quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Massas crédulas e cínicas

As chamadas massas, um fenómeno surgido no século XIX com as grandes cidades, são constituídas por indivíduos desenraizados, atomizados, desconectados, solitários. Além disso, no século XX, como sublinhou Hannah Arendt, tornou-se evidente que as massas eram também, de forma aparentemente paradoxal, crédulas e cínicas. Num mundo em constante mudança e incompreensível para o comum dos mortais, as massas chegaram a um ponto em que acreditavam em tudo e em nada, achavam que tudo era possível e nada era verdadeiro. Uma mistura explosiva. A propaganda das massas descobriu que o seu público estava sempre disposto a acreditar no pior, por mais estapafúrdio que fosse. Os chefes totalitários perceberam, correctamente, que os seus públicos engoliam as maiores aldrabices sem protestar. Podiam mentir descaradamente num dia e serem desmentidos com factos irrefutáveis no dia a seguir. Não havia problema. É aqui que entra em cena o cinismo das massas. Em lugar de abandonarem o chefe que lhes havia mentido, as massas diriam que sempre souberam que a afirmação do chefe era falsa e admirá-lo-iam pela grande esperteza táctica. Hannah Arendt escreveu estas coisas nos anos 50 a pensar nos totalitarismos. Hoje, vivemos em democracias, mas as suas intuições estão mais actuais do que nunca.


5 comentários:

  1. O retrato fiel do que se passa em Portugal

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    1. Infelizmente, é bem capaz de, pelos menos, não andar longe da verdade.

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  2. em portugal a tv continua a ser o grande manipulador de massas após a igreja no tempo do salazar

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  3. De Chesterton:

    When men stop believing in God they don't believe in nothing; they believe in anything.
    If there were no God, there would be no Atheists.
    It is the test of a good religion whether you can joke about it.

    Cumprimenta

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