quarta-feira, 7 de agosto de 2024

A valsa dos símbolos

Primeiro foi a CNN, depois a Atlantic, e finalmente o NYT a avançarem que Kamala Harris já tinha escolhido o parceiro de corrida e que seria Tim Walz, governador do Minnesota. A minha impressão do Minnesota, depois de trabalhar vários anos com pessoas de lá e de ter visitado, é que são pessoas bastante diferentes dos outros americanos que tenho conhecido. Por exemplo, não dá para fazer aquelas piadas para quebrar o gelo porque eles não entendem o humor e não se riem. No entanto, parece que Tim Walz é um tipo bem disposto que tem as chamadas "social skills," mas nasceu no Nebraska e foi para o Minnesota com 30 anos.

Também há outra caracterítica interessante em Walz, que é ter trabalhado na China durante um ano como professor do ensino secundário. Recordemo-nos que Trump teve uma presidência bastante crítica da China e Biden continuou a mesma linha de política, apenas com menos ruído e maior discrição. A escolha de Walz pode significar uma política menos retaliatória relativamente à China.

O Josh Shapiro ficou então para trás, mas nos últimos dias já tinha havido uns eventos cancelados, umas notícias acerca de ele ter lidado mal com uns casos de assédio sexual, e deopis há o facto de ser judeu, o que levantava questões acerca da sua viabilidade. Claro que o lóbi judeu tinha enorme preferência por este candidato, mas não seria uma escolha sensata tendo em consideração que os eleitores mais jovens são bastante sensíveis à situação trágica de Gaza.

Às abertas, o discurso dos media e do partido está um bocado limitado na questão da religião porque a lei federal proíbe que se discrimine com base em certos critérios:

Under the laws enforced by EEOC, it is illegal to discriminate against someone (applicant or employee) because of that person's race, color, religion, sex (including gender identity, sexual orientation, and pregnancy), national origin, age (40 or older), disability or genetic information.

Fonte: EEOC

Logo o facto de Shapiro ser judeu foi usado mais como ilustração de ser uma pessoa fortemente alinhada com Israel e, do ponto de vista político, o que tem vindo ao de cima, é que há bastante gente no Partido Democrática que é crítica de uma proximidade que se traduza numa carta branca a Israel; muitos prefeririam que se trabalhasse com vista a um cessar-fogo, mesmo Walz já expressou essa ideia.

Por falar em questões de discriminação, vale a pena fazer um à-parte. Sendo que o Partido Democrata é o mais alinhado com estes valores de não-discriminação, compreende-se a ironia da situação em que o partido se encontrava tendo Biden como candidato e este não querer sair, pois retirá-lo argumentando com base na idade ou incapacidade violaria a lei federal; no entanto, a Constituição permite que o Presidente seja retirado com base em incapacidade.

A segunda ironia era o facto de a VP ser uma mulher e negra/asiática, logo se não tivessem escolhido Kamala como a candidata natural à sua substituição também se estaria a sugerir que podia ter havido discriminação, especialmente porque quando Biden se apresentou a eleição há quatro anos, ele considerou-se um presidente de transição e o subentendido é que Kamala seria a herdeira da candidatura.

Vejo bastante simbolismo associado a todos estes acontecimentos recentes. Mesmo a decisão de escolher alguém para VP que é do Minnesota é simbólica: nas primárias do Partido Democrata do Minnesota, 19% dos votos foram para "uncommitted" porque os eleitores estavam insatisfeitos com a política de Biden relativamente a Israel-Gaza.

1 comentário:

  1. A palavra "weird" vai influenciar as eleições pelo que simboliza ou pela entoação com que foi usada por Tim Walz?

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