sábado, 12 de dezembro de 2015

Pessoas de talento

Esta semana saiu um relatório da Barclays indicando que os hedge funds estão a ter dificuldade em recrutar "talento". Em Portugal, talento refere-se aos artistas; por exemplo, a Catarina Martins é uma pessoa com talento porque é actriz, se calhar é isto que faz dela uma figura política com "talento". Nos EUA, talento refere-se a pessoas qualificadas em geral; no caso dos hedge funds, às que saibam analisar mercados e dados, comercializar activos, etc.

Normalmente, a fonte de talento dos hedge funds vem dos bancos de investimento ou dos mercados de capitais, que contratam a pessoa, a treinam, e por assim dizer absorvem o risco inicial de contratar alguém sem provas dadas no mercado de trabalho. Depois vêm os hedge funds, escolhem os melhores, e beneficiam de talento já establecido, sem por isso correr grande risco inicial.

Após a crise financeira, os bancos de investimento encolheram, mas os hedge funds ainda estão a expandir, logo há uma divergência entre o número de pessoas a entrar nesta área do mercado de trabalho e a necessidade de contratar pessoas já com experiência. Há também um maior dinamismo na área das empresas de tecnologia e muitos jovens, após completarem o seu doutoramento, estão a ir trabalhar para Silicon Valley, em vez de Wall Street. Uma das soluções dos hedge funds é cultivar o seu próprio talento, quer dizer, acompanhar os candidatos desde o tempo da universidade, oferecer estágios e moldá-los às suas necessidades.

Ignorando os julgamentos de valor acerca de hedge funds, que isso fica para outra altura, toda esta dinâmica é interessante por vários motivos:

  • nota-se as diferentes forças do mercado de trabalho a interagir,
  • os jovens ao saber onde há falta de emprego ajustam a sua área de estudo e as suas perspectivas de emprego--se não há emprego na Costa Leste, eles mudam-se para a Costa Oeste dos EUA,
  • há uma perspectiva dinâmica do mercado de trabalho, onde os hedge funds, que são os empregadores, têm uma visão estratégica da sua força de trabalho,
  • os hedge funds reconhecem que a sua estratégia está errada, pois ao não contratarem pessoas directamente da universidade, encolheram o número potencial de candidatos,
  • as pessoas são valorizadas, pois para os hedge funds as aliciarem têm de pagar salários mais altos, e
  • é necessário que os hedge funds trabalhem mais com os jovens e com as universidades onde eles se formam.

Num país com taxa de desemprego baixa, neste momento, a taxa de desemprego nos EUA é de 5%, há maior pressão para as empresas--até os demónios dos hedge funds--valorizarem os seus trabalhadores e encontrarem novas formas de os aliciar. Isto não é impressão minha, um dos novos benefícios que as empresas estão a oferecer aos jovens é o pagamento dos empréstimos contraídos durante a sua educação. As empresas têm de competir entre si para atrair talento.

3 comentários:

  1. Uma pergunta impertinente:

    Todos os gestores de fundos, talentosos, são bilionários?

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    1. Não! Se leres o Kahneman, aprendes que, muitas vezes, não é o talento que é compensado, é a sorte. Mas é giro referir-se a analistas como talento... :-)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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