segunda-feira, 19 de julho de 2021

Os medíocres

O Arkansas aqui ao lado é um dos estados em que a variante Delta de Covid-19 está a fazer mais estragos; também é um dos estados que tem uma taxa de vacinação mais baixa, na ordem dos 44%, o que é 1% a mais do que o Tennessee, onde eu vivo. Aliás, o TN apareceu esta semana nas notícias porque o estado decidiu terminar a campanha de vacinação de menores. O Jimmy Fallon até tem um slogan novo para o turismo do meu actual estado: "Tennessee: Come for the music, stay for the polio." Os americanos são muito bons a publicitar os seus próprios podres e a deixar passar a pior imagem do país.

A média semanal de casos no Arkansas é de 990, enquanto que no Tennessee é de 551. Um factor muito importante é o tamanho da população e o Arkansas tem 2,9 milhões de pessoas, enquanto que o Tennessee tem 6,3 milhões. Estes números são mais baixos do que os que se observam em Portugal nesta altura: média semanal de casos de 3110 pessoas para uma população de 10,2 milhões e 45% da população totalmente vacinada. 

Segundo me contam os meus amigos portugueses emigrantes ou que têm dupla nacionalidade como eu, quem leva a vacina no estrangeiro e entra em Portugal conta para as estatísticas portuguesas de vacinação, logo convém os emigrantes irem a Portugal este verão. Os portugueses são craques em aldrabar estatísticas para demonstrar que estão melhor do que o que realmente estão, mas como em tudo, algum dia iremos saber a verdade. Só que nem todos, porque decerto alguns morrerão pelo caminho. 

domingo, 18 de julho de 2021

Sem título

Como fiquei de molho esta semana, levei o Julian a passar três dias no hotel de cães, de onde o fui buscar hoje. Tem tosse, o que nunca aconteceu com nenhum dos meus cães. Ele tomou as vacinas em Setembro, mas não levou o reforço da Bordetella a meio do ano, logo talvez seja isso. Amanhã vou ver se o vet o vê. Claro que estas coisas só acontecem em véspera de fim-de-semana...

Depois de ontem ver o filme, hoje vi um documentário sobre a produção de O Amante do Jean Jacques Annaud, baseado no livro da Marguerite Duras. Quando fui a Oklahoma fiz o download do audiolivro em francês e ouvi parte no regresso, mas não cheguei a terminar. Até gostei do filme, apesar de ter sido muito criticado pela crítica. Suponho que, hoje em dia, no auge do politicamente correcto, nem o livro seria publicado, nem o filme seria feito. 

P.S. O post de ontem: não sabia que título dar a isto e adormeci a pensar nele.

 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Mais sorte do que amor

Lembrei-me esta semana que o carteiro não me tem entregado a minha Architectural Digest. Há um par de dias, o meu vizinho aqui do lado disse-me que estava lá em casa e que ma traria, mas o certo é que não me disse quando. Durante esta conversa, a esposa que estava ao lado e que é enfermeira explicou-me que tem estado em casa deles a tia dela. É uma senhora que deve estar nos seus 50 anos e que se veste como se tivesse 16. De vez em quando vejo-a a passear o cão e também na varanda a fumar, o que me intrigava bastante, dado que hoje em dia é raríssimo ver-se pessoas a fumar por estas bandas.

A senhora é tóxico-dependente e passou um bom tempo sem abrigo em Atlanta, até que foi recolhida pela sobrinha, i.e., a minha vizinha. Durante a conversa, dizia-me a vizinha o quão orgulhosa estava da tia, pois não fazia drogas há mais de 6 meses. Manifestei o meu apoio à senhora, apesar de ela não estar presente, e comentei que estas coisas têm muito a ver com a sorte. A minha vizinha respondeu que também era o amor: quando as pessoas eram amadas, as coisas endireitavam-se.

Pensei em todas as famílias destroçadas por estes problemas, muitas delas com tanto amor, mas mesmo assim as coisas não se resolveram favoravelmente. Pensei para mim que isto é tudo sorte, até para haver amor é preciso ter sorte.     

quinta-feira, 15 de julho de 2021

É do caraças

Estes últimos dias têm sido muito chatinhos. Antes de sair de Stillwater, encontrei-me com dois amigos, um já conheço desde 1995 e a outra conheci em 1997. São pessoas com quem mantenho contacto esporádico, mas considero-os como família. Ele está bem, se bem que desenvolveu diabetes tipo II. Ela, que é mais nova do que eu, está a lutar contra um cancro da mama muito agressivo e nem sequer me tinha dito nada. Esta coisa da pandemia fez-nos ficar mais introspectos e sem noção do tempo. Não julguei que tivesse passado mais de um ano sem ter notícias dela, mas passou. Ainda me é difícil aceitar ou digerir, sei lá, que isto tivesse acontecido. É como se tivesse entrado num universo paralelo.

Depois quando cheguei a Memphis, dois dias depois, a mãe da minha vizinha caiu e tem sido uma odisseia, mas já está em casa e parece animada. Ontem, antes da minha mini-cirurgia, recebi uma mensagem de outra amiga que está em Fayetteville, no Arkansas, e que teve de ter uma intervenção cirúrgica de emergência porque descobriram uma coisa no pulmão, logo retiraram-lhe parte do pulmão como medida de precaução e porque descobriram muito cedo. Quando regressava de Oklahoma, pensei bastante nela, mas como estava com o meu cão não dava para a ir visitar, dado que ela tem gatos e ainda acrescentava umas horas à minha viagem de 9 horas de regresso. 

Mas não me posso queixar, pois está tudo vivinho da Silva. Por falar em doenças, o senhor em Wimberley, no Texas, que morreu de Covid e que era vizinho de uma amiga minha, estava vacinado. Temos de continuar a ter cuidado e a usar máscara nos nossos afazeres diários.      

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Um querido

Andei de cadeira de rodas outra vez, depois de uma pequena intervenção cirúrgica no periodentista. Há quase um ano, ele tinha feito uns enxertos para reconstruir o osso e alguns dentes tinham sido tirados, apesar de todos saudáveis.  Depois, com um laser, limpou o osso em redor dos meus dentes. Saí de lá com cara de elefante, mas é a tal história de eu ter uma doença autoimune e um dos problemas é mesmo o bioma da minha boca que tem umas bactérias que atacam o osso. 

Dessa vez, sem contar com o seguro, paguei mais de 15 mil dólares (tive um desconto de 5% porque paguei a pronto) e agora paguei quase 4 mil dólares para ele meter quatro parafusos para colocar implantes (e dizia a Maria, no post anterior, que os americanos não gastavam dinheiro na saúde; ainda por cima, já não ofereceu o desconto de 5% porque diz que deixaram de dar). Mas também tive de pagar algum dinheiro no dentista normal para serviços complementares, foi uns 5 mil dólares. Agora para terminar os implantes, ainda vou ter de pagar mais no dentista. O seguro dentário só comparticipa uns 2 mil dólares por ano, logo o tratamento foi feito em dois anos para assim poder ter mais comparticipação.

Não imaginam a odisseia que é limpar os dentes. As enfermeiras e o periodentista insistem que é preciso não me esquecer, no mínimo, do FBI: Floss, Brush, Irrigate. Usar o fio dental, lavar dois minutos com escova de dentes automática, usar uma maquineta para irrigar entre as gengivas e os dentes com uma solução de água e lixívia (90%-10%). Depois também limpar a língua e usar as mini-escovas entre os dentes. É uma seca fenomenal; estou farta de dentes.

Como só levei anestesia local, estive acordada durante a cirurgia e coitadinha da minha pressão arterial que quando me sentei na cadeira estava nos 117/71, quando o normal é 100/70. Também houve o pequeno detalhe de ele me ter receitado um calmante e de eu não ter recebido um na farmácia, logo não tomei. O outro detalhe foi eu não ter lido as instruções dos medicamentos antes da cirurgia, logo não me apercebi que faltava qualquer coisa. Oops...

Bem, mas um dos benefícios de se viver nos sul é que, enquanto ele esburacava a minha boca, dizia: "You're doing great, dear, I'm so happy with how everything looks." E se eu suspirava um bocadito, perguntava logo "Are you OK, sweetie?.." Não faço ideia que coisas dirá aos homens, mas parece-me que as mulheres são beneficiadas. 

Quando cheguei a casa, a construção civil que ocorreu na minha boca começou a doer, logo tomei uns analgésicos e fui dormir. Acordei, umas quatro horas depois, e tinha uma mensagem do médico que me tinha telefonado às 18:30 e me informava que, se eu tivesse algum problema, podia telefonar para o telemóvel dele.      

terça-feira, 13 de julho de 2021

As Mulheres ao Leme

A Christine Lagarde anunciou hoje que a política monetária de apoio à UE vai mudar de formato brevemente, quer dizer, daqui a 10 dias. Será interessante ver o que ela vai cozinhar, mas parece-me ter o diagnóstico correcto: precisa de mudar porque o que está em vigor não funciona, dado o processo contínuo de empobrecimento da UE. 

Também hoje, a Janet Yellen, Treasury Secretary dos EUA, decidiu dar uns conselhos à UE: política monetária expansionista e necessidade de maior apoio da política fiscal. É irónico que os EUA estejam a dizer à Europa que gaste mais dinheiro para acelerar o crescimento; normalmente, os europeus acusam os americanos de ser forretas e de não se importar com o bem-estar dos cidadãos. O certo é que quando é preciso gastar, os americanos gastam. 

O GDPNow é um modelo da Reserva Federal de Atlanta, que tenta estimar o crescimento do PIB americano neste momento, e indica uma taxa de crescimento de 7,86%. Até nem é mauzito...

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Procura-se fim-de-semana

Acordei às 10 da manhã, o que raramente acontece. Raramente para mim quer dizer nem uma vez por ano, mas hoje aconteceu. Às 10:30 já estava preparada para ir com a irmã da minha vizinha tomar o pequeno-almoço e levá-la ao hospital. Estávamos para sair quando recebi uma mensagem dos vizinhos que, enquanto eu estava em Oklahoma, recolheram umas caixas que tinham sido entregues em minha casa. Ofereceram-se para as meter no carro e as virem colocar na minha garagem. Acedi à gentileza e agradeci. Vou ter de pensar numa ideia de como retribuir a atenção. Talvez um bolo...

Os dois sítios onde pensámos ir para o pequeno almoço, o Stak e o The Bagel, tinham esperas de hora e meia e 30-40 minutos. O Stak, que é um restaurante de panquecas, tem um pátio, o que nos interessava mais do que estar dentro do restaurante, mas, surpreendentemente, no pátio só serviam uma mesa de cada vez para não atrapalhar a cozinha, dado que a prioridade era servir as mesas no interior do restaurante. Que parvoíce pegada, deviam era dar prioridade às mesas do pátio e aliviar o interior do restaurante. Acabámos por ir ao Panera Bread, que até estava com muito pouca gente, logo achei mais confortável e seguro.

Quando chegámos ao hospital, a nossa paciente tinha acabado de regressar de uns exames e estava com imensas dores. Mal consegui que sorrisse, apesar de ela me achar imensa piada. As perspectivas de tratamento melhoraram: demorará uns dois meses a sarar a fractura do pélvis e vão colocá-la num centro de reabilitação e vai fazer fisioterapia. Se calhar, ainda sai de lá melhor do que o que estava, mas suspeito que irá ter de usar oxigénio para o resto da vida, o que não lhe agrada muito. Nesta idade de 87 anos não podemos ser muito vaidosos.

O resto do dia acabou por ser muito mais calmo, pois passei-o em casa e deu para fazer sopa antes de ir buscar o Julian ao hotel. Consegui apanhar a reunião de Zoom semanal com as minhas amigas do Texas. Uma delas, que vive em Wimberley: uma pequena vila muito perto de Austin, que tem a notoriedade de ter muitas inundações rápidas (será enxurrada uma tradução melhor?), aliás, fica no que os americanos chamam de Alameda das Inundações Rápidas. 

Dizia a minha amiga que um vizinho já de idade partilhava a casa com um rapaz jovem que não quis ser vacinado. O jovem apanhou Covid e deu-o a um outro vizinho, que vivia com o marido--um dos membros deste casal era filho do senhor de idade. Ao fim de algumas semanas no hospital, o vizinho acabou por falecer de Covid esta semana. Agora o jovem que recusou a vacina arrepende-se de não se ter vacinado.

Após passear o Julian, ainda passei por casa de uma outra vizinha que me deu uma tour do jardim, que eu nunca tinha visto, e me mostrou algumas das peças de arte que colecciona. Por acaso, nunca lhe mostrei a minha casa, mas já a trouxe para ver o meu jardim. Claro que o meu jardim ainda está uma confusão que espero se resolva daqui a uns meses. Quanto à casa, ela segue-me no Instagram, logo já deve ter visto algumas das minhas idiossincrasias.

E pronto, procura-se fim-de-semana que este desapareceu...

domingo, 11 de julho de 2021

Não é doce

É quase 1:25 da manhã e não é nada como as Doce cantavam. A mãe da minha vizinha caiu na sexta-feira de manhã e desde então deteriorou bastante a sua saúde. É impressionante a forma como o nosso corpo com a idade fica descontrolado tão rapidamente. Ao final do dia, quando a visitei achei o caso perdido a não ser que ela fosse às urgências. Só que a senhora recebe cuidados paliativos em casa e se ficasse internada, esse serviço seria descontinuado. Que escolha tão cruel, pensei, mas a realidade é que a saúde dela está de tal forma que apenas há possibilidade de se gerir a situação, mas não há como rodar o relógio para trás.

Por causa da queda doía-lhe a anca, logo ficou de cama. Chamou-se o pessoal dos cuidados paliativos que lhe colocaram uma fralda, mas ela não conseguia fazer nada, mas pedia para ir ao quarto de banho a cada dois minutos. Chamou-se as enfermeiras outra vez que lhe colocaram uma sonda, mas continuou a querer levantar-se porque tinha vontade de ir ao quarto de banho. Era só o que pedia, como se estivesse reduzida àquela necessidade básica. Pouco ou nada dormia, transpirava imenso, tinha a tensão arterial altíssima. 

No Sábado de manhã, ofereci-me para ajudar a cuidar dela e fui colocar o Julian no hotel de cães. No caminho, telefona a minha vizinha a dizer que decidiu que o melhor era levar a mãe às urgências. Era o que eu pensava também e quando regressei já havia uma ambulância à porta. Fomos para o hospital, onde nos mandaram telefonar no espaço de 30 a 45 minutos para saber em que quarto tinha ficado. Nos EUA, quem chega de ambulância a um hospital tem prioridade no atendimento. 

Aproveitámos para dar um pulo ao Starbucks e comemos alguma coisa, dado que já passava do meio dia e regressámos. Recentemente, mudaram as regras e permitem que agora haja duas pessoas com cada paciente nas urgências e nas enfermarias. À entrada, pomo-nos à frente de uma maquineta com câmara, que nos tira a temperatura e administra um questionário. Depois dá-nos um autocolante para indicar que podemos entrar. 

Primeiro, a paciente estava bastante apática, acho que o cérebro já estava com falta de alguma coisa, pois ela já não bebia grande coisa, nem comia quase nada. Quando foi admitida, o nível de oxigénio estava muito baixo. Demorou umas largas horas até que voltasse a ter noção da realidade e, mesmo assim, continuava bastante inquieta. 

Fizeram dois cat scans, um ao peito e outro à anca, e um monte de análises. Encontraram uma pequena fractura e havia fluidos nos pulmões. Também tinha uma infecção urinária e decidiram testar se tinha sépsis. É uma aflição enorme ver alguém que estamos habituados a funcionar quase normalmente num estado tão debilitante. Nestas alturas, fico bastante feliz por não ter filhos; parece-me mais fácil emocionalmente apenas ter estranhos a tomar decisões. Bem sei que é uma porcaria e precisamos alguém que advogue por nós, mas dá algum conforto saber que nunca iremos causar dor a entes queridos, pois estes não existem.

São quase duas da manhã. Vou dormir...


      

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Foi ao banco

Foi publicada no Diário da República, no dia 5, a criação do Grupo de Projecto Património Fotográfico Nacional  que precede a criação de um Museu Nacional da Fotografia. 

Não foi especificado como é que se vai pagar esta obra, mas uma possibilidade é o Primeiro Ministro se ter despachado na sua ida ao banco. Está bem pensado que, no meio de uma pandemia, haja a preocupação de se preservar o espólio fotográfico e o disponibilizar num museu. Decerto que os portugueses desempregados apreciarão terem mais este entretém onde passar o seu tempo. 

O local mais adequado para a localização desta obra seria a localidade com maior taxa de desemprego de Portugal, pois assim criar-se-iam alguns postos de trabalho e promover-se-ia o turismo porque há bastantes portugueses interessados em visitar um museu de fotografia. 

Por exemplo, o Centro Português de Fotografia, no Porto, está sempre bastante vazio porque as pessoas receiam que seja um sítio tão movimentado que nunca lá aparecem. Mesmo os turistas que se interessam por literatura e que não se importam de fazer fila e até pagar para visitar a livraria Lello para comprar um livrito para ler no avião têm tanto receio da popularidade do CPF, que fazem o supremo sacrifício de não visitar a cela onde esteve preso o Camilo Castelo Branco. 




quinta-feira, 8 de julho de 2021

Road trip

 À segunda vez, o Julian já percebe o que é uma road trip e dormiu quase toda a viagem. Tivemos sorte com o trânsito ao entrar em Memphis e, apesar da velocidade reduzida, não chegou a ficar parado, logo completámos o percurso até casa em pouco mais de nove horas e fizemos quatro paragens. 

Por sorte, na viagem de regresso, parei em dois parques de descanso no Arkansas que desconhecia, mas que achei bastante interessantes. Um deles tem uma vista deslumbrante e o outro um pequeno jardim, que, com o calor já estava bastante adiantado, com muitas das plantas a caminho de produzirem semente.

No Arkansas, os parques de descanso têm todos um grelhador de carvão ao pé de casa mesa. Acho que quase ninguém os usa, mas eles lá estão. Não me recordo de os ver em outros estados, mas daqui para a frente irei prestar mais atenção.

Ficam algumas das fotos dos parques de descanso da ida e da volta no Arkansas.


terça-feira, 6 de julho de 2021

685

Hoje terminei de ler The Portrait of a Lady, de Henry James. A versão que li tem 685 páginas e confesso que me assustou imenso começar a ler, pois achei que fosse demasiado maçudo ou que perdesse o interesse a meio. Surpreendentemente, agradou-me bastante. 

Não vou descrever a história, mas há dois pontos que achei muito interessantes e apropriados para os dias de hoje.  O primeiro é uma diatribe de Henrietta Stackpole, uma modernaça americana, acerca do carácter de Lord Walburton, um nobre inglês. Diz ela que o carácter dele é ser dono de metade de Inglaterra, um país que era considerado livre e no entanto ela descreve o contrato social vigente como "ownership of wretched human beings". Para ela, a única coisa de que se deve ser dono são objectos inanimados. 

O livro desenrola-se em finais de 1860 e foi publicado em 1880-81. Note-se que a escravatura foi abolida nos EUA em 1865 (Juneteenth), logo a visão que Henrietta tem dos EUA é muito mais avançada do que a realidade o era. Mas Inglaterra era muito retrógrada, achava ela.

A segunda coisa é mais diáfana e tem a ver com o papel das mulheres na sociedade. A ideia é que uma mulher com dinheiro é livre de fazer o que lhe dá na telha e, no entanto, a personagem principal  que dizia desejar ser livre acaba por fazer escolhas que a limitam cada vez mais, apesar de ter uma situação abastada. O contraste entre o que devia ser e o é é muito interessante.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Agridoce

Stillwater, OK, foi o primeiro sítio que me acolheu nos EUA. No último ano e meio regressei três vezes e talvez desta sinta mais o passar do tempo. O campus da universidade está muito diferente por um lado e, por outro, tem quase todas as coisas que tinham significado para mim. Falta as lojinhas que tinha na Student Union, onde encontrei vários coisas que me agradaram tanto que ainda as tenho. E a última vez que estive na livraria não gostei tanto da nova localização, como gostava da antiga e o recheio da loja estava um pouco mudado.

É muito fácil olhar para a cidade e pensar em todas as vidas que eu podia ter tido e não tive, coisa que não me acontece quando visito Portugal. É para mim extremamente difícil imaginar uma vida profissional em Portugal, dado que é mais estrangeiro para mim do que os EUA. Já não vou a Portugal há três anos, mas tirando os meus amigos, não sinto grande falta.

Parabéns aos EUA, que completam 245 primaveras, e hoje é também o dia da minha cidade em Portugal.



sábado, 3 de julho de 2021

União

O nosso passeio matinal foi em redor do Boomer Lake. Fiz este percurso muitas vezes quando vivia aqui, mas já me tinha esquecido de muitos detalhes como as pontes de madeira que unem certas bermas. Sou feliz ao pé de água. Apesar de fresco para Oklahoma, o Julian teve alguma dificuldade em terminar a volta; para a próxima, teremos de encurtar e virar para trás. 

Em redor do lago, notei que algumas das árvores são recentes e não existiam há 20 anos. Os espaços de habitat para pássaros também não existiam: em vez de plantarem e cortarem a relva, há zonas onde deixam crescer vegetação nativa e ao pé destas foram instaladas casas para os pássaros. Fiquei surpreendida que tantos pássaros aproveitassem a gentileza.

De tarde, fomos jantar a Oklahoma City após o ensaio do casamento.Nunca tinha conhecido o noivo, mas ele já tinha ouvido falar muito de mim. Acho engraçado, mas não faço ideia o que a minha ex-sobrinha lhe disse a meu respeito. Já não via as minhas quatro ex-sobrinhas há uns 10 anos. Estão muito crescidas: a mais velha casa amanhã e a mais nova está a terminar o secundário e vai estudar na mesma universidade onde eu estudei.

Só conheci as duas mais velhas quando elas já tinham uns quatro anos, mas as mais novas acompanhei desde o seu nascimento. Como deixei de as ver ainda as mais novas eram pequenas, não me parece que se recordem de mim. Ou pelo menos são bastante tímidas na minha presença. É qualquer coisa de mágico a velocidade a que as crianças cre,scem ou o tempo passa, sei lá. Estas criaturas, que um dia eram indefesas e que nós tentávamos proteger, já têm vontade própria. 

E é eestes preparos que a mais velha se prepara para se unir.








sexta-feira, 2 de julho de 2021

Oklahoma is OK, Portugal is not

Ora viva. Estou em Oklahoma, depois de quase 10 horas de viagem. Sair de Memphis foi um pesadelo por causa da ponte M estar avariada. O trânsito no acesso à outra ponte estava muito pesado e quase metade era camiões. A zona entre Memphis e Little Rock é sempre penosa, mas assim ainda é mais. E tivemos alguma chuva. Também houve a particularidade de esta ser a primeira longa viagem do meu cão, logo tive de fazer quatro paragens. Acho que ele não ficou com grande apreço por viagens longas.

Contava ouvir alguns livros audio durante o caminho, mas o Audible não fez o download e não deu para ouvir nada. Em vez disso, ouvi alguns podcasts portugueses, que já não ouvia há uns meses. Nada mudou em Portugal: toda a gente continua a ser extremamente competente, mas o país não vai para a frente. A novidade é que os empresários têm escolaridade abaixo da média, grande choque. 

Também falaram das medidas supostamente anti-Covid, mas que eu julgo serem anti-inteligência. Fechar os restaurantes ao jantar de fim-de-semana é completamente ridículo nesta altura da pandemia. Há muitos restaurantes que podem perfeitamente servir refeições ao ar livre, logo não faz sentido estarem fechados. Mesmo os que servem no interior, basta fazerem-no com capacidade reduzida. Se o pessoal ainda não aprendeu a conviver com o vírus ao fim de 15 meses, não vai aprender nunca. Logo, vão ficar doentes com ou sem restaurantes abertos. Idem para circulação entre a zona de Lisboa e o resto do país.

Incomoda-me também a falta de noção: abriram o país a turistas e agora fecham os restaurantes ao jantar do fim-de-semana, logo que sentido faz? Ao fim-de-semana, estas pessoas não podem ir a supermercados, muitos nem têm acesso a frigorífico. É completamente idiota porque é uma péssima publicidade ao país. Diga-se que o governo governa com o consentimento do povo, logo os portugueses têm o que escolhem repetidamente.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Antigénio

Segundo confirmou a NPR, amanhã, Nova Iorque vai acusar a empresa da família Trump de crimes fiscais. Imagine-se que os americanos têm uma justiça pior do que Portugal e parece que levam meses a formalizar a acusação após a saída de Trump do governo. Decerto que alguma coisa foi mal-feita, pois em Portugal leva-se anos e assim assegura-se que a lei e os prazos são seguidos à risca, ou não fosse Portugal a sétima melhor democracia do mundo.

Por falar em ser melhor, diz o Jornal de Negócios que o governo vai comparticipar o custo de testes antigénio. Ó diabo, não dá mesmo para ser melhor do que isto: vai-se testar quatro vezes ao mês os antigénios.