quarta-feira, 3 de abril de 2013

Números do abismo

Entre 1980 e 2010, o nosso PIB cresceu à taxa média anual de 2,4% enquanto a despesa primária do Estado evoluiu à taxa de 4,2% (quase o dobro). Se nos concentrarmos no período 2000-2010, esses valores são, respectivamente, 0,6% e 2,9%. Bastam estes números para se perceber que, tarde ou cedo, Portugal acabaria por bater na parede. A crise internacional veio apenas acelerar o inevitável. Não perceber isto é não perceber nada do que se está a passar.

9 comentários:

  1. Que tal refazer as contas para, digamos, o período 2000-2008? 2009 e 2010 já são claramente posteriores à eclosão da crise.

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    1. Usando valores nominais, e considerando dados da Pordata, salvo qualquer erro na leitura dos dados, parece-me que a despesa das administrações públicas (excluindo juros) aumentou 71% entre 2000 e 2009. O PIB aumentou 32%. Portugal ia bater na parede e ia bater com força.

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  2. A questão de João Pinto e Castro é pertinente. Não tenho aqui à mão os números que sugere mas basta dizer que o défice público em 2010 foi de 10,2%. Ou seja, ante o abismo, o governo de Sócrates decidiu dar o grande salto em frente.

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  3. Se olhar para os números constatará que em 2009 cerca de 80% do agravamento do défice resulta directamente da queda das receitas fiscais. Não tenho os númneros de 2010.

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  4. Há dois efeitos que têm de ser levados em conta. Primeiro, a taxa de crescimento do PIB é real, o que compara com uma taxa de crescimento da despesa nominal (corrijam-me se me enganei, mas é o que depreendo do que é escrito), e o impacto dos preços, nestas contas, pode ser substancial.

    Depois há ainda um efeito 'catching up': Portugal tinha, em 1980, um rácio despesa/PIB bastante baixo, o que tornava 'normal' (no sentido de ser algo expectável, e não necessariamente desejável) que se seguisse uma subida deste indicador. Esta subida, por sua vez, só se tornaria insustentável caso não fosse acompanhada de uma subida do outro rácio relevante - a receita/PIB. Mas este rácio também subiu.

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  5. "Se olhar para os números constatará que em 2009 cerca de 80% do agravamento do défice resulta directamente da queda das receitas fiscais. Não tenho os númneros de 2010."

    Isso é um não argumento.
    E fica ainda mais especioso sabendo da impressão de crédito engenhada pelos Governos Sociais aliados à Banca.
    Fica muito lindo pedir emprestado loucamente, defices de 2-6% sempre maiores que o crescimento, ideológicamente combater a diferença via Educação Publica Totalitária e TVs - ou seja obrigar o país a uma receita reduzindo a redundância numa verdadeira politica de casino socialista e depois quando a bolha rebenta - com a falta de redundância se se falha a destruição é geral - fica muito admirado e coloca as culpas na baixa das receitas dos impostos. Aquilo que era inevitável devido à política social de casino seguida.
    Surpresa! é como um tipo que vive do crédito admirar-se que tem gastar menos quando o cartão chega ao fim e não produziu para pagar o que implicava os valores do cartão.

    "A crise internacional veio apenas acelerar o inevitável."
    Não há crise internacional alguma se entende crise internacional como desculpa para alguma coisa. Há países que tiveram - e vários ainda têm - o nosso comportamento.

    lucklucky

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  6. Um esclarecimento em relação a uma das questões levantadas por PR: ambas as taxas de crescimento (PIB e despesa pública) são reais, ou seja, estão descontados os efeitos dos preços; aliás, de outro modo, a comparação entre ambas as taxas não teria sentido - Fonte: Contas Públicas Nacionais.
    O argumento sobre o efeito catching-up faz sentido até certo ponto: O grosso do Estado Social foi construído neste período,quando nos outros países europeus já se estava a começar um debate sobre a sua sustentabilidade devido à grande descida das taxas de crescimento a partir dos anos 70 e, como se sabe, o Estado Social assenta, em grande parte, no pressuposto de que a economia irá crescer no futuro - por exemplo, a última reforma da Segurança Social em Portugal em 2007 assenta no pressuposto optimista de uma taxa de crescimento média anual de 2% até, salvo erro, 2030. Tem por isso razão o lucklucky no seu comentário quando fala em ´"política social de casino".

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  7. Para alem dos numeros de Portugal, tambem se pode fazer a mesma comparacao para Espanha. Nesse caso, concluira' que o ponto de partida e' muito diferente (do de Portugal), embora o desfecho tambem esteja a ser catastrofico. Aqui sim, parece-me que "Não perceber isto é não perceber nada do que se está a passar".

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  8. A questão será possível mantermo-nos no euro? O euro acelarou as diferenças internas entre os estados e desequilibrou ainda mais as balanças de pagamentos entre os estados membros. Uma solução interessante foi a da área escudo em 1968 face à crise de dos atrazos de pagamentos de Angola e Moçambique à metropole. Deixar cair a união monetária seria um revés para a causa ultramarina aos olhos internacionais. É algo muito similar ao sistema euro, montado sobre uma utupia, se um estado sai, degrada-se todo a crença na sua existência. Então solucionou-se reintroduzir taxas alfandegárias, o que teve um efeito extremamente positivo e fez as colónias alavancarem. Se o país não encontra forma de estancar as importações, de se reindustrializar e de fomentar as exportações, i.e., passar a ter uma balança positiva, não há como pagar aos credores. Tudo isso dentro do Euro e da UE parece-me impossível, podemos de sair de um deles?

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