terça-feira, 11 de abril de 2017

O mercado da saudade

Portugal é um dos países do mundo com maior percentagem de nacionais a viver no estrangeiro. A coisa é de tal modo exagerada que mesmo quando são considerados números absolutos, a quantidade de emigrantes portugueses a viver em alguns países europeus compara com o número de emigrantes de outros países muito maiores, como Espanha ou Itália. Como toda a gente sabe, e há pouco a acrescentar, a nova vaga de emigração é, grosso modo, altamente qualificada e tem um poder de compra elevado.

Há várias formas de tomar proveito deste fenómeno. O chamado "mercado da saudade", que escoa quantidades surpreendentes de produtos alimentares através das mercearias e restaurantes das comunidades portuguesas no estrangeiro, é um excelente exemplo disso. Ora, se há várias formas de aproveitar o fenómeno, há apenas uma, repetida inúmeras vezes, de o ignorar por completo. Já nem vou falar na falta de atenção que algumas instituições públicas votam aos emigrantes, que tem nos consulados a face mais visível. Mesmo os privados ignoram muitas vezes o filão de consumidores ao seu dispor.

Tenho dois exemplos com que me confronto regularmente, em ambos os casos de setores ditos em decadência, em que os seus intervenientes se queixam amiúde de fazerem cada vez menos dinheiro.

O primeiro é o mercado do livro em Portugal. Um setor particular, altamente protegido, que merecia um post por direito próprio. Este setor protegido mas decadente tem agora ao seu dispor uma geração de centenas de milhares de emigrantes qualificados, e dá-se ao luxo de o ignorar por completo. O principal site de venda de livros, a wook, cobra quase 12 euros para enviar um livro para Inglaterra. Ora isto, enquanto estratégia comercial, parece-me só muito, muito, muito pouco inteligente. 

O segundo é o mercado dos conteúdos televisivos. Os principais canais de televisão portugueses têm plataformas que permitem ver episódios dos seus programas online. A primeira crítica que faço é que, muitas vezes, os gestores das plataformas levam demasiado tempo a pôr disponíveis os episódios mais recentes. A outra crítica que faço é que as próprias plataformas beneficiariam de ser atualizadas. Nenhuma delas tem integração com o Google Chromecast, algo que seria tão fácil de fazer. O Google Chomecast, que eu e vários milhões de pessoas usam, permite transmitir no ecrã da televisão os episódios das plataformas de vídeos online. O youtube, por exemplo, faz isso. 

Vá, mexam-se. 

6 comentários:

  1. Ah, meu companheiro de luta! Eu compro coisas numa mercearia portuguesa online (http://portuguesebasket.com/). Em Portugal, tenho um alfarrabista que me alimenta o vício. É barato enviar livros de Portugal para os EUA porque há correio económico.

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  2. "Como toda a gente sabe, e há pouco a acrescentar, a nova vaga de emigração é, grosso modo, altamente qualificada e tem um poder de compra elevado."

    Tanto quanto sei, a nova vaga de emigração é mais qualificada só na proporção em que a população em geral é mais qualificada.

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  3. Eu mando a minha mãe comprar-me os livros. E depois envia-mos ela pelo correio. (Foi isso que fiz com o do LAC e do Fernando por exemplo.).
    Para pessoas que compram livros um bocado por obsessão, isto até dá jeito, por isso acho que afinal não concordo contigo!

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    1. Pois, mas o meu ponto não é o de salvaguardar os interesses dos viciados como eu. É mesmo o de maximizar as receitas dos livreiros. Coisa que, manifestamente, não fazem, ao cobrar preços exorbitantes para o transporte.

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