segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Floricultura 36

Não venhas tarde.
Alguém tem que ir regar a cameleira. Ontem fui eu, e hoje mal posso das minhas costas. Devíamos comprar uma mangueira, isto de andar a carregar regadores de um lado para o outro ainda vai ser o meu fim. Ou então fico paralítica. Das costas. Nem sei explicar, parece que me estão a espetar facas. Ao mesmo tempo que me batem como se eu fosse um tapete, com aquela espécie de raquete de vime. É só pó. Ainda fico tísica também, ontem tossi que parecia que me saíam os brônquios pela garganta. Por falar em pó, ainda me falta limpar os móveis da sala. Mas os meus braços, senhores, tenho umas dores que só me apetece arrancá-los. Não sei se se pode ter varizes nos braços. Ou vai-se a ver e tenho o bicho geográfico, apareceram-me umas manchas do lado de dentro do cotovelo que dão a impressão de serem mapas. É verdade, falta-me lavar a vitrina, senão não se vê aquele que está lá dentro, acho que é do Congo e tem umas marcas vermelhas de vez em quando, não sei para que servem. Eu é que já não sirvo para nada com estas mãos artríticas e só não as arranco porque depois de arrancar uma já não conseguia arrancar a outra. Se arrancar só uma as dores continuam. E para mais ainda fico capaz de esfregar o chão ai os meus ricos joelhos. Estou que me apetece arrancar tudo. Os braços, as mãos, os joelhos. Para não falar das costas, essas eram as primeiras a ir. Mas se eu for arrancar tudo o que me dói, não sobra nada. Pelo menos também já não me ia doer nada. Daqui a bocado vou desincrustar a banheira. Nem quero pensar nas minhas frieiras, são de tal maneira as dores, e duram tanto tempo, e eu também tenho que ir lavar à mão a roupa delicada. E depois é preciso pôr a indelicada na máquina, outra coisa que me deixa derreada das costas. Aposto que também ando com um xantogranuloma necrobiótico porque me apareceram uns papos amarelados na sola dos pés. Ou então é lepra. Se for lepra ao menos já não tenho que arrancá-los, hão-de cair sozinhos. Mas depois não sei como faço para subir ao escadote e limpar as teias de aranha dos tectos. As minhas vertigens, sinto cá uns vómitos, é o estômago às voltas, uma zoeira na cabeça.  Não caio do escadote abaixo por um triz e se caísse é que era um alívio. Se caísse, não, quando cair, que isto é tão certo como eu ser ceguinha daqui a pouco tempo por causa das minhas cataratas, ou se calhar é celulite orbitária, tenho as pálpebras inchadas como melões e de cada vez que olho para a pilha de panelas que ali estão para arear é uma dor desgraçada. Eu ficava agradecida era se me levasse a peste bubónica. Venho à hora que me apetecer, sua chata.

4 comentários:

  1. Eu sabia que era má ideia ir ao médico e meter no Facebook. Parece que leste a minha ficha médica... Quase!

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    1. Não me digas que tens o bicho geográfico? (Sim, é mesmo uma coisa, eu nunca invento nada!).

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    2. Tenho um bicho qualquer, doíam-me as articulações, e tenho algum refluxo no esófago por causa de stress. Mandaram-me perder 4 Kg, tenho de alongar os músculos depois das caminhadas, beber menos café, e tomar Zantac. Mas sinto-me melhor, apesar de não ter cortado no café...

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  2. Há cá cada larva. Por que raio se diz que é geográfica?

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