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sexta-feira, 6 de novembro de 2015
Frases famosas 34
34. Já volto. A maior parte das vezes que é dita, e tem-no sido abundantemente, e tudo indica que continue a sê-lo, dá-se-lhe crédito com razão, ou a quem a diz. Isto acontece porque a maior parte das vezes volta-se mesmo, ainda que nem sempre já. Ou melhor, não sabendo ninguém quanto é já, e quando podemos esperar que seja, aceitamos o advérbio com tolerância e somos flexíveis. Vemos esta atitude recompensada pelo regresso, dentro de um período de tempo que não é nem pouco nem muito, ou que não é um instante como um fósforo, ou uma enorme magnitude como uma viagem a Plutão, de quem a diz. Em algum dos momentos que ocorrem entre queimar-se um fósforo e chegar a outros planetas será já. Este é um facto que nos permite dizer esta útil frase com segurança. Não tememos não vir a cumprir o que ela promete. Não tememos voltar cedo demais nem demasiado tarde, desde que respeitados os limites do fósforo e do planeta. O que não é grande desafio. Um fósforo consome-se em menos de um minuto, chegar a Plutão demora mais de dez anos, entre um minuto e dez anos somos certamente capazes de ter tempo de ir e voltar já. Nem tudo se faz em dez anos, claro. Construir catedrais, por exemplo, costuma demorar mais tempo. Por isso não há registo de alguém alguma vez ter dito vou ali construir uma catedral e já volto. Por seu lado, poucas coisas se fazem em menos de um minuto, pelo menos poucas que façam valer a pena anunciar que já se volta. Em suma, volto já é uma frase que não levanta grandes problemas, não alimenta hostilidades, nem ilude nem desilude, tudo isto graças à flexibilidade e bom senso que caracterizam a espécie. Mas há sempre alguém disposto a dar pedradas no charco, e a romper o consenso em torno dos limites sensatos dentro dos quais é inócuo dizer volto já. Não costumam acabar bem nem os que exigem maior prontidão nem os que esperam maior intervalo. Os primeiros sofrem a cada pulsação das veias nas têmporas, e imaginem como será sofrer pulsações violentas durante dez anos, por exemplo. Os outros, não sofrendo embora, destituem o volto já de qualquer sentido. Tornam-no tão inescrutável como um espirro. E não só para os que esperam mas também para os que dizem são terríveis as consequências. Quando Luan Ping, cortesã do imperador Hou Tzu, disse ao Filho do Céu volto já e regressou num piscar de olhos, que demora menos ainda do que arder um fósforo, não acreditou nela o Senhor, e, era esse o castigo que esperava os dissimulados, mandou que lhe cortassem a cabeça. Quando Xochitl, guerreiro azteca dos exércitos de Cuacuauhpitzá, disse ao Filho do Jaguar volto já e regressou quarenta anos depois, ninguém acreditou que pudesse ser ele e, era esse o destino reservado aos usurpadores, mandou que lhe arrancassem o coração. É como se disse acima, há limites para a flexibilidade.
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Fiquei a conhecer mais uma maneira de contar a história do tempo. "Hou Tzu" é o também conhecido "Sun Tzu"?
ResponderEliminarNão. É um imperador (565-577 d.C.).
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