terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A outra matemática...

Num outro país que foi ao ar em 2008, durante o pânico, quando os investidores não quiseram comprar certos activos porque não os sabiam avaliar, a Reserva Federal comprou-os a preços de chuva para evitar que o mercado explodisse. Agora gere esses activos até que o seu valor aprecie e os possa vender com lucro, mas entretanto recebe o rendimento gerado pelos juros dos activos.

O Congresso americano, que tem a fama de ser uma grande porcaria, forçou a Reserva Federal a enviar para o Tesouro parte do dinheiro que tem acumulado num fundo excedentário, para ser gasto a arranjar estradas e pontes. O Congresso não quer aumentar impostos sobre a gasolina, apesar do preço da gasolina estar super-barato e do imposto, que financia o Highway Trust Fund, já não ser actualizado há aproximadamente 10 anos; a Janet Yellen preferia ter poupanças em caixa. É muito chato ter estes problemas...

A matemática americana é completamente estranha. Será que eles ainda não perceberam que, à la portuguesa, o que está a dar é comprar caro e vender barato e, para arranjar estradas, pede-se emprestado, não se usam poupanças?

The Federal Reserve said Monday it sent a record $97.7 billion in profits to the U.S. Treasury as the central bank's vast holdings of mortgage-backed securities and other investments continued to produce a bumper crop of interest income.

On top of that, the Fed said it sent an additional $19.3 billion from a capital surplus account to help fund federal infrastructure projects under a controversial provision Congress included in a five-year highway bill in December.

Fed Chairwoman Janet L. Yellen opposed tapping the surplus funds to pay for roads, bridges and other transportation projects, telling lawmakers that the move "sets a bad precedent and impinges on the independence of the central bank.

But congressional leaders wanted to find ways to pay for the highway bill without increasing the federal gas tax."

Source: The Los Angeles Times, 11/1/2016

4 comentários:

  1. A mão estendida às instituições financeiras americanas, em 2008, permitiu que a maior parte se salvasse, a economia recuperasse com vigor, e gerou lucros vultuosos ao Estado, muito porque o FED não foi em cantigas monetaristas e agiu de sopetão, por intuição, sem livros. Por contraste, a temeridade e hesitação do emprestador de último recurso europeu, aliada à fragmentação burocrática das suas instituições, procurando expiar as suas falhas, e justificar o moral hazard, levantando a cabeça cortada de algum infeliz, entre os países mais fracos, lançou o sistema financeiro português numa cascata de podridão que ainda não sabemos quando ela acaba nem quando a economia dela consegue se levantar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "o FED não foi em cantigas monetaristas e agiu de sopetão, por intuição, sem livros."

      Acha mesmo isso?

      Eliminar
    2. É a impressão com que fiquei depois de ler Alan Blinder, um homem que esteve próximo do processo e dos decisores intervenientes, num livro a que já aqui fiz referência, "After the Music Stopped", um bálsamo obrigatório para compensar a gritaria dos frammers nacionais com a ladainha do falimos e da bancarrota.

      Eliminar
  2. Todas essas boas acções do Fed (abreviatura de "Federal", e não um acrónimo, como decerto sabe), do Tesouro e similares tiveram apenas lugar depois de ninguém ajudar o Lehman Bothers, deixando-o falir, com todas as consequências que sabemos e que trouxeram tanta sabedoria aos acima mencionados.

    Não estou com isto a criticar a inacção no caso do Lehman, nem a acção nos outros casos.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.