terça-feira, 31 de julho de 2012

Uma grande ilusão

O recentemente falecido historiador Tony Judt publicou em 1995 um ensaio sobre a Europa, traduzido recentemente para português. Judt era um europeísta convicto e, no entanto, estava convencido de que uma Europa verdadeiramente unida é altamente improvável e é contraproducente insistir nessa ideia.
A partir de meados do século XIX, brotaram várias vozes a clamar pelos “Estados Unidos da Europa” e desde então até aos anos 30 do século XX houve diferentes propostas para delinear uma federação económica europeia. A maioria não deu em nada. As que foram além do papel duraram pouco. O caso mais conhecido é o Cartel Internacional do Aço, assinado em Setembro de 1926 pela França, Alemanha, Bélgica e Sarre. Em 1931, no auge da Depressão, a coisa já se tinha desfeito. No final da II Guerra Mundial, ainda ecoavam os planos nazis de uma Nova Ordem Europeia e, por isso, a ideia de uma Europa Unida surgia então com conotações sinistras.
É, pois, um mito a versão oficial de que a União Europeia é o resultado de um destino histórico ou que a “Europa” foi reconstruída por idealistas. Em meados dos anos 50, era raro descobrir na Europa políticos ou intelectuais essencialmente preocupados com uma Europa unida. A maioria estava concentrada nos problemas e nas políticas do seu próprio país. Os egoísmos nacionais, de que tanto se queixam hoje os idealistas, não nasceram ontem, estiveram presentes desde sempre. Só 50 anos de propaganda maciça e de histórias da carochinha contadas a sucessivas gerações explicam o esquecimento ou a omissão deste facto essencial.
Não houve, pois, qualquer consciência europeia no nascimento da “Europa”, houve, isso sim, uma “europeização” de problemas internos, sendo a França a grande incentivadora e beneficiária desse processo.
A França, uma das grandes derrotadas da Guerra, precisava desesperadamente de carvão para a sua indústria de aço e só a Alemanha lho podia fornecer. Depois de várias tentativas frustradas para se apoderar da valiosa matéria-prima, que passaram nomeadamente por negociações com os russos (que controlavam uma parte da Alemanha), viram-se obrigados a fazer um acordo com a Alemanha, os países do Benelux e a Itália para criar a CECA em 1951. Foi uma iniciativa inspirada e de pura sorte. Os americanos e, sobretudo, os ingleses estavam mortinhos por se verem livres do fardo de alimentar milhões de bocas (10 milhões vinham das antigas comunidades alemãs na Checoslováquia, Polónia, Roménia, etc.) e interessava-lhes em consequência que a Alemanha se desenvolvesse. Por seu lado, o chanceler Konrad Adenauer viu logo no Plano Schuman uma ” oportunidade” da Alemanha recuperar a sua soberania e regressar ao seio da comunidade internacional.
Entretanto, com o início da guerra fria em 1947, a “Europa” pôde contar com o chapéu americano e com os dólares do plano Marshall (1948-1952), que, independentemente das mil e uma interpretações sobre os seus efeitos, acelerou sem dúvida o processo de crescimento económico europeu. Duas guerras devastadoras, com uma grande depressão pelo meio, criaram ao mesmo tempo um enorme potencial de crescimento, uma espécie de efeito do tempo perdido - só em meados dos anos 70 o peso das exportações e importações dos países europeus se tinha aproximado do seu valor de 1929.
Os europeus criaram entretanto a ilusão de que tinham encontrado uma fórmula mágica para o crescimento económico, sendo a “Europa”, retrospectivamente, vista como o ingrediente decisivo. Isto permitiu-lhes criar o Estado Social e tornar a “Europa” um polo magnético cujo sucesso, supostamente, exigia uma integração cada vez mais reforçada.
A queda do muro de Berlim foi o princípio do fim de muitas ilusões. Com a adesão dos países de leste, que a França, compreensivelmente, tudo fez para evitar, a centralidade económica da Alemanha foi reforçada com a centralidade geográfica. A França começou lentamente a cair na realidade, vendo-se reduzida à sua verdadeira dimensão, a de uma potência regional (grande parte do seu comércio está centrado em apenas 9 países europeus). Ficava agora à vista de todos que a grandeur da França era uma ilusão, sustentada, em grande parte, pelo poder, até então, discreto da Alemanha.
O abrandamento do crescimento económico e, em especial, a crise que atravessamos trouxeram à superfície as velhas divisões ("egoísmos", como alguns dizem) e abalaram irremediavelmente as perspectivas optimistas em que assentava todo o projecto europeu.
O euro pode bem ter sido o último grande salto em frente da “Europa”. Como sublinha Tony Judt, seja o que for que possibilitou a Europa Ocidental que hoje temos, foi certamente único – e irrepetível. E nunca mais ninguém terá igual sorte.

15 comentários:

  1. Caro José Carlos Alexandre,
    Gostei deste seu post, embora não consiga dele inferir, porque gostava, a sua posição pessoal: se eurófilo, se eurocético, se outra coisa. Se me permite a provocação, porque escrevi sobre este tema, assentando nos mesmos factos históricos (mais outros), deixo aqui uma excerto do meu post "Europa: Regresso ao Passado?": "Não se trata da facilidade com que nos movimentamos, estudamos, trabalhamos, compramos e vendemos neste espaço; nem da forma como o fazemos sem restrições, como se dentro do nosso próprio país se tratasse. Tão pouco se trata da ausência de câmbios ou controlos fronteiriços; sem as revistas e custos alfandegários, sem autorizações ou vistos de permanência, sem olhares desconfiados ou questões de preconceito. Somos europeus e o resto são complexos de inferioridade. Tudo isto temos nós presente, disto somos lembrados todos os dias. Falemos de outra coisa. Falemos de paz." O resto do posto encontra aqui:

    http://antologiadeideias.wordpress.com/2011/10/29/europa-regresso-ao-passado/

    Teria todo o gosto que comentasse, assim como em notificá-lo do próximo post. Já agora, queira ver a minha página "Colabore!".

    Bem haja,
    O Autor
    Antologia de Ideias

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  2. "O euro pode bem ter sido o último grande salto em frente da “Europa”.
    ( ) seja o que for que possibilitou a Europa Ocidental que hoje temos, foi certamente único – e irrepetível. E nunca mais ninguém terá igual sorte"

    Ou azar?
    Como ao comentador anterior, também me parece haver alguma contradição entre o princípio e meio do texto e a parte final.

    Afinal, é possível a União Europeia?
    E se não for possível, como será a Europa desunida?

    Também tenho escrito alguma coisa sobre o tema e, mesmo ontem e hoje, voltei a ele.

    Porque é, do meu ponto de vista, a questão mais relevante do momento. Sobretudo para nós, periféricos e fragilizados. A condição periférica, aliás, mais do que geográfica foi, e continua a ser, política. Acantonados e sossegados não fomos confrontados com os desafios que moldaram o desenvolvimento económico cultural do centro europeu. Estamos agora envolvidos no primeiro grande choque europeu do pós-guerra.

    E ou a União Europeia avança, e nós avançamos. Ou a UE se desintegra, e a xenofobia, o racismo, o totalitarismo, voltam a destruir a Europa.

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    1. Precisamente Rui Fonseca, no seu último parágrafo. O problema é darmos a paz na Europa como um dado adquirido. Não é. Muitos olham isto como uma impossibilidade, porque tentam imaginam guerra como algo que deflagre no dia a seguir á dissolução do Euro e, naturalmente, não conseguem. Naturalmente, porque as coisas não se passariam assim. Em primeiro lugar, tal como nos episódios anteriores, ocorreriam proteccionismos e guerras económicas. depois nacionalismos. E depois xenogobismos. Tudo ao longo de umas décadas, poucas, findas as quais estariam reunidas condições para o eclodir de uma guerra, numa Europa que, aos olhos de quem a conhece hoje, seria politica e diplomaticamente irreconhecível.

      Mais posts meus sobre temas Europeus aqui (http://antologiadeideias.wordpress.com/?cat=10990).
      Comentários benvindos.
      Bem hajam,
      O Autor
      Antologia de Ideias

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    2. "E ou a União Europeia avança, e nós avançamos. Ou a UE se desintegra, e a xenofobia, o racismo, o totalitarismo, voltam a destruir a Europa."

      Bom, creio que a "coisa" é exactamente ao contrário...

      O chamado avanço da União Europeia é que provoca a xenofobia, racismo, etc. Ou o que é que se deduz de uma manada de políticos & comentadores portugueses passarem o tempo a dizer "nós não somos a Grécia"? E outros que não são Portugal, etc.

      O chamado projecto europeu, uma integração de que não se divisava o fim, nunca teve pernas para andar e, se andasse muito conduziria provavelmente à guerra.

      A Europa é um continente povoado por povos antigos com culturas, línguas e religiões muito diferentes. Do Catolicismo português ao Calvinismo holandês vai mais do que um oceano!

      A única forma da Europa se unir seria sob uma ditadura e mesmo assim, só depois de entrar numa ou duas guerras que unissem a população na sua defesa... e mesmo assim... Veja-se o exemplo da Alemanha que, para se unir, uniformizou a língua (na UE nunca se pensou nisso) e entrou em três guerras, a primeira no século XIX ganha pela Alemanha e as duas seguintes, no século XX perdidas pela Alemanha. E, note-se, a Alemanha não era a Europa, os lander alemães até tinham uma história mais ou menos comum.

      Mas na Europa não, a Europa como entidade política nunca existiu. Esteve um pouco mais unida no Império romano mas, o Império Romano não era um Império Europeu, era um Império Mediterrânico.

      De resto esteve sempre dividida e sobre muitos aspectos, Portugal, Espanha, Holanda, Reino Unido e mais tarde França, um pouco de costas para a Europa e virados para o Mundo e os restantes países virados para dentro, para o continente europeu e travados na sua expansão para Leste por uma imensa Rússia.

      Tentar unir este amálgama custe o que custar, como diria o nosso primeiro, é uma receita para o desastre.

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  3. Obrigado pelos vossos comentários.
    Começando por especificar a minha posição pessoal. Digamos que é muito semelhante à do historiador Tony Judt. Ou seja, sou entusiasticamente europeu, no sentido em que, à semelhança de qualquer pessoa minimamente informada, não gostaria de voltar aos tempos das nações fechadas, desconfiadas, em constantes conflitos e pé de guerra. E, portanto, tudo o que nos afaste desses cenários é, teoricamente, bom. Mas uma coisa são os desejos, outra é considerar que o final será feliz. E, nesse sentido, sou um europessimista ou eurocéptico, se quiserem.
    Depois de ler o comentário do Rui Fonseca, fui reler o meu post, e vejo que de facto a última parte não está bem conseguida, peca por falta de clareza. Basicamente, o que pretendi dizer com o post é que a “Europa” é o resultado de condições únicas, irrepetíveis, com muita sorte à mistura. O crescimento económico, que era a principal razão de ser da “Europa” e fonte de invejas e admiração alheias, foi mais resultado dessas tais condições excepcionais e da sorte do que de escolhas políticas. Dá-me impressão que os europeus às tantas não perceberam isso e se abalançaram em aventuras perigosas, como o euro, que hoje se tornou evidente ser um erro crasso. No fundo, Tony Judt, em 1995, tendo por base o seu conhecimento da história e das origens da União Europeia, previu tudo o que está a acontecer neste momento. Repito: uma Europa verdadeiramente unida é altamente improvável e insistir nessa ideia é uma utopia perigosa, como, infelizmente, confirmamos todos os dias. Não sei como é que nos vamos safar deste sarilho (o euro), mas não é, na minha opinião, com mais “Europa”.

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    1. Caro José Carlos,
      De facto, tenho aqui que fazer a minha declaração de interesses habitual, no que toca ao tema Europa: sou um eurófilo* por convicção. Sempre me encantei com a perspectiva de pertencer a uma nação (ou união, ou federação ou confederação) vasta em geografia, culturalmente diversa e economicamente poderosa. Sufoca-me pensar estar reduzido política, cultural e economicamente a uma nação de 10 milhões de pessoas, mesmo sendo essa o nosso Portugal. São excentricidades minhas, incompreendidas por quem nutra um patriotismo mais luso.

      Agora, num ângulo menos romântico e mais pragmático: as razões que ambos apontamos devia-nos pensar que o contrário de uma Europa unida é uma Europa desunida. As nações, embora formadas por, não são, pessoas. Nós podemos coabitar num condomínio, ou em qualquer outra comunidade com uma coisa comum, sem conflitos, sem que para isso estejamos unidos umbilicalmente. Mas isso é porque, e apenas enquanto, não dependermos directamente uns dos outros para o nosso dia-a-dia: tipicamente saímos todos das garagens lá do prédio ou da rua na primeira hora da manhã, dirigindo-nos para essa entidade que, em troca dos nossos préstimos, nos paga o salário da nossa subsistência - e cada um de nós tem a sua. À noite regressamos, cruzamo-nos com aquele vizinho que não suportamos, mas a quem, ainda assim, dizemos, civicamente, "bom dia". Creio que seria diferente se, essa pessoa que não suportamos (pelos seus hábitos, pela sua personalidade, por comportamentos separados), competisse connosco directamente por um lugar ao sol. Se fossemos todos auto-empregados, prestando serviços a outros e entre nós. Sendo que disso dependesse a nossa sobrevivência. A seu tempo, esse "não-gostar", iria transformar-se em algo mais fundamental e grave. Seríamos nós e os nossos que estaríamos em causa. O nosso companheiro perguntando-nos: "Que raio de homem/mulher és tu?". Os nosso filhos chorando perante uam despensa vazia.

      Assim são nações. Eu sei que, quando diz que o Euro é um erro, não coloca em causa a UE. Mas o Euro aqui tem de ser visto como potenciador dessa união e constitui fator de competividade, na medida que é um dos ingredientes que assim gera um mercado "doméstico" de 500 milhões, capaz de competir com as vantagens capaz de competir com outros blocos, cuja massa crítica constitui vantagem comaprativa: EUA, China e Brasil, entre outros. O problema tem sido que, moeda única, é apenas um dos ingredientes. Falta a união fiscal e política. O problema tem sido que, embora sejamos diferentes, ainda não compreendemos, por incapacidade dos nossos "líderes" políticos, o que está de facto em jogo. Ainda não compreendemos que temos de abidcar de algo. Esse algo é aquilo que, ilusoriamente, chamamos de soberania. Querem, cada um dos países, gastar dinheiro europeu, sem prestar de contas aos europeus. Confundimos "união" com "fusão". Somos diferentes, mas não que as nossas diferenças sejam maiores que aquelas que existem entre um Texano e Californiano. Somos diferentes, e por isso mesmo nos devemos unir. Há um preço a pagar: o desconforto da mudança. Há barreiras a vencer: a do medo é uma delas. Mas face à alternativa, a única opção é em frente. Sabemos qual a solução, temos de saber aceitar e partilhar. União monetária, fiscal e política. À parte disso, nós aqui no Missouri, jamais compreenderemos os emproados de Boston. Do mal o menos.

      Bem haja, José Carlos.

      O Autor
      Antologia de Ideias
      http://antologiadeideias.wordpress.com/

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  4. irrepetível?
    bolas isso é muito tempo

    mais dia menos dia a rainha elizabeth II manda descarregar ópio na china para trocar por chá e Ipad's

    nada é irrepetível
    nem o sestércio nem o numisma

    nem as notas de 10.000 marcos passarem a ter mais cinco zeros quatro meses depois

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  5. Continuanado nas analogias. Na vida, infelizmente, também há divórcios e separações irremediáveis. Embora os dois gostassemos que a união fosse feliz, a nossa diferença, neste caso, é que eu já não acredito que seja possível manter as partes unidas e, muito menos ainda, que seja possível reforçar a união. As divisões entre países e dentro de alguns países (Bélgica, Itália, Espanha, etc.) são muito profundas e a crise acentuou-as. Repare na Europa de Leste ou Europa Central. Esses países é como se não existissem para nós, Europa Ocidental - grosso modo, corresponde ao antigo império de Carlos Magno. Os países de Leste, que são o resultado de guerras e retalhos de antigos impérios, com identidades muitas vezes mal definidas (com a excepção talvez da Polónia), são para nós vizinhos estranhos e exóticos que pouco ou nada nos dizem. Por exemplo, fala-se muito da Grécia (que, por enquanto, ainda consideramos fazer parte do clube) mas quem fala da siuação gravíssima da Hungria, Roménia ou Bulgária? Em Portual, ninguém, porque, no fundo, não os consideramos como nossos. É por ests e outras que me parece que forçar uma união entre corpos tão estranhos só pode dar mau resultado. Devia ter havido maior prudência e menos pressa no passado por parte dos líderes, que empre mantiveram os povos à margem das suas decisões. Agora, por erros do passado, corremos o risco de estragar as coisas boas que se tinham conseguido e que basicamente eram a possibilidade dos bens e pessoas circularem livremente pela Europa, à semelhança do que acontecia até 1913.

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  6. "E ou a União Europeia avança, e nós avançamos. Ou a UE se desintegra, e a xenofobia, o racismo, o totalitarismo, voltam a destruir a Europa."

    Porquê? está dizer que se não formos todos iguais começamos uma guerra?
    Que raio de civilização, cultura é essa que entra em guerra se não for tudo o mesmo?

    Já agora, que guerras é que os Suíços começaram?

    lucklucky

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  7. "...está dizer que se não formos todos iguais começamos uma guerra?"

    Primeiro - Não disse que teremos de ser todos iguais. Nem agora, nem nunca. Se visitar o meu caderno de apontamentos (basta clicar no sítio do costume) constatará que sempre registei nele que a Europa é um painel de culturas que não pode nem deve ser destruído.

    Aliás, a experiência, única até agora, da União Europeia não é mais do que uma versão avançada da globalização total. Mas, tal como a globalização, a União Europeia, para funcionar e subsistir necessita de regras que garantam a unidade e perservem as diferentes identidades culturais.

    Permito-me, a este propósito, sugerir que leia "The Gloablization Paradox - Democracy and the Future of the World Economy" de Dani Rodrik.

    Segundo - Quanto há hipótese de nova guerra entre os europeus, infelizmente os europeus provocaram guerras globais duas vezes durante o século passado. Nada garante que não voltem a cometer o mesmo erro. Mais localizadamente, e mais uma vez foram os norte-americanos que vieram ajudar a acabar com as atrocidades inter-étnicas, a guerra reacendeu-se há pouco tempo nos balcãs. A extrema direita tem estado a progredir um pouco por toda a parte no norte europeu.

    Terceiro - O caso suíço é original e poderia constituir um exemplo para a construção europeia alargada. Demonstra que é possível a união política de povos com línguas diferentes (há muito suíço que só fala uma língua), religiões diferentes (calvinistas, católicos, mas também várias outras religiões), afinidades diferentes (os germânicos com os alemães, os do Ticino com os italianos, os do sul com os franceses). E, como diz, nunca se guerrearam a ponto de se auto destruirem.

    Quarto - A União Europeia radica num movimento inicial, a seguir ao termo da segunda guerra mundial, que teve na sua origem como objectivo evitar novo conflito na Europa. Eles sabiam, porque as tinham vivido, que razões tinham levado os europeus a auto destruirem-se.

    Admito que os mais jovens, hoje, tenham a paz e a democracia por adquiridas.
    As ilusões estão sempre presentes na origem da deflagração dos confrontos bélicos. Basta reler a História.

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  8. Acho que o Sr. Fonseca é um optimista. Digo-o sem qualquer crítica ou julgamento.

    Mas na minha opinião, também como imigrante na Holanda, posso dizer-lhe que as diferenças deste pequeno ponto para o resto da Europa num raio de, vá, 1000 km, não podia ser mais abismal. E a diferença entre a cultura do Sul e a cultura do Norte é absolutamente, distinta. Num post mais acima refere que o contrário de uma Europa unida é uma Europa desunida. Mas a verdade é que as uniões, ao nível das nações foram sempre, ao nível dos interesses. Se a União Europeia se tivesse restringido a um pequeno número de Países da Europa central / Norte, acredito que teria resultado com uma moeda comum, uma vez que todos estão ao mesmo nível e todos partilham uma matriz e uma cultura "semelhante" salvo as distintas diferenças. Comércio sempre uniu os povos desta zona. Querer partilhar a "mesma conta" com digamos, 12 amigos, nunca resultou. E nunca resultou por há sempre uns quantos que vão ás compras todos os dias, e um dia, os restantes, os que enchem a conta, chateiam-se, digamos assim. Agora imagine 12 amigos, multiplicado por milhões.

    A união Europeia sem o Euro, é ou foi (veremos) um projecto extremamente ambicioso e para mim passível de ser aperfeiçoado desde que a identidade cultural de cada um permanesse-se intacto, digamos assim. Meter "guito" ao barulho foi um erro tremendo. Aliás, alguma coisa devemos ter sentido no primeiro momento em que o Euro entrou em circulação quando um café de 50 paus passou, com um estalar de dedos, para 50 cêntimos.

    Daniel

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  9. "...alguma coisa devemos ter sentido no primeiro momento em que o Euro entrou em circulação quando um café de 50 paus passou, com um estalar de dedos, para 50 cêntimos"

    A inflação nunca foi tão baixa em Portugal desde os tempos do outro senhor. A evolução do preço de um café não mede a evolução geral dos preços.

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  10. Urge criar um novo Homo.
    Só assim será possível a globalização ideológica.
    Com a criação de um concelho mundial, que em si contenha todas as ideologias, unificadas por uma ideia superior, de interesse comum.
    Caso isso não aconteça a breve prazo, a guerra será inevitável, pelo simples facto do crescimento descontrolado da população mundial.
    Não são milénios nem séculos, falo em décadas, para que se encontre uma solução pacifica.

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  11. não há limites para a estupidez.
    Toda e qualquer ideologia é objeto e fruto do ócio e quando atingem o limite revelam-se paradoxais ao o seu próprio fundamento,
    Só a verdade pode fazer evoluir a Humanidade.
    Uma que eu vejo, e, deixa-me preocupado, é que estes primatas racionais não percebem que a globalização é o único caminho a seguir. O motivo, é o crescimento desenfreado desta praga chamada Homem, sobre o único mundo que tem para viver. Há que controlar esta propagação. Não, não querem, preferem ideias de Deuses e Doutrinas ao invés de enxergarem a realidade, quando acordarem pode ser tarde demais.
    É certo que ainda carecem de uma Luz Guia, para não enlouquecerem... até dou uma grátis: «querem saber o Quê ou Quem, esta para além de tudo o que conhecemos?», Então façam desse motivo a união de todos os povos, e partam para o espaço á procura das respostas, dexem-se de idiotices.
    A Europa tinha, sim tinha, porque agora revela que afinal não tem nada, tudo para fazer nascer uma verdadeira união global. Preferem desintegrar, porque todos querem mandar, ter o poder de sujeitar sem ser sujeito, quando percebem que isso não é possivel, tal como meninos mimados, fecharem-se no seu quarto com a birra. Só que este quarto chama-se: nacionalismo e traz sempre o mesmo resultado. Para uns vem a prosperidade que se traduz diretamente num aumento das suas populações em detrimento de outros que são sugados até o tutano, até ao ponto de regredirem humanamente, a tal ponto que apenas sobra a necessidade de alimentarem-se e, o consolo carnal, o que leva também a um aumento das suas populações. Fome dum lado, do outro, poluição e destruição do Planeta. A este processo junta-se a Xenofobia e o resultado é GUERRA. Fazendo ela o controle da praga. Dizem-se Humanos!? Animais, é o que são esses detentores do poder da palavra.
    Só há evolução, quando pelo empírico eliminamos os erros que desequilibram o sistema e os extremismos ideológicos, são a maior arma de destruição maciça desta alegada Humanidade. Ainda nomeiam-se sábios, Homo-sapiens...Homo-troglodyte é que assenta que nem luva.

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  12. É um erro pensar que a Europa falhou e que se cada um for para seu lado teremos o problema resolvido.
    A UE cresceu num mundo que não se manteve imutável. Foi criado um bloco económico, bem ou mal, foi criado. E blocos mais poderosos foram ( e estão a ser) criados, precisamente porque o bloco UE nasceu.
    Só sobreviveremos se nos mantivermos juntos, bem ou mal, em bloco. Porque a economia actual faz-se á escala planetária e assim como os grandes portentos empresariais se formaram da junção de forças de empresas mais pequenas, também só sobreviveremos se juntarmos a nossa força á de outros (de preferencia geograficamente perto)na luta de blocos económicos que se adivinha para as próximas décadas.
    A mim parece-me que de facto o fim está bem perto. Porque será nesta luta de titãs ( blocos económicos) que se decedirá o futuro da humanidade. Ou crescemos como seres inteligentes que pensamos ser ou nos autodestruimos todos. O tempo de fazer essa escolha está mais próximo do que pensamos.

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