Os resultados das primárias para as eleições regionais de
ontem em França podem ser analisados, como sempre, a partir de diversas
perspectivas.
Uma delas contende com os próprios fundamentos da
democracia. Enquanto “governo do Povo, pelo Povo e para o Povo”, logo que
respeitadas as suas mesmas regras, não há resultados anti-democráticos. Por
certo assim é, mas quando forças extremistas, permitidas pelas Constituições
dos Estados estão próximas do poder, as trombetas tocam mais alto.
Não é difícil explicar a vitória de Marine Le Pen e do
ideário que ela defende. Os ataques em Paris foram somente o factor mais
recente. Sociologicamente, creio que a França nunca abandonou a ideia de
Império e falta ainda a sua “descolonização mental”. Do mesmo modo que Hollande
não tem sido capaz de dar corpo às expectativas de um contrapeso a Berlim. A
segurança é um tema candente na Europa e no mundo e os bodes expiatórios uma
explicação simplista, mas eficaz.
Basta recordar Hitler para recordar que as ditaduras de
direita ou de esquerda, em vários momentos da História, nascem do sistema
democrático. E que o mesmo admite o gérmen da sua própria colocação em perigo.
O que importa só se poder combater essas derivas com os
instrumentos da democracia: com a discussão das políticas, a participação
cívica e o voto – a “arma atómica” da democracia. Espero eu e uma grande maioria
dos Europeus (e dos Franceses, em particular) que na próxima volta esta “arma”
se faça ouvir bem alto. Contra a demagogia. Contra a exclusão e os discursos de
ódio, xenofobia e racismo. Hoje lembro especialmente Victor Hugo e o seu sonho
de uns Estados Unidos da Europa. Quão longe estamos dele, meu caro Victor…
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