segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A espera

UNem sei como começar, mas julgo que, no mínimo, num país em que se investiu tanto em infra-estruturas, devia haver percursos de evacuação das aldeias. Não é preciso assegurar que todas as estradas sejam transitáveis em caso de emergência, mas um país tão pequeno devia ter rotas de evacuação e de acesso às vítimas em caso de emergência -- isto é o mínimo. Mas quem visita Portugal verifica que as coisas continuam a ser feitas como calha, as estradas parecem construídas para maximizar o combustível que se gasta a ir de um sítio para o outro, a sinalização é fraca, só quem conhece a área é que se consegue orientar e mesmo esses dependem, muitas vezes, da sorte.

Depois há as comunicações. Se nem os bombeiros nem a polícia têm acesso a meios de comunicação que funcionam, que esperança resta para os habitantes que pouco ou nenhum treino para funcionar nestas circunstâncias extremas? Devia haver um canal de rádio que parasse a emissão e desse instruções à população e toda a gente devia ter um rádio a pilhas em casa para situações deste tipo. Como explicar que depois de Portugal passar décadas a endividar-se para se modernizar, nem sequer há infra-estruturas que sirvam minimamente o país?

Ainda por cima crescemos a ouvir a história dos terramotos -- o de 1755 é o mais famoso, mas houve também em 1344, 1531, 1909, 1969. Dizem-nos que pode acontecer outra vez em qualquer altura, mas nada indica que haja o mínimo de preparação para quando acontecer. Agora que se despende tantos recursos a reconstruir edifícios antigos, será que se leva em conta estes risco? A comunicação social devia fazer uma reportagem de investigação acerca do estado real de preparação. Talvez se recordem que, três anos antes do Furacão Katrina atingir Nova Orleães, o The Times-Picayune publicou uma reportagem em cinco partes acerca do que aconteceria se a cidade fosse atingida por um furacão.

Os incêndios banalizaram-se. Quando estive em Portugal há menos de um mês, vi plumas de fumo no Porto, em Coimbra, e Lisboa. Olhava-se para o horizonte, que devia ser azul, e encontrava uma cor cinzenta. Cheguei a pensar, talvez para me tentar enganar a mim própria, que se calhar era poluição dos carros, aquele smog feio que se vê em sítios como Los Angeles, mas era fumo. Incomodou-me, mas não sei se os milhares de turistas com que me cruzei se tinham dado conta. Quando visitei uns amigos que vivem num prédio onde do outro lado da rua cresce vegetação ao calhas, pensei se havia possibilidade de arder. Talvez daqui a uns anos arda; acho que, se há coisa que aprendemos este ano, é que é apenas uma questão de tempo.

Coimbra

Porto

Foz, Porto







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