segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A evolução recente da taxa de desemprego

A evolução recente da taxa de desemprego surpreendeu, pela negativa, o governo. Tenho experimentado alguns modelos simples para tentar prever a evolução da taxa de desemprego e confesso que, se tivesse olhado para esses modelos antes de conhecer o comportamento recente da taxa de desemprego, também teria sido surpreendido pelo tão grande aumento da taxa de desemprego no quarto trimestre de 2011 e, em menor grau, no primeiro trimestre de 2012. Desiludido com esses resultados, experimentei uma abordagem alternativa, inspirada em modelos mais tradicionais, muito ad hoc. Em rigor, com esta abordagem não produzo previsões da taxa de desemprego observada, mas sim a previsão daquilo a que talvez se possa chamar "taxa de desemprego potencial", isto é, aquela que se verificará se as empresas apenas empregarem os trabalhadores de que efectivamente necessitam; no fundo, é o limite superior da taxa de desemprego. Esta taxa de desemprego potencial atinge, tal como a taxa de desemprego observada, 14,9% no primeiro trimestre de 2012, embora fique significativamente acima dos valores observados em períodos anteriores. Agora as más notícias: de acordo com esta abordagem, se a taxa homóloga de crescimento real do PIB for -3,3% no último trimestre de 2012 e admitindo que os empresários mantêm expectativas negativas para lá de 2012, a taxa de desemprego no quarto trimestre de 2012 poderá vir a atingir os 18%. Embora sem fundamentação formal, direi que neste caso o intervalo de previsão irá de 16% a 18%.

7 comentários:

  1. Se essa medida consiste em estimar uma abstracção, uma taxa de desemprego potencial, como é que consegues testar a sua precisão?

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  2. a evolução económica tem muito mais de empírico do que científico, principalmente em épocas de crise. a maior parte das decisões económicas por parte de empresas e famílias são feitas com base em expectativas desajustadas. desajustadas devido ao medo/receio...
    hoje mais que nunca, a informação e opinião circula instantâneamente... com tanta gente a opinar, a lançar receitas de sucesso, com a pressão jornalística asfixiante para que todo e qualquer membro de governo diga qualquer coisa sobre outra coisa qualquer, a sociedade e as pessoas vêm-se diariamente bombardeadas com negativismo...
    um excelente exemplo disto são as previsões económicas (sejam do Governo, UE, INE, FMI, etc..) que raramente (com excepções.claro...) são certeiras. a execução económica é normalmente pior que as previsões. por causa do pânico e receio que causa nos agentes económicos...

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  3. A taxa de desemprego não mede o nº de desempregados no país, é um valor do nº de pessoas que estão inscritas no centro de emprego como desempregados. É muito diferente. Se 3/4 dos desses inscritos não recebem qualquer apoio do estado, qual é o incentivo dos 3/4 para se manterem inscritos? Se os centros de emprego ainda ajudassem na procura de emprego dos inscritos, poderia haver um incentivo à inscrição. Mas os centros de emprego apenas registam, arquivam e enviam os nºs. Se de um momento para o outro os desempregados que não estam inscritos no centro de emprego se fossem todos inscrever, o nº talvez duplicasse. Da mesma forma que o nº podia reduzir-se para metade se o governo decidisse que a reinscrição (ocorre de 3 em 3 meses) teria de ser feita presencialmente e não por carta (o envio dessa carta não tem custos).
    Por isso previsões sobre esse valor são dificeis de fazer porque a evolução da actividade economica (presumo que seja atraves dela que faz as contas) é apenas um aspeto que influencia o valor final. A organização do IEFP é muito mais importante.

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  4. Mas há duas taxas de desemprego: a que considera os inscritos nos centros de emprego e a do INE que é calculada com base em inquéritos; esta acaba por ser a mais realista (e geralmente é mais elevada) devido, nomeadamente, aos problemas levantados pelo último comentário.

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    1. O desemprego calculado a partir dos dados do IEFP nem chega a ser usado para o cálculo da taxa de desemprego, uma vez que o IEFP não calcula a população activa. O INE, através do inquérito ao emprego, trimestral, calcula ambos os valores. Noto que o EUROSTAT nas estatísticas mensais recorre a ambas as fontes (INE e IEFP).

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  5. infelizmente a realidade vai nesse sentido. embora sem cálculos próprios, concordo com esta previsão

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  6. A taxa seria bastante mais precisa se não existisse mercado paralelo, mumm...interessante.
    Até as ciências matemáticas andam ao palpite. O momento é a relação entre dois paralelos: a ilusão e a realidade.
    Como governar um mundo assim?

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