Os rankings das escolas portuguesas não
universitárias já não são uma novidade: existem desde 2001. Há opiniões
contraditórias sobre a sua oportunidade. O Ministério da Educação (ME) tinha
até então resistido à divulgação dos resultados escolares, mas cedeu à pressão
da comunicação social, que os exigia. Tanto quanto penso, as reticências do ME
teriam a ver com a disparidade de resultados entre escolas públicas e privadas,
que, interpretadas de um modo linear, levantariam dúvidas sobre a eficácia do
ensino público.
O conhecimento
dos resultados das escolas, em termos de aproveitamento dos seus alunos, é
evidentemente importante. O problema, percebido desde um primeiro momento, é
que os dados que serviam para organizar as escalas eram insuficientes para
explicar os resultados: classificações internas ou de exames, dados brutos, não
podiam reflectir senão uma parte da realidade. Por isso a ordenação das escolas
só fazia sentido se se tentasse adivinhar o que não a suportava: por exemplo, a
razão porque no topo apareciam sempre escolas privadas.
Para o comum dos
mortais, no entanto, essas listagens configuravam uma verdade que nem sempre
correspondia à realidade. Muitas escolas (sobretudo da rede pública) apareciam
mal colocadas, mas quem as conhecia por dentro sabia que elas tinham
virtualidades que os resultados iludiam. Faltavam outros dados complementares.
Como referi em post anterior, os serviços de
estatística do Ministério da Educação passaram a disponibilizar esses dados,
que permitem uma abordagem diferente, para bem melhor, dos rankings. Definiram-se as chamadas variáveis de contexto (por
exemplo, escolaridade das mães e dos pais, proporção de alunos que beneficiam
de apoio de ASE – acção social escolar - em cada um dos escalões, distribuição
dos alunos pelos níveis e modalidades de ensino). Partindo do princípio que
essas variáveis poderiam explicar os diferentes resultados escolares,
utilizaram-se modelos de regressão linear múltipla aos indicadores desses resultados,
permitindo chegar ao chamado “valor esperado” para cada uma das variáveis.
Temos assim um
quadro que, teoricamente, permite uma interpretação mais confiável da realidade
das diferentes escolas do país. No entanto sou dos que pensam que continua a
ser necessário algum cuidado na interpretação dos resultados, porque nem tudo é
redutível a números e, a menos que se aceite que a única função da escola é
garantir o êxito académico (o que me parece redutor), há elementos que devem
ser considerados quando se avalia o trabalho da instituição.
Para além do
conhecimento que tive, como professor, de muitas escolas, entre 2010 e 2013 fiz
parte de equipas que conduziram a avaliação externa de escolas do ensino básico
e secundário, as quais, para além de considerarem esses elementos objectivos, procediam a
visitas às instituições e entrevistavam membros da comunidade escolar. Esse
contacto directo mostrou, mais do que uma vez, que em termos de acção educativa
plena, ou seja, esforço de integração social de alunos com dificuldades,
respeito pelas diferenças, e até práticas inovadoras nos processos de
ensino-aprendizagem, escolas mediocremente classificadas nos rankings mereciam maior louvor do que
outras no topo.
Por isso quase
sempre senti um certo desconforto no momento da decisão, por não poder
equilibrar, nos pratos da balança, os dados objectivos e os subjectivos (ainda
que razoavelmente explicados) de uma escola.
Isto não
significa que não considere a importância dos dados estatísticos, que podem
agora ser trabalhados na tentativa de compreender o que se passa realmente nas
escolas em termos de rendimento escolar. Os investigadores têm agora à sua disposição
muitos mais dados do que em passado recente para poderem trabalhar.
No entanto, em
meu entendimento, mais do que hierarquizar escolas é importante encontrar meios
de ajuda às que lutam com dificuldades e cumprem deficientemente a sua missão –
ou parte dela. Esta vertente vai muito para além dos rankings. Felizmente,
tanto quanto sei, a Inspecção-Geral de Educação desenvolve um programa com essa
intenção.
"Os investigadores têm agora à sua disposição muitos mais dados do que em passado recente para poderem trabalhar."
ResponderEliminarInfelizmente, penso que embora tal seja verdade em termos de escolas públicas (com o enriquecimento dos dados da envolvente), a menos que tal tenha mudado recentemente, em relação às privadas a única coisa que é disponibilizado é exactamente o valor da nota média e do número de elementos avaliados..
Por outro lado, concordo que muito mais importante que uma ordenação (ranking) monodimensional, teria muito mais interesse fazer uma análise input-output com os diversos tipos de resultados produzidos pelas escolas (e que permitem também saber até que ponto as escolas estão ou não a atingi-los de forma eficiente). No entanto isso não permite dizer "a escola X é a melhor"...
Nesse aspecto acho que há uma diferença: nas escolas privadas (as verdadeiras, não os contratos de associação), o pedido dessa informação cabe aos pais dos alunos e o ME não tem nada a ver com o assunto. Se os pais não querem a informação (ou a sua divulgação) estão no seu direito. Já nas escolas públicas, existe um dever de transparência para com o "cidadão comum" que ultrapassa os desejos do ME ou dos pais (ainda que estes últimos sejam provavelmente os mais interessados).
EliminarAtualmente não sei, mas em 2007 o Ministério divulgava para os privados a nota de cada um dos exames realizados por cada um dos alunos, acompanhado com informação sobre se era interno ou externo, o sexo e a idade do aluno, se o exame era para aprovação, se era para melhoria de nota, se era para ingresso na universidade, etc. (exatamente a mesma informação que para o público).
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