terça-feira, 5 de abril de 2016

Modas

No outro dia, quando escrevi o post sobre Zaha Hadid, um anónimo deixou o seguinte comentário: "Um horror, mas enfim- há quem coma tudo para parecer estar na moda..." O comentário não foi publicado porque era anónimo e nós não fazemos excepções. Bastaria à pessoa inventar um nome ou uma inicial para ter sido publicado. Acho o comentário bastante pertinente e por isso gostaria de dizer alguma coisa acerca do tema. Concordo com este anónimo: há quem coma tudo para parecer estar na moda; acrescento também que há quem diga mal de tudo para estar na moda. É interessante como os extremos acabam por ter tanto em comum.

Recordei-me das críticas que se fizeram aquando da reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755: as avenidas eram demasiado largas e era considerado um desperdício de espaço; o design antigo da cidade era considerado por alguns superior. Hoje em dia, ninguém acha que as avenidas sejam demasiado largas. O sentido estético evolui com o tempo e o que é considerado mau agora pode tornar-se bom daqui a uns anos e vice-versa. Ainda a propósito de Lisboa, sabem que eu sou uma acérrima defensora da calçada e alguns de vós acharão que eu não sigo os meus próprios conselhos, mas não é verdade. Acho que em termos de funcionalidade, durabilidade, e para o perfil hidrográfico da cidade, a calçada tradicional é, não só estética, como tecnologicamente superior ao que estão a implementar.

Criticar quem "tem" gosto e quem "não tem" gosto é uma forma de ostracizar as pessoas. O gosto é uma coisa cultivada, não penso que nasça connosco, mas estarmos expostos a design variado, algum dele bom, acaba por apurar o nosso sentido estético e ajuda-nos a descobrir o que nos atrai. Também nos ajuda a sermos mais flexíveis porque o nosso gosto acaba por evoluir e notamos que há uma certa tendência para prestarmos atenção ao que é efémero e ao que resiste ao tempo, ou seja, acabamos por desenvolver um apreço pelo processo dinâmico que é a nossa própria vida porque criamos referências temporais.

Haverá sempre pessoas que resistirão a inovações estéticas, especialmente quando se sacrificam coisas que parecem mais funcionais. O iPhone, quando foi lançado, foi fortemente criticado por não ter um teclado; mas, hoje em dia, sabe-se que se abriram outras funcionalidades ao desistir-se do teclado, ou seja, nem sempre a nossa primeira reacção à inovação estética de uma coisa será a nossa última. Parece-me que não ter um espírito aberto e sucumbir tão facilmente a essa primeira reacção é quase uma desistência de estar vivo. Dito isto, gostos não se discutem; julgar as pessoas porque têm um gosto diferente do nosso já é discutível.

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