Sei que muita gente não gostará disto que escrevo por ser aquilo a que erradamente chamam politicamente correcto, mas que fazer? Gosto mesmo que a nossa selecção seja assim.
Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
domingo, 26 de junho de 2016
Uma impressora a cores
O cigano desarma o croata perto da área portuguesa, o madeirense pega na bola e passa para o negro, filho de de imigrantes, mas nascido em Portugal, que corre com a bola desde meio do seu meio campo quase até à grande área adversária, momento em que passa para o mulato, à esquerda, nascido em Cabo Verde e imigrado, ainda criança, para Portugal, que, já na grande área faz um passe de morte para o madeirense, à direita, que remata contra o guarda-redes, tendo a bola ressaltado para o cigano matar o jogo de cabeça.
Sei que muita gente não gostará disto que escrevo por ser aquilo a que erradamente chamam politicamente correcto, mas que fazer? Gosto mesmo que a nossa selecção seja assim.
Sei que muita gente não gostará disto que escrevo por ser aquilo a que erradamente chamam politicamente correcto, mas que fazer? Gosto mesmo que a nossa selecção seja assim.
A vitória da UE
Esta semana, numa newsletter americana conceituada, cuja audiência são os profissionais do sector financeiro, dizia-se que o Brexit fazia muito sentido porque os europeus não têm identidade nacional e os povos são todos muito diferentes, ao contrário de países a sério, como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde há homogeneidade e identidade nacional. Tal asserção não é suportada pelos factos, pois ambos os países têm movimentos de secessão. Na Escócia e na Irlanda do Norte discute-se frequentemente sair do Reino Unido; mas nos EUA, o Texas também tem um movimento de secessão, com grupos como o Texas Nationalist Movement. A discussão acerca do Brexit e o resultado do referendo estão a ser usados como suporte para se sujeitar a independência do Texas ao seu próprio referendo. No Twitter, no dia do Brexit, as menções de #Texit quintuplicaram.
As pessoas vêem o Brexit e o resultado do referendo como provas de que a União Europeia é um projecto falhado, mas os acontecimentos pós-referendo no Reino Unido suportam exactamente o contrário: dentro da União Europeia, há pessoas que se identificam mais com a UE do que com o país onde residem. E essa identificação é tão forte que estão dispostas a fazer campanha para partir o seu próprio país em pedaços. Com esta reacção, o Brexit acabou por se tornar um sucesso para a UE, pois, pela primeira vez, temos prova de que há um nacionalismo europeu, uma identidade nacional dentro da UE.
As pessoas vêem o Brexit e o resultado do referendo como provas de que a União Europeia é um projecto falhado, mas os acontecimentos pós-referendo no Reino Unido suportam exactamente o contrário: dentro da União Europeia, há pessoas que se identificam mais com a UE do que com o país onde residem. E essa identificação é tão forte que estão dispostas a fazer campanha para partir o seu próprio país em pedaços. Com esta reacção, o Brexit acabou por se tornar um sucesso para a UE, pois, pela primeira vez, temos prova de que há um nacionalismo europeu, uma identidade nacional dentro da UE.
sábado, 25 de junho de 2016
Era mesmo chá...
O que tomaram os britânicos esta semana? Há uma petição online, já com mais de 100.000 assinaturas, a pedir a independência de Londres do Reino Unido, para que a cidade possa ficar com a União Europeia. E a petição para que se considere um segundo referendo já tem mais de dois milhões de assinaturas.
Orgasmicamente brincalhão...
"Ao ver o microfone vermelho da CMTV, António Costa não resistiu à brincadeira e imitou o gesto de Cristiano Ronaldo. Mas, ao contrário do capitão de Portugal, Costa não lançou o aparelho. Limitou-se a avaliar o peso: "isto afinal lança-se bem, não é preciso muita força". Depois, o primeiro-ministro devolveu-o o microfone à equipa de reportagem da CMTV.
Visivelmente bem disposto, o primeiro-ministro percorreu as ruas mais tradicionais do Porto, do dia em que a cidade festeja o São João, o santo padreiro da Invicta."
Fonte: Correio da Manhã
No S. João do Porto, enquanto a Europa (e o resto do mundo!) tremia com a perspectiva do Brexit, o nosso ilustre Primeiro Ministro brincava com o microfone da CMTV. Temos a boa fortuna de ter um PM muito brincalhão -- orgasmicamente brincalhão! Para manter as aparências, alguém lhe devia ter dito para relaxar:
When you want to go to it
Relax don't do it
When you want to come
Relax don't do it
When you want to come
When you want to come
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Água
"Meanwhile, Reuters reports that major Wall Street banks are scouring Europe to find a new home for their traders, bankers and financial licences.
“The question becomes, where exactly do they move to? There’s no clear answer on that. You might end up having a more fragmented financial industry in Europe,” Edward Chan, a partner at law firm Linklaters, told the news agency."
Fonte: The Guardian
Que pena que Portugal passou os últimos meses a assustar investidores estrangeiros. Vejam lá se Portugal não era um sítio porreiro para enfiar esta gente?
Bem me parecia que éramos governados por pessoas que metiam água...
Emoção vs. Razão
O que é que as pessoas sentem quando vêem Hillary Clinton ou Donald Trump?
A resposta está num vídeo do The Washington Post.
A resposta está num vídeo do The Washington Post.
June 22, 2016 9:41 PM EDT - "A research agency measured people’s brain waves to examine how much attention and the severity of emotion people felt while watching clips of Hillary Clinton and Donald Trump. They found that what people feel and what people say they feel are rarely in sync."
Fonte: Alice Li, The Washington Post
Mal aterrou, desatinou...
Assim que aterrou na Escócia, Donald Trump cometeu a sua primeira gaffe, via Twitter:
O vocabulário usado nas respostas ao tweet é muito elucidativo, para além de educativo. Vale sempre a pena aprender os insultos de cada país. Trump foi chamado de:
Just arrived in Scotland. Place is going wild over the vote. They took their country back, just like we will take America back. No games!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 24, 2016
O vocabulário usado nas respostas ao tweet é muito elucidativo, para além de educativo. Vale sempre a pena aprender os insultos de cada país. Trump foi chamado de:
- weapons-grade plum
- muppet
- numpty
- tit
- buttplug face
- toupéd fucktrumpet
- witless fucking cocksplat
- moron
- fucking moron
“When the pound goes down, more people are coming to Turnberry, frankly,” Trump added during an afternoon news conference. “For traveling and for other things, I think it very well could turn out to be a positive.”Fonte: The Washington Post
Um nim...
Hoje de manhã, Bernie Sanders ofereceu a Hillary Clinton o seu "nim": disse que votaria nela em Novembro; no entanto, ainda não anunciou a suspensão da campanha, o que surpreende muita gente. A posição dele é que fará tudo para derrotar Trump em Novembro; no entanto, se não suspender a campanha brevemente, pode estar a contribuir para enfraquecer Clinton.
As últimas semanas não têm sido fáceis para Trump: despediu o seu director de campanha -- quer dizer, não foi ele que disse "You're fired!"; deu esse privilégio a outra pessoa -- e foi divulgado que tem menos de $2 milhões em caixa para a campanha (estou a ser generosa, já vi números de $1 milhão e $1,5 milhões), pois apenas conseguiu angariar cerca de $3 milhões em donativos individuais em Maio. Já Hillary Clinton irá provavelmente angariar mais de mil milhões de dólares. É uma quantia obscena, como já disse Donald Trump, mas tanto Obama, como Romney, conseguiram angariar mais do que isso cada um durante a campanha de 2012. Nessa campanha, conseguir mais do que mil milhões de dólares em donativos era considerado um sinal de força. Este ano é considerado como uma desvantagem, talvez por influência de Donald Trump.
Hillary Clinton irá fazer campanha ao lado de Elizabeth Warren, na próxima semana, e Warren está a ser investigada como potencial "running mate" de Clinton. Apesar de eu concordar com algumas coisas que Warren defende, não a acho uma boa escolha porque lhe falta pragmatismo. Pode ter as ideias certas, mas isso é apenas uma condição necessária; não é suficiente. Uma boa ideia, sem uma boa estratégia de implementação, é inútil. Elizabeth Warren é uma figura polarizante, logo não consegue vender as suas melhores ideias a um público alargado. Clinton já tem problemas de comunicação e, se escolher uma "running mate" que também tem problemas de comunicação, não ficará muito melhor.
Suponho que Warren é atractiva porque apelaria aos apoiantes de Sanders, pois tinham posições semelhantes relativamente a Wall Street, mas ter duas mulheres no mesmo "ticket" é muito arriscado. Um dos argumentos que os apoiantes de Sanders usam contra as mulheres que apoiam Clinton é acusá-las de votar com a vagina. [Não me recordo de ninguém acusar um homem que apoiava outro homem de votar com o pénis; mas as mulheres, para provar que são do mesmo "calibre intelectual" que o dos homens, e não são "tendenciosas", têm de apoiar homens. Ser mulher é uma coisa muito complicada, num mundo onde prevalece a estupidez e a dualidade de critérios.] Warren, como "running mate", seria uma boa escolha para Sanders.
A minha preferência seria para que Clinton escolhesse Michael Bloomberg como companheiro de corrida. Não sei se ele aceitaria, mas acho-o um homem experiente, pragmático, que defende os interesses do país, e que tem visão. Elizabeth Warren não reúne todas essas condições simultaneamente.
As últimas semanas não têm sido fáceis para Trump: despediu o seu director de campanha -- quer dizer, não foi ele que disse "You're fired!"; deu esse privilégio a outra pessoa -- e foi divulgado que tem menos de $2 milhões em caixa para a campanha (estou a ser generosa, já vi números de $1 milhão e $1,5 milhões), pois apenas conseguiu angariar cerca de $3 milhões em donativos individuais em Maio. Já Hillary Clinton irá provavelmente angariar mais de mil milhões de dólares. É uma quantia obscena, como já disse Donald Trump, mas tanto Obama, como Romney, conseguiram angariar mais do que isso cada um durante a campanha de 2012. Nessa campanha, conseguir mais do que mil milhões de dólares em donativos era considerado um sinal de força. Este ano é considerado como uma desvantagem, talvez por influência de Donald Trump.
Hillary Clinton irá fazer campanha ao lado de Elizabeth Warren, na próxima semana, e Warren está a ser investigada como potencial "running mate" de Clinton. Apesar de eu concordar com algumas coisas que Warren defende, não a acho uma boa escolha porque lhe falta pragmatismo. Pode ter as ideias certas, mas isso é apenas uma condição necessária; não é suficiente. Uma boa ideia, sem uma boa estratégia de implementação, é inútil. Elizabeth Warren é uma figura polarizante, logo não consegue vender as suas melhores ideias a um público alargado. Clinton já tem problemas de comunicação e, se escolher uma "running mate" que também tem problemas de comunicação, não ficará muito melhor.
Suponho que Warren é atractiva porque apelaria aos apoiantes de Sanders, pois tinham posições semelhantes relativamente a Wall Street, mas ter duas mulheres no mesmo "ticket" é muito arriscado. Um dos argumentos que os apoiantes de Sanders usam contra as mulheres que apoiam Clinton é acusá-las de votar com a vagina. [Não me recordo de ninguém acusar um homem que apoiava outro homem de votar com o pénis; mas as mulheres, para provar que são do mesmo "calibre intelectual" que o dos homens, e não são "tendenciosas", têm de apoiar homens. Ser mulher é uma coisa muito complicada, num mundo onde prevalece a estupidez e a dualidade de critérios.] Warren, como "running mate", seria uma boa escolha para Sanders.
A minha preferência seria para que Clinton escolhesse Michael Bloomberg como companheiro de corrida. Não sei se ele aceitaria, mas acho-o um homem experiente, pragmático, que defende os interesses do país, e que tem visão. Elizabeth Warren não reúne todas essas condições simultaneamente.
Profundamente triste, profundamente Europeu
Ao escrever aos meus três amigos que moraram comigo durante o doutoramento – um inglês, um escocês e um espanhol – partilhei com eles um pensamento terrível : será que seremos lembrados como a primeira e última geração verdadeiramente Europeia?
Esta ideia deixa-me profundamente triste. Talvez poucos portugueses se sintam tão Europeus quanto eu. Durante a minha licenciatura, fiz parte do boom do programa Erasmus (criado pela UE), através do qual estudei 6 meses emVilnius (Lituânia).
Em 2010, iniciei o meu doutoramento no Instituto Europeu Universitário em Florença – instituto o criado pela União Europeia. A minha pseudo-banda era constituída por um português, um italiano, uma finlandesa, um búlgaro e um holandês. Entre os meus amigos mais próximos encontravam-se alemães, espanhóis, suecos, polacos ou gregos.
Após o meu doutoramento, passei os meus dois primeiros anos como economista na Organização Internacional do Trabalho a analisar a reação dos governos da UE à crise no mercado de trabalho, num projecto financiado pela Comissão Europeia.
Dado o meu percurso será natural que me sinta profundamente Europeu. E hoje sinto-me, consequentemente, profundamente triste. Triste por ver um projecto fantástico perder o rumo. E assustado pela confirmação de que, caso mudanças não sejam feitas, os falhanços da UE em anos recentes em assuntos vitais como a crise financeira ou a crise de refugiados poderão eventualmente levar à sua implosão.
Não se enganem. O Francisco Louçã não tem razão quando disse que “A União Europeia é um projecto falhado". Pelo menos se considerarmos que o primeiro e primordial objectivo da UE era (e é) a manuntenção da paz.
Mas a verdade é que o projecto Europeu tem vindo a falhar. Falhou redondamente na resposta à crise de 2007/08 e tem falhado tragicamente no que toca à crise de refugiados dos últimos anos. E quando assim acontece, a distância entre um projecto falhado e um projecto que tem vindo a falhar pode tornar-se perigosamente curta.
De modo algo paralelo ao que aconteceu com a crise, de novo o worst case scenario foi por muitos considerado de probabilidade zero. E de novo se confirmou que estavam completamente enganados. O Reino Unido está de saída da União Europeia. A Escócia estará perto de um novo referendo sobre a independência (que manteria o país na UE) e a Irlanda do Norte vai realizar um referendo para sair do Reino Unido e se unificar com a Irlanda (mantendo-se também na UE). Da França à Dinamarca, passando pela Holanda e pela Itália, políticos oportunistas pedem um referendo sobre a saída da UE.
Este não é o fim da UE. Mas poderá ser o principio do fim. A menos que os líderes Europeus - e os povos que os elegem – tenham a coragem e a sensatez de encarar esta ameaça ao projecto europeu como uma oportunidade única para finalmente corrigir os problemas com que a UE se tem debatido, particularmente na última década, quer ao nível do seu funcionamento quer ao nível das suas tomadas de decisão.
Neste dia em que se celebra o nascimento de S. João cabe aos Europeus, juntos, acreditar que este dia pode também marcar o nascimento de uma nova e melhor União.
O "day after" ou a caixa de Pandora
Já aqui tive o gosto de me referir ao que o Tratado da União Europeia, no seu
art. 50.º, prevê sobre a saída de um Estado-Membro da UE.
Contados os
votos, as consequências são sobretudo políticas e económicas. Cameron, como não
podia deixar de ser, apresentou a sua demissão e avizinham-se tempos duros para
os tories. Os Trabalhistas também não
saem bem na foto e partidos radicais como o de Nigel Farage ganham um balão de
oxigénio que não previam, em especial porque este último chegou a reconhecer a
derrota do Brexit.
Em uma leitura
nacional, este pode bem ser o início do fim do Reino Unido como o conhecemos. A
Escócia e a Irlanda do Norte votaram Bremain
e é bem real a inevitabilidade de novo referendo sobre a independência dos
escoceses e de uma união entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte,
aliás, mais natural que a situação actual. Abriu-se a caixa de Pandora e, como
sempre, ninguém sabe o que irá acontecer ao certo.
Depois de uma
abertura desastrosa da bolsa londrina e de uma expectável desvalorização da
libra e de deslocalizações de multinacionais nos próximos tempos, creio que o
Reino Unido, fruto da sua indústria, comércio e da Commonwealth, acabará por recuperar. De certa forma, o resultado
espelha o que sempre foi a verdade: aquele Estado só queria a parte boa da
união de comércio livre, sem liquidar a factura devida. Donde, em parte, não é
totalmente má a saída dos Britânicos, saiba a UE aproveitar a crise que já
existia e que agora se declarou de modo inelutável.
Como advertira
já, fruto de nacionalismos que têm que ver com a crise dos migrantes, com o
recrudescimento dos egoísmos nacionais, a União tem de voltar ao seu projecto
fundador, pelo que é sintomática a reunião dos seis primeiros Estados que
celebraram os Tratados de Paris e Roma. Ou a UE passa a um processo de menor
controlo sobre a soberania dos Estados, com eventuais devoluções, uma política
económica com menos “garrotes”, a uma democratização que não existe nas suas
instituições, a uma explicação em massa sobre o que é, para que serve e que
vantagens comporta, ou a agonia moribunda quase putrefacta que já se cheira
será uma realidade.
O Reino Unido
passa agora a estar livre para acordos bilaterais ou multilaterais, talvez mais
vantajosos que aqueles que tinha, mesmo depois da vergonhosa concessão da
União, em Janeiro, de um regime de excepção. Sabemos que a UE se construiu na
base de uma Europa a várias velocidades, tendo sido essa a única forma de
acomodar os interesses de cada Povo. A Europa não é homogénea
sócio-culturalmente, bastando ler qualquer manual de História para o efeito.
Este continente fez-se sempre de pelejas, de animosidades entre Estados, pelo
que as duas Grandes Guerras aqui tiveram o seu epicentro.
A batalha agora
é outra: a UE hipertrofiou-se, pelo que terá de regressar ao seu fundamento
basilar de uma zona de comércio livre. Esse downgrading
parece o único capaz de salvar algo deste belo sonho de Schuman ou Monnet, na
altura justificado por razões económicas e de manutenção de paz num continente em
ruínas. As guerras agora são mais do vil metal, de auto-protecção face a
ameaças externas. O mundo de 2016 nada tem que ver com o da década de 50 da
passada centúria. O terror à escala global teve esta noite uma vitória. O Daesh
deve estar em clima de festa.
Os Europeus
foram incapazes de acordar no essencial e não se pode pedir a um conjunto de
Povos com interesses antagónicos entre si que renuncie à sua própria natureza.
É como pedir a um escorpião que não espete a sua letal arma.
E Portugal? Como
economia periférica, perde um importante parceiro de exportação, o seu mais velho
aliado que sempre nos levou a melhor, fruto do pragmatismo inglês, bastando
lembrar o Ultimato que nos conduzir à desgraça da Corpo Expedicionário
Português e, séculos antes, o Tratado de Methuen. O Governo deve já começar a
negociar com Londres um acordo bilateral que garanta o essencial dos direitos
da comunidade lusófona altamente qualificada que aí vive. Pelo seu número e, em
geral, boa integração, não antevejo problemas de maior.
Não é o fim do
mundo. Pode ser o fim da UE como a conhecemos ou o seu termo puro e simples, em
especial se nada se aprender com esta majestática lição. Estávamos todos a
precisar deste terramoto como de pão para a boca. Serão os políticos e
burocratas europeus capazes de ultrapassar um desafio sem precedentes na
história da União? Ou o anão político em que esta se tornou, incapaz de ser um global player, terá já contaminado a
tessitura de que são feitos estes homens e mulheres?
Orgulhosamente, sós
12 anos antes de um destes dias, tive um rude awakening. Literalmente. Na altura vivia numa residência universitária, e uma colega americana batia-me à porta do quarto para me dizer, chocada, que eu não ia acreditar: o Bush tinha sido re-eleito. Foi a primeira coisa de que me lembrei, quando acordei hoje e vi as inúmeras mensagens no telemóvel que tinha por ler. É curioso como o sub-consciente encontra pontos de referência para que não nos dispersemos em racionalizações.
Os resultados confirmaram a minha teoria de que o fator mais importante para explicar o resultado do referendo seria o modo como a campanha gerisse a tensa relação entre Londres e Inglaterra. Londres, a Escócia e a Irlanda do Norte votaram amplamente pela permanência, Inglaterra votou massivamente pela saída. Também já se notou que houve uma diferenciação etária no voto, com os mais jovens a votar massivamente na permanência. Este é um caso, parece-me, de correlação espúria. Calha que, grosso modo, os mais jovens vivem em Londres e na Escócia, e os mais velhos em Inglaterra (onde continuo a excluir Londres). A única separação com interesse analítico é a separação entre Inglaterra e o Reino Unido, e sobretudo a sua capital. A Inglaterra é um país velho, que sente a energia a fugir para se concentrar numa capital que não é tida como sua. Uma cidade que é vista, mais do que uma capital, como uma colónia simultaneamente britânica e europeia, mas nunca inglesa. Um símbolo vivo daquilo que é necessário para manter a ligação indesejada entre Inglaterra e o seu espaço geográfico mais próximo, em vez de a ligar ao mundo.
A desagregação do Reino Unido parece um risco real. O SNP tem inscrito, no seu manifesto político, que qualquer alteração significativa face à realidade de 2014 significaria um novo referendo à permanência da Escócia no Reino Unido. O Sinn Fein já veio clamar por um referendo à re-unificação da Irlanda. Muita gente estará a ver o possível fim do Reino Unido como um custo da decisão inglesa de sair da UE. Uma espécie de apesar disso, ainda assim votaram pela saída. Eu não vejo a coisa dessa maneira, de todo. Acho que, mais do que um custo, é parte da motivação.
Temos pena...
Pior do que o Brexit, é ter o Brexit e Donald Trump no mesmo dia. Amanhem-se...
Leaving now for a one night trip to Scotland in order to be at the Grand Opening of my great Turnberry Resort. Will be back on Sat. night!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 24, 2016
Humilde dedicação
Caros humildes,
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