segunda-feira, 9 de maio de 2016

Uma terceira via para a Europa?



Não será o único nos anos mais recentes, mas este 9 de Maio, “Dia da Europa”, tem um travo muito amargo. Estamos longe do sonho idealista de Victor Hugo ou, em versão também romântica, mas menos idealista, de Schuman ou Monnet.
Com o aggiornamento que o tempo sempre impõe, seria difícil imaginar, em especial depois do Tratado de Maastricht de 1992 e mesmo do último Tratado, o de Lisboa, que a União Europeia (UE) se encontrasse em tão má forma. Sabe-se que o continente é velho, em História, e agora também em demografia. Nunca se escondeu que aqui eclodiram os grandes conflitos armados da Humanidade, do mesmo jeito que aqui parecem ter florido das maiores realizações do nosso génio.
Todavia, uma Europa ameaçada a Leste pela “invasão migrante”, a Oeste pelo descalabro económico e ao Centro pela estagnação e pela incapacidade de liderança política confirmam cada vez mais a verificação de que a UE pode ser um gigante económico (hoje mais virtual que real), mas parece perpetuamente condenada a ser um “anão político”. Nem a famosa “PESC – Política Externa e de Segurança Comum”, então 2.º pilar da construção jurídica saída de Maastricht, tem posto a UE a falar a uma só voz. Nunca – excepto em caso de uma nova calamidade gigantesca – tal sucederá, atenta a oposição de interesses que norteiam a política externa de cada um dos actuais 28 Estados-Membros.
Também é hoje óbvio que a União permitiu demasiadas adesões em pouco tempo e que sofre as dores respectivas, em muito impulsionadas pelos EUA que, por interesses geoestratégicos e económico-financeiros, não permitiriam que a Federação Russa mantivesse a mesma influência a Oriente da sua predecessora URSS. Os norte-americanos, nestas coisas, não falham e têm demonstrado à Europa que a sua juventude, aqui, é uma vantagem comparativa.
Confesso que já acalentei a esperança, baseada em factos, de uma Europa federal, a qual preferia ao que hoje temos: uma “organização-OVNI”, impositiva, fiel ao directório alemão, onde a democracia e a transparência nas decisões são uma miragem. Basta atentar na lonjura que os Povos europeus sentem das suas instituições, em regra servidas, nos últimos tempos, por burocratas de horizontes turvos e tacanhos.
Se o fim da UE não é desejável, apesar de mais próximo do que jamais esteve desde os Tratados de Paris e de Roma, uma “Europa das Nações”, uma simples organização internacional intergovernamental, tornariam o continente ainda mais insignificante. O pós-II Guerra deslocou o centro gravitacional do poder para o “Tio Sam”, agora sem contraponto a Oriente. Mas mesmo os EUA não sobrevivem sem uma Europa forte. E esse é o nosso drama, em primeira linha, e que vai já chegando aos norte-americanos. Por certo não a Trump, esse produto acabado do lixo pós-moderno, mas a alguém que, como Hillary, conhece o xadrez internacional.
Há poucas décadas, a moda da “terceira via” pegou com Blair e foi replicada – em tom quase religioso – com Guterres, na senda de Giddens. Não só a Sociologia e a Ciência Política se fizeram eco de uma espécie de via di mezzo, mas um pouco por todas as ciências se tentou uma qualquer síntese hegeliana.
Ninguém sabe bem quem manda nas instituições europeias ou dizem-nos que todos mandam por igual. O poder diluído é poder dissolvido e imprestável ao desiderato de servir o bem-estar dos povos europeus.
Falhado o federalismo, não se pretendendo um recrudescimento dos egoísmos nacionais que campeiam da Polónia à Hungria, de modo mais exacerbado, mas que estão subjacentes a uma certa discursividade do eixo franco-alemão, talvez um mix entre o pretoriano Delors e o cinzento Durão fosse o que nos conviria neste momento. Não falo em meias-tintas ou meias-palavras, mas todos sabemos que a UE se construiu sempre com pequenos passos. O que temos agora são monumentais arrecuas.
Donde, uma “terceira via”, por certo limitada no tempo, pudesse ser uma hipótese de trabalho para que, no próximo ano ou em breve, não estejamos a entoar um requiem pela Europa. O poema de Schiller e o 4.º andamento da 9.ª sinfonia de Beethoven não o merecem e nós menos ainda. Já nos basta uma Primavera que tarda.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não são permitidos comentários anónimos.