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quinta-feira, 7 de abril de 2016
Carta palmar-“esbofeteante”
Exmo. Senhor Ministro da Cultura,
Dr. João Soares,
Na boa tradição das bengaladas de Eça, pretende V. Exa. dar umas “salutares bofetadas” em dois jornalistas. Se tivesse ficado pela “nuda cogitatio”, estaria solidário consigo. Quem já não quis esbofetear indivíduos que nos criticam de uma forma que, a nosso ver, é injusta?
Todavia, o Sr. Ministro, não tendo passado das palavras aos actos, escreveu-o numa rede social, com abertura ao público. Diz-se republicano até à medula, socialista e, presumo, laico. Nada de novo, uma vez mais. O Pai de V. Exa. repetiu-o à exaustão. Também se lhe conhecem episódios pouco edificantes como este de que agora é protagonista.
Certamente que dirá que o escreveu “como cidadão”, o que é absolutamente desmentido pela circunstância de se referir à qualidade de Augusto M. Seabra e de Vasco Pulido Valente como jornalistas que vêm discordando da sua – para já – inócua e invisível “política cultural”. Haverá alguma?
Um verdadeiro republicano respeita e bate-se pela liberdade de expressão, convive com a crítica – mesmo que acintosa – e não pensa que o facto de ser Ministro ou membro de uma família com enorme influência político-social no País o isenta de pensar várias vezes antes de escrever para todo o Povo o ler. Acresce que o seu discurso, permita-me V. Exa., é pobre, redutor e não contra-argumentativo. É a ameaça pela ameaça. Certo é que aquilo que escreveu não preenche o tipo legal do art. 153.º do Código Penal, por minudências que aqui não importa escalpelizar. Do mesmo jeito que não vislumbro censura criminal à sua conduta.
Já politicamente, encontra-se o Sr. Ministro em posição insustentável e se permanecer nas funções que ora ocupa, ficaremos a saber que a sua política cultural deve ter por pólo central o pugilismo, a luta livre e a luta greco-romana. É mesmo isso que todos precisamos. Um bom teatro que distraia Portugal do que o devia preocupar e a prepotência de quem julga tudo poder.
Sr. Ministro, a forma republicana de governo implica o máximo de escrutínio público sobre os actores políticos e elevados padrões éticos que de todo demonstrou com este seu comportamento. É V. Exa. reincidente em estórias como esta, bolçando (peço licença para lhe pedir de empréstimo a palavra) coisas sem grande sentido. Diga-se, em abono da verdade, que esta parece ter sido uma espécie de “prova de vida” num ainda curto mandato em que a Cultura ocupa o lugar que lhe tem sido legado pela Democracia: uma pequena flor, amiúde murcha, num canteiro dominado por discussões económico-financeiras.
Se a sua prosa fosse de qualidade, ao menos teria servido para reforçar o seu empenhamento para com a Literatura, mas é baixa, grosseira e atentatória de valores essenciais ao Estado de Direito democrático como a liberdade de expressão. Se existe o delito de coacção sobre órgão constitucional, V. Exa. acaba de inaugurar a coacção sobre os jornalistas. Em outros tempos, dir-se-ia tratar-se de uma forma larvar de censura, contra a qual o Sr. Ministro diz ter lutado.
Bom, a missiva vai longa e as palmadas não podem esperar! Espero que V. Exa. não me julgue merecedor de tal castigo corporal. Caso assim não seja, deixe-me que lhe diga, com todo o respeito, que a minha face é bem mais ossuda e que lhe recomendo o uso de luvas para não magoar as excelsas mãos de onde saem tamanhas pérolas literárias.
Agradeço-lhe, Sr. Ministro, ter-me provocado um momento que, em nano-segundos, oscilou da incredulidade ao riso e, por fim, à crença na podridão de tantos aspectos da nossa “res publica”. Para o titular da pasta da Cultura, já não é pouco.
Descanse pois V. Exa. que hoje desempenhou fielmente as funções que lhe estão confiadas: o número diário de circo foi magistralmente cumprido. Parabéns!
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Com que então "as excelsas mãos de onde saem tamanhas pérolas literárias" são as mãos do nosso actual ministro da cultura?. Será que o André não leu o texto todo?
ResponderEliminarNão reparou nos erros de ortografia Publico em vez de Público, calunias em vez calúnias? E que o nosso ministro da cultura não sabe distinguir entre "tenho de" de "tenho que"?
A meu ver, estes aspectos não são simples pormenores...
Da forma como eu li, o André estava a fazer uso da figura de estilo "ironia"; a intenção não era ser literal, mas insinuar precisamente o oposto.
EliminarSim, eu também entendi que aquelas "excelsas" era uma figura de estilo, e que o autor estava a ser irónico. A minha intenção foi acentuar essa ironia, mas, pelo que vejo, inconsegui, como diria a nossa ex presidente da AR...
EliminarAh, eu sou muito lenta e não tinha percebido...
Eliminar«Um verdadeiro republicano respeita e bate-se pela liberdade de expressão(...)»
ResponderEliminarBem, eu acho que isso é um valor da democracia, seja em república, seja em monarquia. Aliás, o país de mais antiga tradição de livre expressão em todo o mundo até é uma monarquia.
1. Sim, seria mais correcto "Também um verdadeiro ..."
ResponderEliminar2. Outro erro do filho do marocas: "bolsar"
Se alguém me considerar suficientemente importante para receber uma lambadas da sua autoria, que me informe para se marcar o local do desagravo.
O que o filho do marocas fez, foi revelar a importância que dá aos dois cronistas.
Para além, como o caro asam bem denota, de um monumental desprezo pela língua escrita!! (sinceramente, não fosse por outra razão, um ministro que aplica tamanhas patarronas de força no português escrito, deve ser imediatamente demitido)
EliminarNa minha terra uma bofetada nunca fez mal a ninguém
ResponderEliminarO mais interessante, caro Lamas Leite, é que o texto do Augusto Seabra resta-se honrado e enaltecido pela contesta do Ministro. O texto de Augusto Seabra é inatacável. Expõe à saciedade o marialvismo jumento de João Soares. O ímpeto medíocre e superficial. O deslumbramento pela vulgaridade e a incapacidade de discernir entre sujeito e objecto. Em suma, a pequenez do indivíduo que a nada o recomenda.
ResponderEliminarDo Augusto Seabra dir-se-á, a este propósito, verdades como punhos!!
literatura de pacotilha.....melhor dizendo: literatura de cordel. Alinham-se palavras " catitas " para divagarem num " sem assunto " . A aplicação do “nuda cogitatio”, no texto foi o máximo... Muito gosto eu de ser analfabeto para não entender escritos tão sublimes.
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