terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Cultura chiclete

Detesto a frase “ninguém é insubstituível”, como se as pessoas fossem descartáveis, tipo gillettes. A frase é estúpida e falsa. Por exemplo, hoje, muita gente queixa-se da falta de grandes líderes políticos, de líderes corajosos e visionários. Esquecem-se que esses líderes não nascem do nada. Como lembrava Filipe Ribeiro de Meneses, num artigo a propósito dos 50 anos da morte de Winston Churchill, a “experiência acumulada ao longo dos anos conta para muito na vida pública; erros iniciais podem e devem ser perdoados”. Líderes com a visão e a sabedoria de Churchill precisam de um longo processo de aprendizagem. Precisamente aquilo que esta cultura chiclete, do mastiga e deita fora, não permite.

5 comentários:

  1. Caro José Carlos Alexandre,

    Não me parece que a frase possa ser interpretada assim (eu pessoalmente prefiro, por ser mais cortante, a versão "os cemitérios estão cheios de gente insubstituível"). A frase deve ser interpretada (IMO) em termos auto-avaliativos: por melhor que eu seja, por mais importante que me ache, na realidade faço falta enquanto por cá andar. Nada me dá o direito de achar, por essas razões, que sou o melhor ou o indispensável, em deterimento dos outros.

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  2. Há uns anos atrás, fiquei chocada quando me disseram que em Portugal um profissional com 40 anos já estava velho. Parece-me um pouco exagerado.

    Quanto a líderes insubstituíveis, frequentemente penso no Dominique Strauss-Khan. O mundo, e a Europa em particular, seria muito diferente se ele tivesse estado à frente do FMI. Sim, o homem gosta demasiado de saias; mas, na política, é, na minha opinião, competente.

    Outro líder interessante, e que parece ser insubstituível, é o Bill Gross, que foi fundador da PIMCO. Hoje de manhã estava a ler sobre o seu despedimento--finalmente admitiu que foi despedido (http://www.bloomberg.com/news/2015-01-12/gross-says-pimco-fired-him-after-offer-to-scale-back-role.html). Faz lembrar a saída de Steve Jobs da Apple.

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  3. Caro Carlos Duarte
    Concordo consigo se realmente a frase for vista nessa perspectiva, ou seja, como forma de autocrítica, de humildemente sermos capazes de reconhecer as nossas falhas e limitações e de reconhecermos de que sozinhos não conseguimos fazer nada, que estamos sempre dependentes dos outros, etc.. Mas, na maior parte das vezes, pelo menos com base na minha experiência e naquilo que vejo, a frase é dita por alguém como forma de aviso aos outros, do tipo ponham-se finos porque vocês são descartáveis e fáceis de substituir.

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  4. Também concordo com a Rita, pelo menos no que diz respeito ao Bill Gates, não é todos os dias que aparece um empresário deste calibre e quando aparece não é de certeza por acaso

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  5. Gosto imenso do trabalho do Daniel Kahneman e, segundo os seus estudos, o factor sorte é muito forte em termos de quem chega a líder. Diz ele que as pessoas confundem sorte com competência. Por sua vez o Nassim Taleb também explora a mesma ideia na área de "trading". Normalmente, a longevidade de um líder suporta a asserção de que a pessoa é qualificada, mas, mesmo assim, pode ser apenas uma questão de sobrevivência e não de talento. Mas pessoas como Bill Gates dá para ver que é talento, pois o que ele está a fazer em termos de desenvolvimento económico não é um resultado aleatório.

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