Marx com a sua profecia de um cataclismo iminente do
capitalismo encheu muitos corações de esperança. Depois dele, muitos discípulos
não se cansaram de anunciar para breve o paraíso na terra, com a concomitante
expurgação da propriedade privada, a origem de todo o mal. Desgraçadamente, o
comunismo teimava em não medrar nos países industrializados, como havia
profetizado o mestre, e, quando medrava, era em sociedades agrárias como a
Rússia e a China, onde o paraíso rapidamente se revelou um inferno. Hoje, já são poucos os que acreditam nos “amanhãs
que cantam”.
Todavia, nada disto impediu que a ideia central de Marx vingasse: é o dinheiro – a economia – que faz girar o mundo. “É a economia, estúpido”, como dizia o outro.
Todavia, nada disto impediu que a ideia central de Marx vingasse: é o dinheiro – a economia – que faz girar o mundo. “É a economia, estúpido”, como dizia o outro.
Niall Ferguson em “A lógica do dinheiro” tenta contrariar e
desmontar este determinismo económico. A economia é importante? Com certeza.
Mas não passa de um dos elos na “longa e emaranhada cadeia da motivação humana”.
O homo economicus – alguém que visa
maximizar constantemente a sua utilidade com cada transacção - continua a ser uma
“raridade” e, para muitos, é uma aberração, uma “monstruosidade”.
Vejamos um dos casos concretos analisados por Ferguson.
Hoje, faz parte da nova sabedoria do senso comum a ideia de que a popularidade
do governo depende do desempenho económico - rendimentos reais, emprego,
inflação, taxa de juro. E talvez ninguém acredite mais nesta verdade axiomática
do que os próprios políticos. Mas serão as coisas assim tão simples e lineares? Será que mais
prosperidade é sempre equivalente a mais popularidade? E a recessão implica
sempre impopularidade?
Ferguson pega no caso britânico e chega à conclusão de que
não se pode estabelecer uma relação de causalidade estável entre o sucesso
económico e o sucesso político. Por duas razões. Primeira, as tentativas políticas
para manipular o ciclo económico saem muitas vezes furadas, aparecendo muitas
vezes consequências que ninguém previu. Segunda, os eleitores não se limitam a
premiar os governos quando a economia cresce e a castigá-los quando isso não
acontece.
No Reino Unido, entre 1832 e 1997, houve 50 mudanças de
governo. Segundo Ferguson, apenas em quatro as questões económicas foram
decisivas. Eis alguns exemplos relativamente recentes. Em 1983, o estado
periclitante da economia britânica não impossibilitou que Thatcher voltasse a
ganhar as eleições. Em 1992, com maus indicadores económicos, John Major ganhou
as eleições; em contrapartida, perdeu-as em 1997 para Tony Blair, quando as
coisas estavam notoriamente a correr bem economicamente.
Em suma, os eleitores estão longe de decidir apenas em função do “dinheiro que têm a mais ou a menos na carteira”.
Passos Coelho e António Costa fazem mal se centrarem o
discurso apenas no passado, até porque já toda a gente conhece a ladainha. Na
minha opinião, é mais vantajoso, para cada um, centrar o discurso no futuro.
Isto não está para brincadeiras, e aos portugueses interessa perceber, por um lado, qual é o
candidato que dá mais garantias em termos de competência e seriedade e, por outro, qual é o projecto mais consistente e credível.
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