sexta-feira, 8 de maio de 2015

Reino Unido: O surpreendente resultado, em que a perda de votos dos partidos da coligação, resultou numa maioria.

Resultados das eleições no Reino Unido

Os resultados das eleições no Reino Unido foram a meu ver bastante negativos.
Por um lado mantiveram no poder, agora com maioria absoluta, um governo conservador que tem prosseguido politicas a meu ver erradas, e que quebrou alguns tabus que os conservadores ingleses sempre tinha evitado, como posições populistas de restrição à imigração.
Este resultado é também muito negativo, pois com este a probabilidade de o Reino Unido sair da União Europeia, e também até a possibilidade de a Escócia voltar a ter um referendo com resultados diferentes do anterior, são para mim muito realistas. E penso que a saída do Reino Unido da UE é negativa para o Reino Unido, mas é também para a UE como um todo,  e em especial para Portugal.

Os resultados têm sido apresentados como uma vitória dos conservadores. E foram. Mas foram mais uma derrota dos restantes. A linha seguida pelos conservadores não lhes deu mais votos. Os conservadores tiveram praticamente a mesma percentagem de votos das últimas eleições. Esta foi uma percentagem baixa para um partido que ganha eleições. Desde a segunda Guerra Mundial, apenas nesta e nas anteriores eleições os conservadores tinham ganho com menos de 40% dos votos. E é também a segunda vez desde a segunda Guerra Mundial que um partido consegue uma maioria com uma percentagem tão baixa.

Mas então o que se passou?
Passaram-se três coisas. A primeira foi uma perda brutal de votos e deputados do partido liberal democrata. Que pagou cara a sua participação no Governo. Nesse sentido, somando os dois partidos de Governo, houve uma enorme penalização, com uma perda de 15% dos votos, embora esta tenha sido toda concentrada no Partido Liberal Democrata.
A segunda foi que o partido trabalhista não conseguiu apanhar uma parte importante destas perdas. Os Liberais perderam 15%, o partido trabalhista aumentou 1,5%. E foi isto que permitiu aos conservadores ganhar e ter maioria. O que aconteceu em Inglaterra é um aviso para as eleições que se seguem em Espanha. A dispersão de votos por várias alternativas e movimentos, pode ter como resultado garantir a manutenção dos conservadores no poder.
A terceira, foi uma enorme dispersão dos votos que saíram dos Liberais, mas uma dispersão com efeitos imprevistos. Esta dispersão, num sistema maioritário simples, deveria levar à perda de mandatos associados a estes votos e a uma concentração dos mandatos nos dois maiores partidos. Nesse caso seria de esperar, em termos abstractos, que tanto os trabalhistas como os conservadores aumentassem o número de deputados eleitos (uma vez que ambos tiveram maior percentagem de votos e seriam fortemente favorecidos pela dispersão de votos).
Na prática, as coisas foram diferentes. A saída de votos dos liberais para o UKIP e para os verdes não elegeu mais deputados a estes partidos (o UKIP teve mais 9,6% dos votos e elegeu menos um deputado), enquanto a movimentação de votos a favor do Partido Nacionalista Escocês (SNP) foi extremamente eficaz (porque concentrada geograficamente) a eleger deputados – ver ultima coluna, que conquistou quase na totalidade aos trabalhistas.
A tabela 2 mostra que entre os maiores ganhadores em termos de votos estão o UKIP e os verdes e mostra que os trabalhistas ganharam votos, mas mostra também que todos estes partidos perderam deputados.
Conclusão: Os resultados são bastante interessantes por revelarem o que pode acontecer num sistema maioritário. São também claros sobre a penalização de um dos partidos que esteve no Governo – os Liberais. E são ainda claros sobre como a dispersão de votos por tantos movimentos tão críticos e radicais pode servir apenas para manter o mesmo conservadorismo no poder.









3 comentários:

  1. "A terceira, foi uma enorme dispersão dos votos que saíram dos Liberais, mas uma dispersão com efeitos imprevistos. Esta dispersão, num sistema maioritário simples, deveria levar à perda de mandatos associados a estes votos e a uma concentração dos mandatos nos dois maiores partidos. Nesse caso seria de esperar, em termos abstractos, que tanto os trabalhistas como os conservadores aumentassem o número de deputados eleitos (uma vez que ambos tiveram maior percentagem de votos e seriam fortemente favorecidos pela dispersão de votos). "

    Em Inglaterra foi exatamente isso que aconteceu - os liberais perderam 37 lugares, os conservadores ganharam 22 e os trabalhistas 15 (até tenho a ideia, mas não sei se foi mesmo assim e nem sei onde ir conferir, que os trabalhistas conquistaram mais circulos conservadores que o oposto). O que estragou totalmente o cenário aos trabalhistas foi terem sido varridos da Escócia (se não fosse isso iria parecer quase uma "vitória moral")


    Acho que o que está a complicar esta eleição é que em larga medida foram duas eleições distintas (na Escócia e no resto), com dinâmicas completamente distintas, para o mesmo parlamento.

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  2. Já agora, terá havido mesmo grande dispersão de votos? O UKIP não conta para aqui, já que possivelmente muitos dos seus eleitores até achariam os conservadores o mal menor; o SNP também não já que na sua zona até são o partido dominante; o único exemplo de dispersão será mesmo os Verdes. Mas com os Trabalhistas a terem 10 vezes mais votos que os Verdes, isto terá sido uma grande "dispersão"?

    [Se alguém tivesse informação e paciência, poderia-se fazer uma simulação do que aconteceria se se juntasse os votos verdes aos trabalhistas]

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  3. Não tenho dados mais desagregados que permitam estimar todas as transferências de voto. Mas em termos de transferências líquidas, o que aconteceu foi uma saída de 15% de votos do partido liberal, que maioritariamente se dispersou por partidos que nada elegeram a partir desses votos (9% para UKIP, 3% para os verdes), acabando por beneficiar os Conservadores.
    Concordo com a ideia de que que foram duas eleições separadas (na Inglaterra e Escócia), explicita melhor o que eu referia do efeito da concentração geográfica explicar o sucesso do SNP. Um dos factos interessantes nesta eleição é que os partidos regionais têm 12% dos deputados, e conseguem-no com 8% dos votos.

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