terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Dúvidas de dívida

No Domingo, estava a ouvir a rádio quando um analista, que comentava acerca da Grécia e do programa de QE do BCE, comparou os bonds portugueses com os bonds alemães. Ele disse que a dívida portuguesa era muito má porque a economia portuguesa era muito fraca e a economia alemã era tão melhor. Não sei se é por eu ser portuguesa, mas eu não acho a economia alemã grande coisa. Aliás, na minha cabeça, a economia alemã é um grande puzzle, pois cresce muito lentamente, tão lentamente que me faz lembrar o Japão. E depois, para um investidor, a dívida portuguesa é óptima: boa rentabilidade e Portugal, apesar de tudo, lá encontra maneira de pagar as contas.

Esta semana decidi ir ver a dívida alemã, mais propriamente a dívida das famílias--quando eu estou aborrecida, consulto estatísticas. Encontrei a página de estatísticas da zona euro, que tem uma ferramenta de gráficos muito gira onde construí o seguinte gráfico:

Em 2013, o rácio da dívida das famílias alemãs era de 83,3%, das irlandesas de 191,8%, das portuguesas de 117,5%, e das francesas de 84,5%. Depois comecei a pensar onde é gasto este dinheiro. A maior parte da dívida das famílias está relacionada com a habitação e o carro. Portugal tem tradicionalmente uma alta taxa de habitação própria, mas na Alemanha arrenda-se mais. Fui ao Eurostat, que indica que, em 2013, 74.2% da população vivia em habitação própria em Portugal; 52,2% na Alemanha; 64,3% na Franca; e 69,6% na Irlanda (isto em 2012, pois os números para a Irlanda não estão disponíveis para 2013). Concluo que, ou as casas alemãs são muito caras, ou os alemães gastam muito dinheiro a comprar carros, ou os alemães financiam muito do seu consumo a crédito, ou uma combinação destes três factores--para um povo com a reputação de "poupadinho", parece-me um comportamento estranho.

Note-se também que, em termos de dívida privada (empresas e famílias), a Irlanda está em muito pior estado do que Portugal, o que é muito surpreendente, pois os salários aumentaram muito mais lá do que em Portugal durante a época de boom e a Irlanda tinha taxas de crescimento invejáveis. O efeito da crise financeira é claramente visível na dívida das empresas irlandesas, mas a dívida das famílias irlandesas estava mais alta do que a portuguesa antes de 2008. Ou seja, para mim, nós temos pior reputação do que merecemos, mas também não somos muito bons a projectar uma imagem de confiança em nós próprios.

1 comentário:

  1. Acrescente a Grécia e as informações são ainda melhores...

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.