domingo, 11 de julho de 2021

Não é doce

É quase 1:25 da manhã e não é nada como as Doce cantavam. A mãe da minha vizinha caiu na sexta-feira de manhã e desde então deteriorou bastante a sua saúde. É impressionante a forma como o nosso corpo com a idade fica descontrolado tão rapidamente. Ao final do dia, quando a visitei achei o caso perdido a não ser que ela fosse às urgências. Só que a senhora recebe cuidados paliativos em casa e se ficasse internada, esse serviço seria descontinuado. Que escolha tão cruel, pensei, mas a realidade é que a saúde dela está de tal forma que apenas há possibilidade de se gerir a situação, mas não há como rodar o relógio para trás.

Por causa da queda doía-lhe a anca, logo ficou de cama. Chamou-se o pessoal dos cuidados paliativos que lhe colocaram uma fralda, mas ela não conseguia fazer nada, mas pedia para ir ao quarto de banho a cada dois minutos. Chamou-se as enfermeiras outra vez que lhe colocaram uma sonda, mas continuou a querer levantar-se porque tinha vontade de ir ao quarto de banho. Era só o que pedia, como se estivesse reduzida àquela necessidade básica. Pouco ou nada dormia, transpirava imenso, tinha a tensão arterial altíssima. 

No Sábado de manhã, ofereci-me para ajudar a cuidar dela e fui colocar o Julian no hotel de cães. No caminho, telefona a minha vizinha a dizer que decidiu que o melhor era levar a mãe às urgências. Era o que eu pensava também e quando regressei já havia uma ambulância à porta. Fomos para o hospital, onde nos mandaram telefonar no espaço de 30 a 45 minutos para saber em que quarto tinha ficado. Nos EUA, quem chega de ambulância a um hospital tem prioridade no atendimento. 

Aproveitámos para dar um pulo ao Starbucks e comemos alguma coisa, dado que já passava do meio dia e regressámos. Recentemente, mudaram as regras e permitem que agora haja duas pessoas com cada paciente nas urgências e nas enfermarias. À entrada, pomo-nos à frente de uma maquineta com câmara, que nos tira a temperatura e administra um questionário. Depois dá-nos um autocolante para indicar que podemos entrar. 

Primeiro, a paciente estava bastante apática, acho que o cérebro já estava com falta de alguma coisa, pois ela já não bebia grande coisa, nem comia quase nada. Quando foi admitida, o nível de oxigénio estava muito baixo. Demorou umas largas horas até que voltasse a ter noção da realidade e, mesmo assim, continuava bastante inquieta. 

Fizeram dois cat scans, um ao peito e outro à anca, e um monte de análises. Encontraram uma pequena fractura e havia fluidos nos pulmões. Também tinha uma infecção urinária e decidiram testar se tinha sépsis. É uma aflição enorme ver alguém que estamos habituados a funcionar quase normalmente num estado tão debilitante. Nestas alturas, fico bastante feliz por não ter filhos; parece-me mais fácil emocionalmente apenas ter estranhos a tomar decisões. Bem sei que é uma porcaria e precisamos alguém que advogue por nós, mas dá algum conforto saber que nunca iremos causar dor a entes queridos, pois estes não existem.

São quase duas da manhã. Vou dormir...


      

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