sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Fanatismo ideológico

O caso mais grave, ou mais óbvio, de fanatismo ideológico neste governo é o de Nuno Crato. É por fanatismo que se dedica a estragar o que de melhor se fez em Portugal nos últimos 20 anos. Ainda por cima, este ministro ficou simultaneamente com duas pastas: a da educação e da ciência. Se ao menos tivesse ficado só com uma, só estragava uma delas. Muito possivelmente, a longo prazo, os maiores danos que este governo está a fazer a Portugal são protagonizados por Crato.

Este comentário é a propósito de um excelente artigo de Daniel Oliveira.

3 comentários:

  1. A política para a Ciência deste Governo tem sido um descalabro. Apesar de achar que como estava de antes não estava necessariamente bem, não me parece aceitável o que se passou este ano. No entanto, algumas ressalvas (até por desconhecimento dos dados):

    - Quantas das bolsas (tanto de doutoramento como post-doc) são em território nacional e lá fora?
    - Quantas são candidaturas "de facto" individuais e quantas são apenas "mão-de-obra" para os orientadores ou centros de investigação?

    Estas perguntas faço-o porque o modelo actual de investigação está deturpado: passou-se de um regime das bolsas serem atribuídas a quem quer, de facto, seguir uma carreira de investigação para pessoas que, à falta de outra coisa, tentam umas bolsas. Mais, as bolsas deveriam ser para benefício directo do bolseiro e não uma forma encapotada de financiamento de orientadores ou laboratórios. Finalmente, não sei até que ponto não seria positivo voltar às orientações de financiamento que priveligiem os doutoramentos no exterior e os post-docs de estrangeiros (ou antigos doutorandos no exterior) em Portugal.

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  2. Caro Carlos Duarte, relativamente à afirmação "...não sei até que ponto não seria positivo voltar às orientações de financiamento que priviligiem os doutoramentos no exterior e os post-docs de estrangeiros (ou antigos doutorandos no exterior) em Portugal", sem querer generalizar, pois há casos de mérito divulgado e não divulgado pela comunicação social, posso dizer-lhe com conhecimento de causa que esses doutorados no estrangeiro quando regressam encontram muitas "dificuldades" em Portugal para continuar a sua investigação, muito mais do que encontrariam no estrangeiro. Primeiro, porque nos quadros das instituições de acolhimento há poucos doutorados com experiência internacionalmente validada de pós-doutoramento que possam recebe-los nas instituições nacionais (os contactos por escrito com propostas de trabalho ficam sempre sem resposta das instituições portuguesas). Segundo, porque se tiverem a "sorte" de serem aceites por uma instituição ficam reféns de interesses muitas vezes mesquinhos desses supostos supervisores - ex. "esta sua tese de doutoramento tem menos de 200 páginas e por cá é que se fazem doutoramentos sérios com mais de 400 páginas", "estes tipos que fizeram doutoramentos lá fora a encher chouriços só vêm destruir as nossas carreiras e podem passar à nossa frente nos concursos", "você não é do quadro e só faz aquilo que eu mandar por isso não venha com ideias de fazer grandes progressos", "se vai trabalhar para mim só colabora com quem eu quiser e só publica o que eu autorizar" - um pós-doutorando supostamente afirma a sua independência como investigador e a colaboração e comunicação entre instituições portuguesas tem melhorado mas ainda é difícil. Terceiro, o investimento em investigação é muito baixo, demasiadamente burocrático e normalmente chega à instituição quando bolseiro de pós-doutoramento já terminou a bolsa. A bolsa é um subsídio de subsistência do bolseiro mas também serve frequentemente para financiar parte do trabalho de investigação, pós-doutoramento à portuguesa é pagar para trabalhar. E por último, parece que ninguém se preocupa em verificar como são usados esses investimentos, e se os investigadores que apresentaram o projecto foram os mesmos que aplicaram esse investimento.
    Muitos doutorados portugueses que voltam para Portugal e que usufruem de bolsas de pós-doutoramento têm estado a fazer as carreiras de professores, investigadores que de outro modo nunca teriam alcançado os lugares de topo. Os melhores ficam só por uma bolsa e voltam para o estrangeiro. Os outros por não conseguirem trabalho lá fora ou por motivos familiares vão ficando uns anos com bolsa, noutros como voluntários mas esperando sempre que num concurso futuro tenham a "sorte" de ser selecionados. Salvo raras excepções, como referi no início, é isso que tem acontecido nas últimas duas décadas da investigação portuguesa. Estas medidas de redução de investimentos nas bolsas e projectos de investigação vão dificultar a vida a muitos investigadores que têm realmente feito o trabalho de campo, de laboratório e de secretária na maioria das instituições. Recentemente tivemos notícias de grupos de investigação que procuraram e conseguiram o financiamento no estrangeiro, e trabalham em Portugal colaborando a nível internacional com outros grupos. E é assim que os melhores grupos de investigação vão sobreviver nas próximas décadas. Talvez estes cortes se revelem benéficos a longo prazo para os doutorados portugueses.
    MRM

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    1. Caro/a MRM,

      Concordo com tudo o que escreveu, tendo passado por uma situação similar (diria até pior, mas não tenho distanciamento suficiente para poder afirmar isso sem mais nem menos).

      O meu comentário "terminava" (se quiser) na bolsa de post-doc e não tinha pretensões de ir mais longe que isso (nomeadamente no problema de falta de lugares de carreira que permitam investigação em Portugal). Tirando casos excepcionais (e, nesses casos, parece-me que uma bolsa atribuída no ambito de projecto ou a um laboratório faz mais sentido), o que tem lógica é a procurar de conhecimento no exterior, fora do local de origem. Daí achar que bolsas de doutoramento devem ser direccionadas para o exterior.

      Pela mesma razão, as bolsas de post-doc (e, já agora, a carreira científica) devem privilegiar o transporte de novo conhecimento para o país, daí deverem ser atribuídas a quem vem de fora.

      O que se deve evitar e combater é a endogamia "científica" que ainda grassa no nosso país, onde se dá prioridade "aos da casa". E isto aplica-se tanto a percursos científicos (pessoas que fazem TODO o seu percurso na mesma instituição, de licenciatura/mestrado, via doutoramento, post-doc e entrada para o corpo docente) como académicos (vejam os concursos para professor e vejam a origem dos candidatos e quem fica colocado).

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