Segundo notícia do expresso, o leilão dos terrenos da antiga feira popular não recebeu nenhuma licitação. Segundo a mesma notícia, há três empresas interessadas e que pediram a prorrogação do prazo para entrega das candidaturas. O resto da notícia não dá praticamente nenhuma informação detalhada sobre o processo de venda, e, basicamente, dedica-se a explanar a ideia de que o preço base, fixado pela Câmara, é demasiado alto.
Ora, então, quanto a factos, é isto que sabemos: três empresas pediram prorrogação do prazo para entrega das candidaturas. Ainda me atrevo a deduzir, sem que isso seja explícito na notícia, que nenhuma outra empresa se candidatou a tempo. Ora, se nenhuma empresa se candidatou a tempo, mas há três que querem uma prorrogação do prazo, porque é que a notícia dedica tanto peso à tese de o preço ser demasiado elevado?
Um leilão é uma espécie de polígrafo. Não é uma forma perfeita de saber se a pessoa está a dizer a verdade, mas é a melhor que temos. E sim, não tenho assim tanta certeza quanto ao polígrafo.
Talk is cheap. Podemos perguntar quantas vezes quisermos qual o preço que uma pessoa está disposta a pagar por algo, mas, se a resposta não comprometer quem a dá, ninguém tem realmente muito interesse em dizer a verdade. Um leilão, bem desenhado, tem uma punição para quem mentir: se a empresa disser que está disposta a pagar mais do que realmente está, então arrisca-se a pagar demasiado por algo que não tem assim tanto valor para ela; se disser que está disposta a pagar menos do que realmente está, então arrisca-se a ficar sem algo a que dá valor.
Sem a punição do leilão, qual é a resposta que uma empresa deverá dar à pergunta de quanto está disposta a pagar por algo? Bom, é a resposta que o jornalista, que ouviu “especialistas” e “interessados” com o polígrafo desligado, transmite na notícia: querem pagar pouco, de preferência nada. O polígrafo é o leilão, e o leilão ainda não começou.
Esta é uma nota geral. Não conheço o detalhe do leilão, nem faço a mais pequena ideia se o preço é alto ou baixo. Não me acho propriamente inepto no que diz respeito a estas coisas, mas, após uns dois ou três preguiçosos minutos a pesquisar a Internet, não encontrei o Regulamento do leilão. Nem no Google, nem na página principal da Câmara, nem na página supostamente da Câmara que publicita a venda dos terrenos – que não é dá nenhuma informação minimamente útil para o efeito.
Tinha curiosidade, por defeito profissional, em perceber as regras. Mas, Luís, dois ou três minutos não é lá grande pesquisa, pois não? Não. Mas desengane-se quem ache que as empresas privadas estrangeiras, sem presença em Portugal, dedicariam muito mais do que isso a procurar um Regulamento publicado por uma Câmara de uma cidade periférica na Europa. Como disse, tenho pouca confiança no que a notícia me apresenta como factos. Tenho muito mais confiança no resultado de um leilão bem desenhado e, sobretudo, bem participado. Sem o detalhe do leilão facilmente acessível, não fico a saber muito sobre o primeiro, e fico com dúvidas sobre o segundo.
Novamente, a única coisa que fiquei a saber – e nenhum curso em Economia me prepararia para isso! - é que as empresas privadas querem pagar o menos possível por algo que valorizam.
Acho incrível as regras do leilão não estarem facilmente acessíveis na internet! Isso sim é que deveria ser criticado.
ResponderEliminarHoje vi no Correio da Manhã o novo projecto para o Campo das Cebolas. Fiquei muito desapontado por este projecto não contemplar um dos elementos da praça que na minha opinião lhe dá mais piada, as palmeiras. Na minha opinião estas árvores são à praça um certo exotismo que evoca a chegada dos navegadores de terras longínquas. Acho uma pena retirarem estas palmeiras que já fazem parte da praça há tantos anos. Não há legislação que protege as árvores? Não são património municipal ou algo parecido?
"Acho incrível as regras do leilão não estarem facilmente acessíveis na internet! Isso sim é que deveria ser criticado."
EliminarCaro Rui: olhe que é, precisamente, o centro da minha crítica e do meu post. O successo de um leilão depende, crucialmente, do seu desenho e da sua participação (é daqueles casos que, genericamente, quantos mais, melhor!). Sem que as regras sejam publicamente conhecidas, e facilmente acessíveis, o escrutínio do desenho, e a participação, ficam ameaçados.
O facto de a participação anunciada ser relativamente baixa (3 interessados), e de estes interessados ou alguns destes interessados já parecerem estar a fazer lobby para se baixar o preço, é preocupante.
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