Sobre o debate relativamente ao desemprego real versus desemprego imaginário, escreverei quando tiver tempo. Sobre as críticas a Boaventura Sousa Santos, tal como a maioria das críticas que lhe são dirigidas, não tenho muito a dizer, pois nascem de preconceito ideológico. Mas numa coisa João Miguel Tavares tem carradas de razão:
Criou-se um exército de descamisados doutorados, completamente dependentes da boa-venturança do senhor professor que dá uma ajudinha para conseguir a bolsa do pós-doc, e que chegam aos 35 e aos 40 anos numa situação lastimável, sem forma de ingressar nos quadros das universidades (que estão fechados e cheios de gente menos competente do que eles), sem uma vida profissional estável e com excesso de qualificações para os empregos disponíveis.
É mais um sintoma da forma vergonhosa como as gerações que têm menos de 40 anos estão a ser tratadas neste país.
Carradas de razão mesmo. É uma situação vergonhosa. E a vergonha aumenta mais ainda quando vemos que a forma de as universidades contornarem a impossibilidade de aumentar o seu corpo docente é contratarem a 10, 20, 40 ou mesmo 100% pessoas convidadas para tal, e não sujeitas a concursos públicos. Normalmente, são orientandos ou antigos orientandos da própria universidade, assim se criando uma situação de endogamia indecorosa, que privilegia abertamente as pessoas da casa (ou a clientela dela), em vez de permitir o acesso dos mais competentes. E, abrindo um dia por milagre (ou quase) concurso para um lugar no quadro, essas pessoas ficam à frente, pois já têm prática pedagógica que foi negada aos outros.
ResponderEliminarCaro LAC, mas, no caso, as críticas feitas à instituição dirigida por Boaventura, e não ao próprio, assim creio, foram-no de forma empírica. Ou, pelo menos, pretensamente empírica. O que poderá é apontar-se estar aquela empiricamente errada. O preconceito ideológico haveria de partir da premissa de um critério objectivo que pudesse fundamentar um princípio de congruência, quer da linguagem formal quer da ideia ou linguagem material. Na ausência desse princípio ou elemento de coerência ou congruência, teríamos, necessariamente, de apontar um preconceito, ideológico ou normativo, bilateral!!
ResponderEliminarNão venho aqui defender o escriba do público, mas, de facto, a questão torna-se pertinente quando sabemos que se empregam critérios objectivos distintos para análise de realidades que serão, também, distintas. Um, o Governo, emprega critérios que serão instrumentais à análise de plano e conta de políticas de apoio ao emprego e protecção social no desemprego, ou sejam, critérios de inscrição formal necessários, que assim são, assim foram e assim serão. O outro, CES, emprega critérios de fenómeno lato, de inscrição material e de análise total da realidade social, naquilo que será aparente e naquilo que será evidente. (um ex: Se 10.000 Portugueses residentes no Luxemburgo estiverem desempregados, tal facto relevará na taxa de desemprego do Luxemburgo. Relevará, também, na taxa de desemprego em Portugal?) Dir-me-á que será preferível analisar a potencia da realidade como fenómeno profundo da análise social. Sim, talvez! Mas que decisões práticas, correntes, poderemos tomar com dados tão complexos e intermitentes!? Os critérios serão, necessariamente, instrumentais e como tal sujeitos a um princípio de utilidade. Contudo, nada disto obsta a que estejam um ou ambos empiricamente errados.