Portugal tem mais casas per capita do que outros países na Europa, logo os bidés não funcionam como entrave à construção, nem sequer à compra de casa. Incentivar o país a construir mais casas é não só um desperdício de recursos, como contribui para o empobrecimento do país. É que o investimento que podia ir para outros sectores com potencial acaba por ir para o imobiliário e, por sinal, já há bastantes casas vazias em Portugal. Casas a mais faz mal ao ambiente porque retiram espaços verdes às comunidades. Sem espaços verdes, há mais aquecimento urbano, interrompe-se o ciclo da água, há mais inundações, pior qualidade do ar, pessoas mais doentes física e mentalmente, etc.
A economia funciona mal porque o estado português funciona mal. O sonho dos portugueses é comprar casa porque é uma forma de se isolarem dos efeitos nocivos das políticas do estado. Quem é proprietário, quando for velho, pode não ter grande coisa, mas tem um teto e está protegido contra a inflação das rendas de casa e, se tem filhos, tem algo para deixar aos filhos, e eles se calhar não têm grande interesse em assumir o risco de as arrendar e preferem mantê-las vazias.
O mercado imobiliário também está ligado ao mercado de trabalho. Veja-se o caso dos trabalhadores que querem ser professores do ensino público. No outro dia, conversei com uma amiga minha, que é professora e tem mais de 10 anos de experiência. Este ano foi colocada a 80 km de casa, com um horário de 14h semanais cheio de furos, sem subsídio de almoço e sem descontos para a segurança social. Esta pessoa tem condições para mudar de casa para poder ir ensinar? Ou sequer manter a sua casa actual e fazer a comuta para esta escola? Depois conclui-se que não há professores e que as rendas são caras, apesar de haver casas vazias.
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