quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ainda o escândalo dos swaps


O primeiro perfil pertence a Janet Yellen, economista com uma carreira notável, até dentro da Federal Reserve. É casada com um das mentes mais brilhantes da academia económica do século XX, George AkerlofO segundo nome que se perfilha como sério candidato é o de Larry Summers. Macroeconomista de topo, naturalmente, mas que, adicionalmente, foi reitor daquela que talvez seja a melhor universidade do mundo: a Universidade de Harvard. É sobre esta faceta que queria falar.


Enquanto reitor de Harvard, entre 2001 e 2006, Summers foi autor de algumas declarações polémicas que acabaram por levar à sua demissão. A mais famosa foi a sua explicação sobre a sub-representação feminina nos lugares de topo nas universidades.* Summers também terá dito que, regra geral, os economistas são mais inteligentes do que os cientistas políticos que, por sua vez, são mais inteligentes do que os sociólogos
Como em 2004 as taxas de juro estavam a níveis historicamente baixos, a prudência aconselhava a que de facto fizessem uns swaps. A decisão revelou-se certeira, dado que logo a seguir as taxas de juro subiram a pique. 
O resto da história é conhecido. Em finais de 2007, com a crise financeira, as taxas de juro caíram para níveis ainda mais baixos e assim se mantêm até hoje — e se espera que se mantenham por mais uns bons anos. Assim, os contratos revelaram-se financeiramente péssimos, com os empréstimos a saírem muito mais caros do que seriam se se tivesse mantido a taxa de juro variável. Harvard para se ver livre destes contratos, a que hoje chamaríamos tóxicos, teve de pagar aos bancos cerca de mil milhões de dólares no ano de 2009.

* De acordo com Summers, a variabilidade da inteligência é muito maior entre homens do que entre mulheres — o que poderia, por exemplo, explicar por que há muitos mais prémios nobéis atribuídos a homens e, simultaneamente, porque há muitos mais homens internados em hospitais psiquiátricos. Ou seja, mesmo que a inteligência média seja a mesma em homens e mulheres, uma maior variância entre os homens levaria a que fossem estes a estar sobre representados nas caudas da distribuição da inteligência. Seria assim normal que num sítio como Harvard houvesse muito mais homens do que mulheres.

5 comentários:

  1. Pensava eu que o que classificaria um swap como "tóxico" seria mais a complexidade/incomprensabilidade das condições e o facto de não estarem a servir para hedging do risco, mas sim para outra coisa qualquer (no caso português, desorcamentação, diminuindo as taxas a pagar no curto prazo em troca de aumentos possivelmente brutais no médio/longo prazo). Pelo que é afirmado, as Swaps do Summers cobriam explicitamente o risco contratado - e, já agora, terão sido resolvidos em tempo útil.

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  2. Se bem que de facto, o que caracteriza um "toxic asset" é de facto ter um valor negativo e não ser possível desfazer-se dele por não existirem compradores, pelo que de facto o termo "swap tóxico" se adequará a ambos os casos (o americano e o português)

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  3. Uma coisa que não percebo muito bem nesta história dos swaps - mas não há bancos que ofereçam empréstimos a taxa fixa? Pelo menos quando comprei a minha casa apresentaram-me essa opção.

    À partida, dá-me a ideia de que contratar um empréstimo a taxa fixa ficaria ligeiramente mais barato (e seria mais simples) do que contratar um a taxa variável e depois usar os swaps para o "transformar" em taxa fixa (digo que ficaria mais barato por ter menos custos de intermediação).

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    1. Eu tenho um empréstimo assim, com taxa fixa a 30 anos. Na verdade, a operação que o Banco fez foi o de fazer um empréstimo a taxa variável e depois o próprio Banco fez um swap a 30 anos no mercado. Ou seja, o próprio banco cobriu o seu risco com um swap.

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    2. Cobriu? O Luís pensa que cobriu, mas pode não ter acontecido assim e o seu Banco estar e perder, no negócio que fez consigo.
      O "certo", parece-me a mim, era o Banco ter captado recursos a taxa fixa abaixo da que lhe concedeu, e por igual prazo.
      Mas como isso não aconteceu, a Banca Portuguesa está demasiado exposta a essas operações, parece-me. O que constitui um grave problema.

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