terça-feira, 28 de abril de 2015

O mundo é pequeno demais

Há dois anos, quando fui a Amsterdão, visitei o Museu Marítimo. Uma das coisas que retive da visita foi um texto que falava do século XVII, quando as pessoas usavam cartas para comunicarem umas com as outras. Dizia o texto que, por vezes, as cartas demoravam dois anos a chegar aos destinatários e não era pouco comum que, quando as cartas eram recebidas, ou o recipiente ou o remetente já havia falecido. Pensei eu, na altura, que hoje em dia temos uma grande sorte por conseguir ter notícias das pessoas de quem gostamos tão depressa. Há dias em que eu acordo e, quando ligo o telefone, a primeira coisa que vejo é uma mensagem de alguém amigo. Dizem-me coisas banais, do seu dia-a-dia, e fazem-me pensar, por uns segundos, que estou com eles. E depois há o Facebook, que nos permite ver a vida de muita gente desenrolar-se à nossa frente. Hoje o meu Facebook foi surreal.

A minha amiga Noëlle está em Catmandu, no Nepal. Uma das primeiras coisas que eu vi hoje foram as fotos dela com imagens de depois do terramoto. A acompanhar as fotos esta descrição:

A few photos of the aftermath....town square where people were gathering (around corner from our hotel) to avoid narrow streets with tall buildings that could collapse. We were in one of these areas for a number of hours before we could arrange transportation out of the city. There was a goat sacrifice, but I only took pics of the ceremony facing away from the carnage. The ceremony was an attempt to appease the gods and to prevent another earthquake. And yes, the goat was killed right there in public, which was surreal as we continued to experience tremors. There are a few more pics of some of the damages we saw on our way out of the city. We avoided the most hard hit areas so that we could get out safely, but damages were everywhere ...

Não me surpreende que ela esteja lá. Se vocês pensam que eu sou aventureira, enganem-se. Eu conheci-a em Oklahoma, na universidade. Depois do curso, ela foi para o Canadá para se casar com um rapaz que tinha conhecido. Pouco tempo depois de obter a cidadania, já estava ela na África do Sul para trabalhar com organizações não-lucrativas. Um dia, aparece que Facebook que ela vai mudar para o Dubai e foi para lá trabalhar com a família. Hoje é que eu reparei que estava em Catmandu, foi lá com um grupo de pessoas numa expedição de fotografia. Fui ver as fotos da Noëlle no Flickr e ela tem muito talento. Aqui estão algumas:

Postei o álbum de fotos dela no meu Facebook e o primeiro comentário foi da Brittany. E, quando o vi, fiquei com medo. A Brittany é americana, mas o seu marido é do Nepal e ela esteve no Nepal recentemente para conhecer a família dele. Estão todos bem, apesar de estarem em Catmandu. E hoje à noite, vi o post da Bhavana, uma amiga minha nepalesa, que partilhava um link da Cruz Vermelha. Conheci-a numa conferência. Ela ainda estava a fazer o doutoramento e eu já tinha terminado e tinha emprego. Ela conversou comigo para trocar ideias acerca de procurar emprego e da experiência que eu tinha tido. Agora vive na Florida com o marido e os filhos. Acabei de ver o comentário dela e toda a família também está bem.

Não sei se sou só eu que penso assim, mas o mundo tornou-se muito pequeno...

Todas as fotos são da Noëlle, podem ver a sua página de fotografia aqui.

2 comentários:

  1. Rita,

    Admirável!
    Obrigado pela partilha.
    Que pena eu tenho de não ter agora 35 (?) anos.


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    Respostas
    1. Obrigada, Rui. Eu também já não tenho 35. A Noëlle também não... :-)

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