segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Na mesma como a lesma

Aqui há uns tempos houve a ideia de se tirar a restrição de haver bidés nos quartos de banho para incentivar a construção de casas. Eu concordo com a parte de que um bidé não deve ser obrigatório em todos os quartos de banho, mas mais por design do que por necessidades de natureza económica.

Portugal tem mais casas per capita do que outros países na Europa, logo os bidés não funcionam como entrave à construção, nem sequer à compra de casa. Incentivar o país a construir mais casas é não só um desperdício de recursos, como contribui para o empobrecimento do país. É que o investimento que podia ir para outros sectores com potencial acaba por ir para o imobiliário e, por sinal, já há bastantes casas vazias em Portugal. Casas a mais faz mal ao ambiente porque retiram espaços verdes às comunidades. Sem espaços verdes, há mais aquecimento urbano, interrompe-se o ciclo da água, há mais inundações, pior qualidade do ar, pessoas mais doentes física e mentalmente, etc.

A economia funciona mal porque o estado português funciona mal. O sonho dos portugueses é comprar casa porque é uma forma de se isolarem dos efeitos nocivos das políticas do estado. Quem é proprietário, quando for velho, pode não ter grande coisa, mas tem um teto e está protegido contra a inflação das rendas de casa e, se tem filhos, tem algo para deixar aos filhos, e eles se calhar não têm grande interesse em assumir o risco de as arrendar e preferem mantê-las vazias.

O mercado imobiliário também está ligado ao mercado de trabalho. Veja-se o caso dos trabalhadores que querem ser professores do ensino público. No outro dia, conversei com uma amiga minha, que é professora e tem mais de 10 anos de experiência. Este ano foi colocada a 80 km de casa, com um horário de 14h semanais cheio de furos, sem subsídio de almoço e sem descontos para a segurança social. Esta pessoa tem condições para mudar de casa para poder ir ensinar? Ou sequer manter a sua casa actual e fazer a comuta para esta escola? Depois conclui-se que não há professores e que as rendas são caras, apesar de haver casas vazias.

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