quarta-feira, 20 de junho de 2018

Indignação

Tenho visto muita pessoas no Facebook chocadas com a decisão da Administração Trump de separar os imigrantes ilegais das crianças que encontram com eles e que, na esmagadora maioria, são seus próprios filhos. Acho estranho que estejam indignados ou que julguem esta acção da Administração como prova final que os americanos são um povo moralmente degenerado. Note-se que Donald Trump já tem um longo historial de políticas ofensivas e de insultos, logo pouco ou nada nos devia surpreender.

Depois não percebo a conclusão que as pessoas tiram. Perante um governante que usa a lei de forma inovadora para fazer coisas que muitos consideram intoleráveis -- suponho que esta longa descrição é um eufemismo para tirano --, acho que os americanos, mais do que qualquer outro povo, já demonstraram mais do que uma vez estar à altura do desafio:
  • foram para a rua em manifestações a nível nacional mais do que uma vez;
  • processam o Presidente e as instituições que acham estar a violar a lei americana;
  • a acção dos Tribunais mitiga alguns dos impactos das políticas da Administração Trump;
  • a imprensa está a investigar as políticas seguidas e a divulgar as suas consequências e também investiga as acções da família Trump;
  • está a decorrer uma campanha em massa para mobilizar os eleitores para votar contra os Republicanos nas eleições de Novembro;
  • houve também uma enorme campanha para incentivar os cidadãos, especialmente as mulheres e as minorias a candidatar-se a cargos públicos;
  • os jovens americanos estão civicamente activos e lutam contra a política de porte de armas;
  • o Presidente está a ser alvo de investigações oficiais e pode correr o risco de impeachment -- em princípio os resultados serão divulgados em Setembro;
  • há pessoas que já foram presas preventivamente e outras que se deram como culpadas como resultado destas investigações;
  • e, finalmente, tudo isto foi conseguido em menos de ano e meio da Administração Trump.
Tudo isto é do conhecimento público e para mim é motivo de admiração -- um país enorme e heterogéneo como os EUA é capaz de inspirar os cidadãos a tentarem mudar o sistema. Olho para isto e penso: se os americanos conseguem isto, como é que os portugueses mais homogéneos e num país bem mais pequeno não conseguem sequer fazer pressão para Portugal melhorar? Porque é que o nível de abstenção eleitoral em Portugal aumenta cada vez mais e ninguém tenta combater esse fenómeno? O tempo que passam a pensar no Trump pensem em Portugal. Deixem os americanos cuidar do Trump e tentem precaver-se para os riscos que a experiência americana pode ter para Portugal. Depois não culpem os americanos -- acho que todos já temos noção de que a probabilidade de isto acabar mal não é negligenciável. Mas tudo isto porque vos queria recomendar algo. Relativamente ao caso específico da separação das famílias, sugiro que leiam ou ouçam esta peça da National Public Radio que tenta descortinar facto de ficção.

3 comentários:

  1. Acabo de enviar um comentário, mas saiu anónimo por erro. Para não ter de re-escrever dava para por neste nome (ou enviar para ccmeca@gmail.com que eu reposto)

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  2. Dizer mal do Trump é passatempo nacional em Portugal e creio que no resto do mundo. Mas ainda há pouco li n O Insurgente que uma das fotos de um miúdo encarcerado era do tempo de Obama. Tenho a percepção que Obama contou com um jornalismo muito mais soft do que o Trump alguma vez irá contar… (ele também se põe a jeito, claro!). Enfim, cada um tem o Bruno de Carvalho que merece!

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  3. Rita, uma pessoa aborrecer-se com o que os outros se indignam e mandar os outros tratar antes da sua vida é um gasto inútil de energia. Just saying, carry on.

    Pedro

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