Neste momento, acompanho duas séries que partilham um mesmo tema: a ocupação.
Uma delas é norueguesa e chama-se, justamente, Occupied. Passa-se num futuro não muito distante, no qual as reservas de petróleo do mundo estão quase esgotadas. Uma das raras exceções é a Noruega, que produz petróleo abundantemente. No entanto, a certa altura os Verdes ganham as eleições com a promessa de parar a exploração e a venda de petróleo e substitui-lo por uma tecnologia limpa, que disponilizarão prontamente ao resto do mundo. Passada uma semana de euforia, o primeiro ministro é confrontado pelos russos, com o apoio da UE, com duas hipóteses: ou volta atrás nas suas posições pacificamente, ou a Rússia toma conta do país até ser restabelecida a produção e distribuição de petróleo. Para evitar um banho de sangue, alega, o primeiro ministro renega a sua principal promessa eleitoral, e assegura ao seu povo que ficará no cargo no período transtitório, até se atingirem os níveis de produção anteriores às eleições. A única diferença palpável na vida dos noruegueses é, verdadeiramente, a presença visível de soldados russos a guardar os poços de petróleo. Nem parece ser assim uma coisa tão insuportável. Afinal de contas, em todos os outros assuntos internos da Noruega, os russos não se metem – bem vistas as circunstâncias, o estado de coisas é basicamente idêntico ao que existia antes das eleições ganhas pelos Verdes. Que problema tão grande é este se os Noruegueses não tiverem a possibilidade de fazer uma escolha específica, sobre a produção de petróleo, podendo fazer todas as outras que quiserem? Só que nem todos pensam assim. E é à medida que alguns se rebelam contra esta única imposição externa, que se torna claro como não é possível restringir um pouco da liberdade. Quando um soldado norueguês recusa a subserviência a uma potência estrangeira e tenta assassinar a embaixadora russa, o Kremlin exige tomar o controlo da investigação e do próprio julgamento do culpado. Quando um jornalista começa a escrever crónicas negativas sobre os russos, é a própria estrutura do governo da Noruega que, pró-ativamente, lhe faz ver que essa atitude pode, num equilíbrio tão frágil, deitar tudo a perder e atrasar a partida dos russos.
A segunda série é americana e chama-se Colony. Mete extra-terrestres e, sim, isso é bastante cheeky e insuportavelmente visto. Mas há um resquício de interesse na coisa. É que os extra-terrestres não aparecem no ecrã – ou, pelo menos, ainda não apareceram ao terceiro episódio. É tal e qual como no waiting for the barbarians. Quem aparece são as tropas humanas colaboracionistas, lideradas por outro humano, claro está, que defende que, se todos se portarem bem, ninguém os incomodará. Os motivos para a colaboração são - como sempre o são – sensatos: em oito horas, os extra-terrestres tomaram conta do mundo. Que real hipóteses tem a resistência humana? A atitude mais racional - e a única que, aparentemente, permite a sobrevivência - é obedecer. E a coisa não é assim tão má. O dia-a-dia é, aliás, o mesmo de sempre.
Como diz o sábio ditado, só aqueles que não se mexem é que não sentem as grilhetas. A liberdade é um bloco único e sólido, e não se corta aos pedaços. É uma manhã inteira e límpida. Um bom 25 de abril para todos.
Muito bom texto para um 25 de Abril :-)
ResponderEliminarMuito obrigado, Isabel. Bom 25 de abril atrasado
Eliminar«Passa-se num futuro não muito distante, no qual as reservas de petróleo do mundo estão quase esgotadas.»
ResponderEliminarEntão só pode ser um futuro bem distante!
Não pode ser muito distante, caso contrário a tecnologia já se tinha adaptado.
EliminarAlexandre, não fiz um juízo de valor. Na série, o petróleo está a acabar e a série passa-se num futuro não muito distante. Não fui eu que decidi assim. Parece que há para aí uns poucos que acham que esta coisa da exploração dos recursos apresenta uns ligeiros riscos. Doidos.
EliminarSe bem percebi, no "Occupied" o petróleo não está a acabar; ou pelo menos os noruegueses ainda o têm com abundância. Mas por causa do aquecimento global (ou alterações climáticas, como agora soi dizer-se) e como dispõem de alternativas (os tais reactores de tório) resolvem fechar a torneira às plataformas do mar do Norte
EliminarRui, foi o que disse: os noruegueses ainda o tinham em abundância. No resto do mundo, estava a esgotar-se (ou não haveria a necessidade de invadir a Noruega, não é?)
EliminarBom 25 de Abril para ti também. Beijinhos e votos de melhor tempo em Londres.
ResponderEliminarObrigado :) Acho que isso é no entanto um desejo de difícil concretização. Hoje à noite teremos 1 grau.
EliminarRecomendo o "Occupied". Porque toca, com algumas limitações, temas delicados:a estranha aliança entre a União europeia e a Rússia; a dificuldade de distinguir o freedom fighter patriota do terrorista...
ResponderEliminarTambém passa em Portugal?
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