choque de a perder e frequentemente "falo" com ela, como se ela estivesse comigo.

A maior diferença que sinto desde então é a realização de que as coisas que eu esperava para o mundo e para Portugal não se irão concretizar durante a minha vida ou sequer alguma vez. Cada ano que passa, é mais claro de que estamos num rumo perigoso, talvez porque a geração que viveu as guerras mundiais está a morrer e as novas gerações não têm noção do equilíbrio ténue que é preciso ser feito para manter a paz. Os direitos das mulheres estão a retroceder ou a não avançar e frequentemente penso quão agradecida estou de não ter filhos.

Hoje celebra-se a última noite de Hanukkah e, desta vez, acendi as velas durante os oito dias. É um exercício que para mim não é religioso, pois não sou crente, mas é dos poucos rituais que gosto de efectuar porque sinto imensa paz. Há três anos, quando a saúde da minha vizinha Birchie piorou e não sabíamos se ia sobreviver, acendi as velas a maior parte das noites como forma de lidar com a limitação de pouco ou nada poder fazer para ajudar. Também este Hanukkah tem sido inquietante porque a saúde do meu pai piorou e hoje a primeira coisa que fiz assim que acordei foi ligar o telefone para ver se tinha alguma mensagem a dizer que não tinha sobrevivido a noite.

Já há alguns dias que tinha um pressentimento de que algo não estava bem. Hoje passei parte do dia a negociar comigo própria acerca de como proceder em relação a o ir visitar. Parte de mim acha que se o for ver, ele pode ver isso como permissão para morrer; outra parte, acha que se morrer já não sofre mais; mas também há a possibilidade que, se eu o visitar, ele ainda melhore e adiamos a morte mais um tempo. É por estas e por outras que a minha mãe dizia que eu era tão lenta que era boa para ir buscar a morte.

A última vez que fui a Portugal vi a Sónia pela última vez, e este episódio com o meu pai tem me dado alguma sensação de déjà vu.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

De quatro a dois

"No one's picking up the phone. Guess it's me and me.

And this little masochist, she's ready to confess,

All the things that I never thought that she could feel"

~ "Hey Jupiter," Tori Amos

Há coisa de um mês, demiti-me da Home Owner's Association, a associação de moradores da minha vizinhança. Tinha-se tornado num exersício demasiado teatral, o que me corroia a alma. As minhas funções eram a de tesoureira e de autora do boletim de notícias da vizinhança. Os meu objectivos eram bastante básicos, mas também ambiciosos. Por um lado, quis ser tesoureira porque achei que seria uma função bastante tecnocrática e imune a dramas; por outro, a escrita do boletim permitia-me mensalmente comunicar com os vizinhos de forma mais humana e mais conduciva à criação de uma comunidade--era como se eles recebessem uma carta mensal de um amigo. Em ambos os esforços tive sucesso, mais do que os que me antecederam, mas tal teve mais do que um preço.

Nas últimas vezes que escrevi aos vizinhos, achei que a tarefa se estava a tornar penosa e o prazer que antes sentia tinha-se esmorecido; no entanto, sempre que conversava com os vizinhos do sítio, especialmente as vizinhas, todos adoravam o boletim de notícias. Sempre que o recebiam, ansiavam por lê-lo, por vezes, mal podiam esperar assim que o recebiam. Mas tirava-me um pouco a vontade de escrever noutros sítios e, perante um presidente da associação de vizinhos medíocre e controlador, sem apreço pela escrita e que por fim achei ser uma pessoa má, achei por bem desistir. O masoquismo não tem sido o meu forte ultimamente e sentia que não podia ter tanto contacto com uma pessoa de tal estirpe.

Depois há também o detalhe de a idade ser ingrata e passar muito tempo em frente do computador ou telemóvel a escrever ou a tirar e apreciar fotos não ser o melhor para a saúde dos meus olhos. Então desisti e, depois, quando fui à consulta bianual de oftalmologia veio a confirmação de quefiz bem porque a minha visão estava a deteriorar-se, especialmente o meu olho esquerdo--a esquerda deixa sempre muito a desejar, constato. A visão ao perto esvai-se, mas, felizmente, ainda dá para ver bem ao longe, o que me permite apreciar os poucos planetas e estrelas que escapam à poluição luminososa da cidade. Este mês, com a cooperação da meteorologia, deu para ver Júpiter brilhante tal qual uma estrela.

Há uns tempos estava no Dubai com uns colegas e calhou olhar para o céu e não reconhecer as estrelas que via. Puxei do meu telemóvel e usei uma app para idenitificar o que via. Um colega meu chinês gostou muito da app e pediu-me o nome. Na próxima vez que estivemos no Dubai pediu-me outra vez o nome da app que uso porque tinha mudado de telefone e não tinha transferido a dita. É a Sky Guide. Não vivo sem ela, ainda por cima tem uma música muito cativante.

Ultimamente, tenho sentido alguma proximidade com Júpiter porque estou a frequentar uma aula de literatura em que lemos a Eneida de Virgílio, e Júpiter aparece frequentemente. Não acho grande piada a Eneias, aliás, acho-o um autêntico traste, mas Júpiter gosto, apesar de como deus estar bastante aquém, mas que Deus não está? Talvez o Hey Jupiter da Tori Amos, tema que me agrada bastante, seja o que me faz gostar dele.

O tempo tem estado menos frio e à noite, esta semana, tenho ido para o jardim olhar para o céu. Daqui a uns dias, os meu óculos novos, progressivos, que supostamente irão diminuir a frustração que sinto com a deterioração da visão, estarão prontos. Tenho medo que não dêem para ver as estrelas tão bem, mas, por enquanto, dá sempre para abandonar os quatro e regressar aos dois olhos originais. Merda da idade...

domingo, 22 de dezembro de 2024

Homem bom, homem mau

A periodicidade de ir ao dentista fazer a manutenção dos dentes (limpeza) é seis meses porque, pelos ditames do seguro de saúde, só pagam duas limpezas por ano, mas tais limpezas têm de ser espaçadas exactamente como o seguro quer e não pode ser exactamente meio ano, tem de ser meio ano e um dia, disseram-me. E disseram-me porque a limpeza que fiz em Maio, que foi feita meio ano e um dia após a de Novembro foi rejeitada. Não liguei muito à decisão no início e nem sequer contactei o dentista, nem submeti um pedido de re-avaliação da despesa, o que é completamente contra o que se deve fazer nos EUA. Aqui quando há alguma coisa incorrecta, deve-se contactar a entidade e o normal é a coisa ser resolvida por alguém, mas sejamos honestos que por vezes não é resolvida.

Quando recebi a conta, estava atarefada no trabalho e pensei que não me apetecia tratar do assunto, como se os minutos que iria perder fossem mais preciosos que os $135 que me pediam. No entanto, não fui completamente "desleixada" porque ainda telefonei à seguradora e disseram-me que tinha de telefonar para outro número, e também enviei um email à senhora dos Recursos Humanos a expor a situação e ela reencaminhou o meu caso para a representante que trata com os seguros, que, tal como eu, não percebeu a razão de não aprovarem a despesa por casusa do tal meio-ano e um dia que estava a ser respeitado. Pedi que me enviasse as regras e as regras não diziam nada acerca da periodicidade exacta, apenas que não podia ser mais do que duas limpezas no espaço de um ano.

Vou confessar a que o meu cérebro tende a entrar em labirintos facilmente em situações destas porque começo a contemplar o tamanho dos meses e, se calhar, a culpa é de Fevereiro ser um mês curto e coisas assim. Com muito esforço, arrumei os macacos no sótão, que depois falava com o dentista para não me estar a chatear mais, dado que o apelo tem de ser feito por carta enviada por correio físico, não há um formulário na Internet, nem sequer um número de telefone que se possa chamar. Só falta pedir que a coisa seja feita em papel azul de 25 linhas com um selo, como muitas coisas se fazia quando eu morava em Portugal.

Neste passado Novembro, fui outra vez ao dentista e falei com a gerente do gabinete que me disse que aquela rejeição não fazia qualquer sentido e que ela ia contactar o seguro outra vez. Sugeri que se calhar devia ter feito o tal pedido de re-avaliação e ela achou que sim. Ia para o fazer, mas tinha de ser submetido 180 dias depois da decisão da rejeição e o prazo já tinha passado.

Andava eu meia chateada com a seguradora, que por acaso é a United Healthcare, quando o CEO foi assassinado e olha que coincidência interessante, que ele não tinha perdido pela demora. Um amigo meu até me enviou uma mensagem a dizer que a United Healthcare era a seguradora que rejeitava mais benefícios, cerca de 32% dos pedidos ou seja um em três. Julguei que, se calhar, tinha negado benefícios a alguém que precisava e fora essa a razão do atentado. Passam-se dias e o caso desenrola-se, mas o motivo acabou por não ter nada a ver com um caso específico de rejeição de benefícios, o que me desagradou. Ainda por cima a avó do presumido autor do crime tinha uma cláusula no testamento em que deserdava a família se houvesse um crime.

Entretanto, os americanos entraram em parafuso, como é normal: iniciaram uma campanha de angariação de fundos para o presumido autor, preocupraam-se com o bem-estar do dito porque a foto da polícia mostrava-o com uma aparência desfavorável, há quem se tenha apaixonado por ele, quem tenha ficado muito feliz, quem lhe tecesse elogios, etc. E claro que, como eu, muitos acham que o CEO não tinha perdido pela demora. Com uma opinião pública tão favorável ao presumivel autor não me admiraria que ele fosse absolvido e senti um enorme desconforto em pensar que um rapaz ainda tão jovem que tenha cometido um crime destes pudesse andar por aí à solta, mesmo sendo bem-parecido e ter levado desta para melhor o CEO da seguradora que não quer pagar a limpeza dos meus dentes.

Mas, verdade seja dita, quando vou à consulta médica anual e me mandam fazer uma ecografia ao peito porque a mamografia é inconclusiva, a United Healthcare paga a conta da ecografia. A seguradora que eu tinha antes, a Blue Cross Blue Shield, não pagava porque a ecografia não era considerada parte do pacote de cuidados anuais necessários e lá tinha eu de pagar os $900. Note-se que Blue Cross Blue Shield só rejeita 17% dos pedidos de comparticipação, se calhar porque o CEO é melhorzinho do que o da United Healthcare.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Os cómicos

Em resposta à proposta de lei de financiamento adicional da despesa federal negociada pelo Porta-Voz Johnson, Trump e Vance acham que não deve ser passada sem incluir um aumento do limite da dívida pública, dado que o actual fica inválido daqui a uns meses. Já Ramaswamy e Musk acham que a lei está cheia de "pork", quer dizer, despesa desnecessária. Musk diz mesmo que é uma lei criminosa."

A malta ainda nem entrou em funções e já está em desacordo. Será que Trump entra em funções com o governo paralizado? Em Janeiro de 2019, quando Trump era Presidente, o governo federal ficou sem financiamento durante cinco semanas e foi uma enorme confusão.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Coitados deles e de nós

Num dos almoços desta semana, calhou conversar com uma conhecida (apoinate de Trump) cuja irmã foi recentemente ao médico--são americanas. A novidade foi que a irmã descobriu que tem problemas graves na tiróide e nos níveis de hormonas, o que lhe causa excesso de peso, cansaço, perda de cabelo, etc. Finalmente sabe a razão de muitos dos problemas que tem porque arranjou um emprego que tem seguro de saúde, o que lhe permitiu ir ao médico.


Fiquei um pouco frustrada com a história e perguntei por que não tinha ido ao médico há mais tempo. Disse-me que só agora é que tinha tido acesso a um emprego com seguro de saúde. E perguntei porquê nao ter comprado um seguro de saúde antes e respondeu que o seguro de saúde era muito caro. Ora depende porque há seguros para todos os gostos. Há programas federais que subsidiam o acesso a seguro para pessoas sem rendimento e que são mais em conta, há empregos que oferecem seguros mais baratos que são chamados de catastróficos que compensam caso a pessoa seja saudável e só precise em casos excepcionais, mas há também seguro normal, cobrindo condições pré-existentes, e que custa menos de $200 por mês para o empregado.


O sistema é complexo, mas dá para tudo e a vantagem é que para quem é saudável acaba por ser mais barato do que um sistema de saúde europeu e os americanos acham que um sistema assim constitui um incentivo para as pessoas prestarem mais atenção à sua saúde e escolherem estilos de vida mais saudáveis. E depois sendo mais barato, as pessoas podem poupar o dinheiro para terem quando ficam doentes e precisam de ir ao médico. Isto é o que eles dizem, mas não é o que fazem.

Depois me pergunta se não seria bom que o meu emprego oferecesse seguro de saude para o meu cão. Eu disse que não queria seguro de saúde para o cão. Quando o meu cão vai ao médico, a decisão é feita com base no que é bom para a saúde do cão e, no meu caso, não há grandes restrições financeiras. A verdade é que o meu cão tem acesso a melhores cuidados de saúde do que as mulheres nos EUA. Depois acrescentei que tive seguro pelo Obamacare e não foi caro, custava menos de $400 por mês sem subsídio. Ou seja, não disse, mas pensei que, se a irmã não tem seguro, é porque não se sabe orientar. Há imensa gente que chega aos EUA sem sequer falar inglês e desenvencilha-se melhor do que a irmã.

Ao longo da conversa tambem fiquei a saber que a apoiante do Trump, que é fumadora, tinha acabado de comprar roupas de inverno pelo Shein, apesar da política do Trump ser anti-China. Ou seja, postulam uma coisa e fazem exactamente o contrário mas nao têm culpa no cartório.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

A queda de dois anjos

A ilusão que Biden era um dos melhores presidentes dos EUA que tinha uma economia a bombar, o mercado accionista a quebrar records (bateu 50 records até 8 de Novembro, a sério!), etc. dissipou-se na bruma, tal qual um D. Sebastião. Afinal, dizem alguns, aquele bocadinho de inflação foi fatal, mas isto merece um pequenino à parte.

(Quem andou em economia há 35 anos, deve lembrar-se daquela ideia de que nos EUA havia pouca tolerância para desemprego por causa da Grande Depressão nos anos 30 do século passado e, na Alemanha, havia pouca tolerância para a inflação por causa da hiperinflação da República de Weimar há 100 anos. Por isso nos EUA, o mandato da Reserva Federal era duplo, desemprego e inflação, enquanto que o mandado do ECB, que foi bastante moldado pelas preferências alemãs era principalmente um de controle de inflação. Durante a presidência de Biden, o desemprego americano atingiu o nível mais baixo de há 54 anos em Fevereiro de 2023, mas agora está mais alto.)

Biden é parcialmente responsável pela inflação, dado que as políticas fiscais expansionistas que implementou quando subiu ao poder não eram necessárias numa economia em franca recuperação, mas houve um outro efeito que o eleitorado costuma dizer ser desejável, pois com estas políticas houve redistribuição de riqueza: diminuiu a pobreza infantil, reduziram a dívida de educação dos jovens, foi generoso nas políticas de imigração e muitos imigrantes sem documentos ficaram legalizados, etc. Quem agora aponta os dedos aos Democratas por não redistribuirem está enganado. Até porque muitos dos estados que votaram contra os Democratas são os que recebem mais fundos do governo federal, logo são os que mais beneficiam de ter um presidente associado ao Partido Democrata.

Quase ninguém se recorda que em 2021 e nos primeiros meses de 2022, a maior parte das pessoas não estava grandemente incomodada com a inflação; pelo contrário, por exemplo, as casas na minha vizinhança vendiam-se numa questão de horas e havia filas de carros a rondar à espera que mais fossem colocadas para venda. Os contratos de compra e venda fechavam em três semanas e achava-se normal tanta anormalidade.

Caiu finalmente a ficha em Janeiro de 2022, dias pós o S&P 500 atingir um pico máximo, quando a Reserva Federal anunciou que ia começar a aumentar as taxas de juro e, em Março desse ano, as taxas de juro subiram. O mercado imobiliário travou e o S&P 500 entrou em parafuso e e teve uma queda de 18% em 2022; a última vez que o S&P 500 tinha levado um tombo sério tinha sido em 2008, quando perdeu quase 37% depois de atingir o pico em 28 de Agosto de 2008. (Foi nesse Novembro que se elegeu o Obama.) Apesar da bolsa ter mais do que recuperado em 2023 e 2024, o sentimento de euforia não mais regressou.

A seguir a esta eleição, vislumbrou-se algum entusiasmo na bolsa com a perspectiva de Trump continuar o seu projecto de liberalização da economia, mas parece ter sido apenas um efeito especulativo temporário. Até Trump perdeu o encanto aos olhos dos capitalistas.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Dejá Vu

Passadas quase duas semanas desde as eleições, já estamos na fase de apatia. A primeira vez que Trump foi eleito, o choque foi bastante maior; agora apenas se sentiu a confirmação de algo de que já se suspeitava. Um dos meus vizinhos que votou em Trump dizia-me hoje que estas eleições eram prova que a América tinha uma boa democracia porque Biden teve o voto popular há quatro anos e agora foi a vez do Trump. Ou seja, vai à vez e cada lado tem pouco tempo para fazer grandes estragos.

As pessoas têm a memória curta, mas vale a pena um sumário do primeiro mandato de Trump que começou em Janeiro de 2017:

  • o Furacão Maria, em Setembro de 2017, com quase 3 mil mortos em Porto Rico, e cuja reposta foi evocativa dos falhanços do furacão Katrina em Nova Orleães durante a administração de Bush II;
  • a guerra comercial com a China iniciada em Julho de 2018, que foi uma mudança radical da política das relações China-EUA que tinha sido cultivada desde a administração de Nixon. Mas Biden continuou a política de Trump;
  • em finais de 2019 a pandemia inicia-se na China e, meados de Março de 2020, globaliza-se e acaba por dominar o resto do mandato;
  • e chegámos a Janeiro de 2021 e tivemos o ataque ao Capitólio duas semanas antes de Trump sair.

Já com Bush II também tinhamos tido uma sucessão de eventos de grande impacto, mas mais espaçados:

  • Janeiro de 2001 entra Bush e em Setembro temos o ataque de 9/11;
  • Bush invade Iraque em Março de 2003;
  • Furacão Katrina aterra em Nova Orleães em Agosto de 2005, causa mais de 1800 mortos;
  • Setembro de 2008 colapso de Lehman Brothers e crise financeira.

Neste novo mandato, claro que vamos ter mais eventos desta envergadura e, se calhar, não nos safamos só com três ou quatro. Talvez finalmente estoure a bolha das criptomoedas e quem sabe causa uma depressão económica mundial, que tal inflação acima de 10%, uma crise da dívida soberana americana, colapso do dólar, colapso da Segurança Social americana, uma nova guerra mundial, quiçá outra pandemia, perseguições e assassinatos políticos, etc. Mas também pode ser tudo isto e mais alguma coisa que me escapa.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Cobertura das eleições na PBS

Finalmente animação!

Chegámos a 5 de Novembro, finalmente. Como a hora mudou no Domingo, decidi colocar o despertador para as 5:45 da manhã, que corresponde às 6:45 antigas. Demorou algum tempo até decidir se ia trabalhar do escritório ou de casa, mas decidi ir ao escritório. O trânsito não estava mal na direcção oeste na autoestrada, mas do outro lado tinha havido um acidente. Na minha imaginação havia a possibilidade do pessoal andar aos tiros, mas tal não sucedeu. Não é exagero da minha parte porque há bastantes relatos de situações dessas. Depois de tarde escureceu e tivemos umas chuvas fenomenais, logo pouca oportunidade para histrionices na via pública.

No trabalho chegámos a falar sobre as eleições, mas foi mais a jeito de piada do que lamento. Eu dizia que esperava que o pessoal tivesse poupanças, pois, se Trump ganha, a agricultura americana e a Segurança Social vão ao ar, mas pode-se sempre fazer dinheiro com as taxas de juro que a inflação das políticas dele irá produzir. Dá um certo calorzinho na barriga saber que quem o elege será mais prejudicado do que quem não votou nele.

E por falar em taxas de juro, em Setembro fui a Oklahoma e tive oportunidade de ir jantar com umas senhoras, algumas já reformadas, mas uma que trabalha num banco local. Dizia ela que as taxas de juro das contas a prazo e dos certificados de depósito estavam ridículas e não cobriam a inflação. Eu disse que não tinha razão de queixa, pois a minha conta de poupança tinha 4.3% de juro e o meu certificado de depósito a 12 meses tinha 5.25% (eu tenho conta no Capital One, mas até há outros bancos que tinham melhores rentabilidades). Ela disse-me que o meu banco não contava porque não era um banco regional e por isso funcionava de outra forma. Preferências--cada um usa o banco que quer. Oklahoma é completamente republicana: não há um único condado púrpura, é tudo encarnado, depois a culpa é dos azuis.

No meu Facebook, quase nenhum dos meus amigos americanos menciona as eleições e eu tenho amigos em ambos os lados. Mas há uma excepção: uma das minhas colegas do emprego que eu tinha há 12 anos, que já está reformada, é muito Republicana e ela acha que se Trump perder vai ser o fim do mundo, então de vez em quando mete uns posts a lamentar a chegada do fim do mundo. Claro que neste momento, Biden é presidente, logo se fosse para haver o fim do mundo por causa de um presidente democrata já não estaríamos aqui. E o mesmo é válido para Trump v. 2.0: sobrevivemos quatro anos, logo podemos sobreviver mais quatro e depois ele vai à vida. Claro que também há a possibilidade de o Vance o despachar para outras paragens ou até ele sucumbir à sua propria mortalidade.

De qualquer das formas, os EUA prometem que os próximos quatro anos irão ser animados.