Os “doutorados descamisados” não são nenhum exclusivo
nacional. Bem pelo contrário. A seguir à II Guerra Mundial, os EUA começaram a
formar grandes quantidades de doutorados. A Europa não tardou a seguir-lhe o
exemplo. Com o tempo, gerou-se um excesso de oferta. Por exemplo, entre 2005 e
2009, os EUA formaram 100 mil doutorados, mas apenas foram criadas 16 mil vagas nas universidades para professores a tempo inteiro. Em 2007, para o Canadá, esses valores foram, respectivamente, 4800 e 2616.
Neste momento, apenas os países em vias de desenvolvimento ou emergentes, como o
Brasil e a China, têm mais procura do que oferta de doutorados.
Na investigação, a história é semelhante. No Canadá, 80% dos
pós-docs ganha menos do que um empregado de construção civil.
Mas o problema não começou ontem. Nos anos 1960, com a
corrida ao espaço, muita gente nos EUA achou que era bom investimento fazer um doutoramento
em física. Veio, entretanto, a crise no início dos anos 1970. Resultado? Os EUA, de repente, tinham 5 mil
doutorados em física “a mais”. Muitos acabaram a trabalhar em áreas que nada
tinham a ver com a sua formação. Muitas “mentes brilhantes” tornam-se assim um
desperdício por mudanças bruscas e inesperadas das circunstâncias ou das modas.
Na verdade, às universidades interessa manter este exército
de doutorandos e pós-docs. São baratos, bastante motivados, descartáveis e
permitem-lhes aumentar substancialmente a investigação.
Muitos argumentam que, mesmo assim, mesmo com este excesso de
oferta, vale sempre a pena continuar a formar doutores a grande ritmo. Dizem eles
que muitos podem encontrar trabalho nas empresas, em investigação industrial,
por exemplo. Isto é verdade. Mas as taxas de desistência sugerem que muitos
doutorandos desanimam e desesperam pelo caminho. Nos EUA, apenas 57% acaba o
doutoramento 10 anos após a sua primeira inscrição. Nas humanidades, em que regra
geral os estudantes assumem a totalidade das despesas, esse valor desce para os
49%. Estudos mostram que os que acabam o doutoramento não são mais inteligentes
do que os que desistem – maus orientadores, más perspectivas de emprego e falta
de dinheiro são as principais causas de desistência.
Mas os doutorados que arranjam emprego também podem não se
safar assim tão bem. Um estudo da OCDE mostra que, cinco anos após o fim do seu
doutoramento, mais de 60% dos doutorados da Eslováquia e mais de 45% na Bélgica,
República Checa, Alemanha e Espanha continuam com contratos a prazo. Muitos
eram pós-docs.
Verdade que uma percentagem significativa dos estudantes de
doutoramento diz que estuda apenas pelo prazer de estudar em si. Mas também é
verdade que as pessoas com qualificações a mais para o seu emprego têm maior
probabilidade de se sentir frustradas, tornando-se, em consequência, menos
produtivas.
Há quem diga, nomeadamente académicos, que este aumento
drástico de doutorados é sempre bom para a sociedade. O conhecimento gerado pelas universidades alastra à sociedade, tornando-a mais produtiva e
saudável. Isto até pode ser verdade, mas fazer um doutoramento nem sempre é uma
boa opção individual, e é importante que as pessoas tenham consciência disso.
Eu concordo contigo. Ter um doutoramento reduz significativamente o número de empregos para os quais nos consideram. E, a maior parte das vezes, o aumento de salário não compensa do custo adicional de tempo e dinheiro. É estranho, mas a sociedade pensa que, tirando um doutoramento, ficamos especializados demais e acabamos por ser menos úteis do que quem tem uma licenciatura ou um mestrado. Em vez de ficarmos melhor, emburrecemos.
ResponderEliminarE a sociedade não terá razão nessa afirmação? Para mim, ter um Doutoramento é principalmente a prova de que não sendo completamente estupido uma pessoa pode focar-se durante vários anos apenas num assunto e avançar um pouco nesse estudo. Não me parece que fora da universidade existam muitas aplicações diretas para essa capacidade, e durante o tempo em que o aluno está envolvido nesse trabalho não só não aprende capacidades mais "vendáveis" como integrar-se em grupos, como se tiver essas capacidades provavelmente vai ter mais dificuldade em se tornar o maior perito mundial numa micro-área (o que é, convenhamos, o principal objetivo de um doutoramento).
EliminarNão concordo inteiramente. Depende muito da área em que a pessoa escolhe fazer o doutoramento. E o que é vendável muda de ano para ano...
Eliminardoutores descamisados da cunha
ResponderEliminarNa minha opinião, possuir um douturamento vale tanto como uma "sande de nada com molho de coisa nenhuma". A maioria dos individuos com um douturamento são gajos sem coragem para contribuir para a sociedade. Uma coisa é não sair da zona de conforto e continuar a contribuir para o engrossamento dos manuais (com chouriça), outra é ter tomates para contribuir realmente para o bem-estar geral das pessoas.
ResponderEliminarLivros mais grossos não geram crescimento económico, nem tiram as pessoas da miséria.
PS: O Rui Quinta também tem um douturamento.
PS2: Ele foi despedido passado alguns meses.