quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Calma antes da próxima tempestade

Desde há uns seis meses para cá que a China tem tido níveis de procura deprimidos por causa da pandemia: primeiro era a política do governo chinês de zero-Covid; depois, quando esta foi abandonada, foi o aumento de casos que levou a que os cidadãos chineses voluntariamente restringissem as suas actividades. Estes eventos beneficiaram o ocidente porque coincidiram com o Outono/Inverno, o que libertou mais recursos para satisfazer a procura do resto do mundo. Agora a expectativa é que as coisas normalizem na China, logo irá aumentar o consumo mundial de energia e outros productos, o que deverá ter efeito inflacionista.

Entretanto, mais de um terço da Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA foi usada para combater os preços altos, mas ainda este mês devem-se iniciar as comprar petróleo para a reconstituição da Reserva. E por falar em Reserva, hoje a Reserva Federal Americana decidiu aumentar as taxas de juro de referência em apenas 0,25%, metade do último aumento, o que indica um abrandamento da política monetária americana, logo o dólar não irá apreciar tanto e até deve depreciar, dado que a expectativa é que o Banco Central Europeu irá ter uma política monetária mais agressiva do que a americana. Não sei foi boa ideia aumentar as taxas de juro tão pouco. Parece-me que a economia americana ainda tem bastante pressão inflacionista, dado que o mercado accionista está a recuperar, o mercado de trabalho ainda está com falta de trabalhadores, e há mais pessoas a comprar casa.

A economia europeia ainda não está refeita do efeito da guerra. No quarto trimestre de 2022, a economia alemã encolheu 0,2%, segundo as estimativas iniciais, apesar da política fiscal expansionista. A Alemanha tem mais de 20 fundos especiais para financiar gastos públicos que não contam para o orçamento normal. Um destes fundos serve para lidar com a crise energética e há outro que financia depesa militar e a intenção é só começar a ser mais poupadinho lá para 2024, dado que em 2023, a emissão de dívida irá atingir níveis record. Claro que tudo isto irá pressionar as taxas de emissão de dívida, assim como a inflação. O BCE terá que aumentar as taxas de juro para lidar com a inflação ou arrisca-se a perder credibilidade.

Com tudo isto a acontecer em simultâneo, é difícil prever o que irá acontecer, mas a probabilidade das coisas correrem mal não é negligenciável. E falta dizer que a Sérvia e o Kosovo andam às turras e há quem fale no potencial de uma outra guerra na Europa.

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