quarta-feira, 26 de abril de 2017

Fado

9 comentários:

  1. OS RATOS REUNIDOS EM CONSELHO
    .
    Algures, entre muito gatos
    Um havia
    Que era, segundo a fama que corria,
    O mais temido caçador de ratos.
    .
    Focinho de arreganho,
    De grande rabo
    E de eriçado pelo
    Para o murganho
    Vê-lo,
    Era o diabo!...
    .
    Nenhum rato caia na tolice
    De sair, sem cautela, do buraco,
    Por mais fraco
    Que o estômago sentisse.
    .
    Não, porque ele era o espectro, era a tortura
    Que rala, que aniquila, que consome!
    Ele era a fome
    E a sepultura!
    .
    O caçador, porém, não era monge;
    E numa noite linda de luar
    Soube-se no lugar
    Que andava longe...
    .
    Então,
    (Vejam aqui os homens neste espelho
    Como eles, fúteis, tantas vezes são)
    Os ratos reuniram em conselho.
    .
    Diziam: - Isto assim não pode ser;
    Antes a morte
    Do que esta sorte:
    Passar dias e dias sem comer!
    .
    E logo alvitrou um, com alvoroço:- Sabem o que é preciso?
    É pôr-lhe um guiso
    Ao pescoço...
    Com o guiso ele próprio nos previne...
    Muito embora no chão se agache e roje,
    Ao menor movimento o guiso tine,
    E a gente foge... -
    .
    Bravo! - gritaram todos - muito bem!
    É assim mesmo!
    Assim!
    Mas quem ha-de ir atar o laço?
    Quem?
    .
    Eu não, que não sou tolo! - afirmou um
    Nem eu - disse outro.
    E enfim,
    Não foi nenhum.
    .
    Há destes casos neste mundo a rôdos;
    Se é preciso coragem numa acção,
    Todos concordam, ninguém diz que não,
    Mas chegado o momento, faltam todos!
    .
    de "O LIVRO DA CAPA VERDE"

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pela partilha, Rui. Este poema não me é estranho. Talvez o tenha lido quando ainda vivia em Portugal.

      Eliminar
    2. O poema é da autoria de João de Deus Ramos, filho de João de Deus, grande dinamizador da obra dos Jardins-Escolas João de Deus.
      É citado na Cartilha Maternal de João de Deus e João de Deus Ramos utilizou o título para o livro de leituras em prosa e verso, com uma apresentação magnífica e uma exigência de compreensão que ultrapassava de longe os "livros únicos" usados então nas escolas primárias.
      Note-se que este livro era para ser lido e compreendido por crianças com idades entre os seis e os sete anos, antes da entrada na escola primária.
      Tive a sorte de poder frequentar um Jardim Escola numa aldeia deste país.
      A única aldeia que tinha, e ainda tem, a funcionar um Jardim-Escola João de Deus.
      Consegue descobrir qual é?

      Veja sff aqui um desses textos e a capa, um tanto danificada pelo tempo, do Livro da Capa Verde.

      http://aliastu.blogspot.pt/2016/05/explicacao-do-mau-tempo.html

      Eliminar
    3. Se a memória não me falha, há um Jardim Escola João de Deus em Coimbra, mas aquela zona não é propriamente uma de aldeia, logo não sei se acertei. (Eu podia ir pesquisar ao Google, mas não vou fazer batota. É mais excitante assim!)

      Eliminar
    4. Coimbra não é propriamente uma aldeia, pois não.
      Mas a tal aldeia fica no distrito de Coimbra. No concelho da Figueira da Foz cidade que também tem um Jardim Escola-João de Deus.

      Eliminar
    5. O Jardim Escola João de Deus (um deles, porque parece que há dois), em Coimbra, fica perto da Escola Secundária de Avelar Brotero, mas eu recordo-me dele porque os filhos de uma amiga minha o frequentaram. :-)

      Eliminar
  2. Pensando bem, faz algum sentido que muitos queiram "change" mas não queiram "to change" - em larga medida, o ponto de alguém querer mudar o mundo é exatamente não termos nós que mudar para nos adaptarmos a ele (claro que alguém terá que mudar, mas os outros, não nós)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não acho que faça sentido algum: como é que se pode ficar na mesma quando tudo em nosso redor muda? O próprio acto de tentar não mudar e ficar na mesma é em si uma mudança, dado que é uma reacção à mudança em nosso redor.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.