quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Banif -- resumo da novela

A Comissária europeia da pasta da Concorrência diz que não obrigou Portugal a fazer nada no caso do Banif. Quem enquadrou o problema e tomou decisões foi o governo português; ela apenas verificou que tudo estava de acordo com as regras impostas pela UE. Diz ela que a única coisa desejável era um comprador forte.

Um à parte meu: sinceramente, esta de comprador forte para mim é um bocado estranho, pois está a consolidar-se o risco num menor número de bancos, em que alguns têm um tamanho bem acima do desejável. Para além disso, maior concorrência está associada a maior número de intervenientes no mercado e não a um menor número, logo não compreendo como é que o mandato dela de defender a concorrência é compatível com esta exigência. A consolidação do sector bancário não só reduz a concorrência, como aumenta o risco para a economia.

Sabemos também o seguinte:

Entretanto, disse Carlos Costa, o Governador de Portugal, que o Santander, que representa 14,5% do mercado da banca de Portugal não está sob a supervisão do Banco de Portugal, apesar de ter negócios em Portugal -- isto não é um grande risco sistémico para o país?!?

Recordam-se, certamente, de Vítor Bento ter dito, em Novembro passado, que dentro de três a cinco anos nenhum dos grandes bancos portugueses estará sob controle nacional; pertencerá tudo a grupos estrangeiros. (Lembrem-se disso quando vocês pagarem a vossa hipoteca e o vosso cartão de crédito: o lucro dos vossos pagamentos está a ser enviado para o estrangeiro.) Se a banca for controlada por estrangeiros, suponho que o tamanho do Banco de Portugal será fortemente reduzido, se calhar até deveria ser eliminado -- nos EUA não há um banco central por estado --, pois não haverá grande coisa para supervisionar em Portugal. É esse o corolário da grande estupidez que se está a fazer em Portugal.

10 comentários:

  1. Muitos posts depois da receita das broas volto a concordar consigo, Rita. Essa Direccção Geral de Concorrência cuida de evitar que persistam empresas nacionais com dimensão e entregar o mercado a transnacionais dos países mais fortes da UE ou a especuladores diversos. E a principal consequência da actual configuração das instituições europeias é deixar o tecidos financeiro, económico e político portugueses sem vontade própria. A desgraça é que nem pela esquerda nem pela direita se vê alguém a questionar este caminho. Só nos extremos.

    ResponderEliminar
  2. Nos extremos e na maior autoridade em ciência económica dos últimos 30 anos (ou, pelo menos, a mais coerente), em Portugal, o Professor João Ferreira do Amaral.

    ResponderEliminar
  3. Um comprador forte pode introduzir concorrência numa operação tipo a compra do Barclays (em Portugal) pelo Bankinter (que até agora não operava em Portugal, mas que não é um pequeno banco). Claro que não foi isso que se verificou.

    De resto, se a concorrência fosse efectivamente um objectivo, haveria formas bem mais eficazes de a promover que fusões e aquisições.

    Bastava a muito badalada união bancária permitir a um português abrir e usar uma conta numa instituição de outro país. Abrir é fácil, já receber um ordenado, ou pagar a conta da luz, roça o impossível. Ou seja, serve para quem quer distribuir os seus milhões, não para quem quer fazer a sua vida com um banco diferente que (e.g.) não cobre tantas comissões.

    E, também por isso, quando voltar a falir um banco minúsculo à escala europeia, volta a ser sistémico, porque tem uma quota de 10 ou 20% dum qualquer mercado local, e são muitos depósitos para salvaguardar e garantir.

    ResponderEliminar
  4. "Entretanto, disse Carlos Costa, o Governador de Portugal, que o Santander, que representa 14,5% do mercado da banca de Portugal não está sob a supervisão do Banco de Portugal, apesar de ter negócios em Portugal -- isto não é um grande risco sistémico para o país?!?"

    Mas, por outro lado, também pode diminuir certo tipo de riscos - nomeadamente o perigo de suspeitas ou boatos de iminência de bancarrota pública ou de saída/expulsão do euro dar origem a uma crise bancária (ou mesmo a uma profecia auto-cumprida) é menor se os bancos não forem nacionais, mas sim simples balcões de bancos cosmopolitas.

    ResponderEliminar
  5. A Rita está a favor da nacionalização da banca? Que eu saiba numa economia de livre mercado em que as empresas são geridas por individuos com poucas competencias a probabilidade de irem a falencia é maior do que se fossem geridas por individuos com mais competencias. Na banca é isto que se tem passado, quando não vão à falencia são adquiridas por grupos estrangeiros de maior dimensão. Rita os EUA podem imprimir dólares, Portugal não pode imprimir euros, a partir daqui não há nada de proximo na comparação entre os EUA e Portugal. O mais próximo que se poderia comparar seria entre os EUA e a Alemanha que é quem manda de facto no BCE.
    O Santander Totta não estar sob a supervisão do Banco de Portugal não é nenhum problema para o país. Estar sob supervisão pouco significa dado o historial de problemas recentes, o Santander Totta faz parte de um grupo internacional o Santander e caso houvessem problemas na subsidiária portuguesa não faltaria disponibilidade de capital para resolver os problemas existentes. Quem dera que todos os outros bancos que estao sob supervisão do Banco de Portugal estivessem nas circunstancias do Santander Totta.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu estou a favor de uma supervisão eficaz do Banco de Portugal.

      Eliminar
  6. É. Adivinha-se um futuro brilhante para um país sem moeda, sem Banco Central, sem bancos, sem seguradoras...

    ResponderEliminar
  7. Os Bancos internacionais em solo Português não estão sob supervisão do Banco de Portugal?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi o que Carlos Costa disse--eu não inventei. Podes ir ver ao link que eu meti.

      Eliminar
    2. Se forem filiais, não estão. Pelo mesmo motivo que os depósitos (por exemplo) estão cobertos pelo fundos de garantia dos países de origem e não de Portugal ou de, em caso de saída do Euro, os depositantes nesses bancos teriam o dinheiro salvaguardado (em termos práticos não está em Portugal).

      Os 14.5% correspondem, salvo erro, ao Santander Totta (Português) e não ao banco Santander (Espanhol). O Santander Totta está sobre alçada do BdP, mas quem comprou o Banif foi o Santander "casa-mãe", com sede em Espanha e supervisionado pelo banco central de lá.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.