sábado, 19 de julho de 2014

Algumas reclamações credibilizam os avaliadores

Há declarações assassinas e há declarações suicidas. Já tinha ficado mal impressionado com o artigo de opinião Maria de Lurdes Rodrigues a atacar, em causa própria, a avaliação do seu centro de investigação  o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) , que apenas teve classificação de BOM.

Agora, numa grande reportagem do Público sobre o assunto, leio novamente isto:
João Sebastião [director do CIES] cita indicadores que contrariam qualquer ideia de perda de qualidade: a publicação de artigos em revistas científicas indexadas passou de 39 para 84 entre 2008 e 2012.
É pá desculpem, mas isto é ridículo e ainda é mais ridículo que não se apercebam do ridículo. A única explicação para tamanho choque é acharem que Bom é uma nota demasiado alta. Se há alguma coisa incompreensível é que no quinquénio anterior, com 39 publicações, tenham conseguido 'Excelente'.

6 comentários:

  1. Caro LA-C,

    Eu não conheço a área em questão (Sociologia?), pelo que não sei qual é o ritmo normal de publicações. Suponho que a avaliação tenha sido feita com base nos parâmetros normais da área científica em análise.

    O que eu acho francamente estranho - e como já tinha comentado num post anterior - é o rácio entre livros e publicações. Parece-me francamente anormal que seja mais fácil publicar livros que artigos científicos. A questão que se põe, então, é QUEM publicou os livros? Foram "auto-publicações" (pelo CIES ou pelas instituições de ES a ele associadas) ou foram publicações independentes, de cariz comercial?

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    1. Carlos Duarte
      Peço desculpa por não responder, mas neste caso prefiro mesmo não fazer comentários.

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  2. Dando uma achega ao que o Carlos Duarte pergunta, e falando não da Sociologia mas da área a que pertenço, a História: nos anos em avaliação, eu tenho mais publicações em livros colectivos e actas de encontros científicos, também eles com peer-review, do que em revistas (e grande parte destas, no caso da História, não estão indexadas no Scopus, mas noutros índices). São trabalhos sujeitos à avaliação por pares, que tiveram de ser aceites e aprovados antes de serem publicados, tal como numa revista. A minha menor quantidade de publicações em revistas ao longo destes anos não significa que a minha produção tenha sido menor ou de pior qualidade, e os convite para participar nessas obras colectivas significam o reconhecimento dos meus anteriores trabalhos.

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    1. Caro/a Zu (peço desculpa, mas é díficil perceber o género),

      A minha questão versava só sobre os livros - as actas de conferências, por norma, "não contam" pois não passam da forma escrita de comunicações em conferências e são catalogadas noutra categoria. Quanto aos livros, a minha questão (que é 100% honesta, sem primeiras ou segundas intenções) é de que porquê e como há tantas publicações em livros (e quem os publica) e não em revistas? As revistas não têm "impacto" no área de história?

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  3. É A Zu, Carlos - é difícil, eu sei, perceber se é menino ou menina :)
    As actas de conferências são cada vez mais desvalorizadas, ainda hei-de um dia compreender porquê, se o que publicam poderia perfeitamente ser um artigo de revista com peer-review (e por causa disso, cada vez mais em lugar de actas se publicam livros colectivos que no fundo são actas mas não se podem chamar assim porque senão não contam para fins de avaliação). Em vários casos, os trabalhos que publiquei em actas tiveram a revisão de pares e foram submetidos a um escrutínio não inferior ao de qualquer revista científica. As revistas têm impacto na área de História, claro que sim; mas nascendo muitos dos trabalhos de convites (ou propostas pessoais) para participar em eventos científicos, é natural que se publiquem os resultados das investigações feitas para tal nos livros que nascem desses eventos. Sobre o porquê de se publicarem tantos livros: eu diria que as temáticas abordadas pelos historiadores mais facilmente dão lugar a livros do que as de um matemático ou um biólogo, por exemplo. Basta ver a dimensão das teses de doutoramento das diversas áreas: nós escrevemos trabalhos muito mais extensos, em geral, do que os investigadores das ciências exactas; como sucede também com os investigadores na área da literatura, ou da filosofia, por exemplo. Normalmente, das nossas teses resultam livros, não artigos em revistas especializadas; e é num todo que ganham sentido e coerência, não divididos em publicações diferentes.
    Neste momento, e pedindo desculpa por recorrer de novo ao meu exemplo (mas é, obviamente, aquele que melhor conheço e pelo qual posso responder), tenho uns 5 ou 6 trabalhos no prelo ou em vias disso e nenhum deles vai sair numa revista, todos em livros. Deveria recusar publicá-los em obras que obedecem a uma coerência interna em torno de um determinado tema, são dirigidas por especialistas consagrados e passarão a ser obras de referência (algumas delas, e modéstia à parte :) ) e procurar antes que saíssem em revistas para cumprir os critérios da FCT e onde estariam desinseridas do contexto da temática abordada? Esta é uma pergunta que faço mesmo, pois temo que os critérios de avaliação cada vez se afunilem mais em torno do que é mais habitual no domínio das ciências exactas, esquecendo-se a especificidade de outras disciplinas.

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  4. Cara Zu (e obrigado pela clarificação!),

    A questão de serem menos valorizadas as publicações em actas de conferências tem, tanto quanto percebo e isto vindo das "ciências aplicadas" (engenharia e medicina), com uma maior facilidade de aceitação. As conferências são vistas mais como um local de discussão e não tanto de divulgação, daí o crivo poder ser menos apertado (até para permitir a discussão).

    Quanto à questão livros vs revistas, e na área que conheço, os livros têm mais "peso" em termos de valoração que as publicações em revistas, exactamente porque é mais díficil de publicar um livro. E é-lo por uma questão puramente comercial: com raras excepções, estamos a falar de livros técnicos, apontados a um número restrito de leitores e quase nunca ao "público geral". Logo os editores apenas estão interessados em material ou de pessoas de peso relevante na área (e vendem mais o "autor" que o livro) ou de algo francamente importante e que, por isso, seja expectável que tenha um número apreciável de vendas. Nas ciências sociais admito que o "alvo" das publicações possa ser sempre mais alargado.

    A minha única preocupação com os livros - e remeto para o meu comentário original - é sobre quem publica e como se processa o "peer-review". Se é uma auto-publicação (ou uma publicação do seu centro de investigação ou institituição de ES) parece-me óbvio que o peso deve ser significativamente mais reduzido que um livro que seja editado por um terceiro e publicado por uma editora "comercial". No que diz respeito aos CIES, a questão é mesmo essa: publicaram bastantes livros, mas por quem (editor) e a pedido de quem (revisor)?

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