sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Na expectativa

Esta tarde recebi uma mensagem de um amigo meu em Oklahoma a perguntar se estava em Memphis e a pedir-me para ter cuidado. É um dos meus colegas da residência universitária, que conheci há 27 anos e com quem ainda mantenho contacto. Nas suas palavras, não tenho autorização para morrer antes dele, como se isso fosse uma decisão inteiramente minha.

A cidade -- e outras nos EUA -- está em estado de alerta devido à morte de um cidadão às mãos de cinco polícias de Memphis. Todas as pessoas envolvidas são de raça negra. Tyre Nichols, a vítima, foi parado pela polícia em 7 de Janeiro, ao que se seguiu uma altercação na qual foi espancado, tendo vindo a falecer no hospital três dias depois dos ferimentos que recebeu. Muitos dos detalhes da confrontação não foram tornados públicos para evitar que a investigação fosse comprometida, mas o vídeo do incidente irá ser publicado ainda esta semana e é essa a razão de estarmos em estado de alerta.

Quem viu o vídeo compara o sucedido ao que aconteceu a Rodney King, em 1991, que levou a manifestações e confrontos em Los Angeles. Só que Rodney King sobreviveu e Tyre Nichols, mais de 30 anos depois, não. Os polícias envolvidos na morte de Tyre Nichols foram demitidos pelo Memphis Police Department e foram presos depois de acusados de vários crimes, que incluem homicídio e sequestro. Dois bombeiros da cidade também foram demitidos.

É difícil de compreender como é que nos dias de hoje uma coisa destas ainda acontece. De um momento para o outro, destruiram-se oito vidas, uma delas perdida por completo, mais as vidas dos familiares da vítima e dos agressores. E nos próximos dias, mais pessoas poderão ser afectadas se os receios das autoridades se concretizarem. As manifestações de reacção à violência contra Rodney King levaram à morte de 63 pessoas e a mais de 2.350 feridos.

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