domingo, 5 de abril de 2015

Independentes na política

Disclaimer: não conheço o pensamento político de Sampaio da Nóvoa e, como tal, sobre esse assunto ainda não tenho nenhuma opinião. Nem o discurso dele no congresso do PS ouvi. Portanto, repito, a esse respeito não tenho qualquer tipo de opinião.

Sampaio da Nóvoa é um tipo que fez uma carreira académica que não pode ser considerada outra coisa que não brilhante. Tem dois doutoramentos por duas excelentes universidades europeias. Fez carreira lá fora. Fez carreira cá dentro. Tem publicações científicas com que a maioria dos académicos nem sequer sonha. Foi reitor de uma das universidades mais importantes e foi um dos promotores da fusão de duas universidades de Lisboa.

Quando as pessoas se queixam de que na política são sempre os mesmos e que é necessário que a sociedade civil participe mais activamente na política, que é importante que quem esteja na política tenha antes uma carreira fora dela, é disto que se está a falar. Simplesmente, não é possível encontrar muito melhor do que isto. Não há. Quem passa a vida a queixar-se da falta de participação de independentes na vida política tem obrigação de se dar ao trabalho de ouvir o que este homem tem a propor. Senão, passamos a vida a queixarmo-nos dos políticos que são sempre os mesmos e depois, sempre que aparece um independente, queixamo-nos de que não tem curriculum político para desempenhar cargos importantes, que é desconhecido e etc e tal.

Ouçam o homem, depois, se não gostarem, falem mal. Agora arrasar com uma pessoa com o curriculum de Sampaio da Nóvoa com o argumento de não tem curriculum ou de que não tem preparação é, simplesmente, ridículo.

13 comentários:

  1. Caro Luía Aguiar-Conraria:
    Concordo absolutamente com o que diz.
    Diz-se que os políticos dos partidos são todos corruptos, a solução só pode vir de fora: quando aparece um independente partidariamente ouve-se disto a que temos assistido, vindo de muita gente que nunca fez nada na vida.
    Exige-se a reforma do Estado como solução para os nossos males: quando alguém faz a sua parte, como ele fez, unindo uma universidade com 100 anos e outra com 80 anos, tarefa que muitos diziam impossível: desvaloriza-se.
    (Aqui discordo do que diz: a ideia da fusão foi dele, já tentada no 1.º mandato, com o Politécnico de Lisboa, para alargar a abrangência da instituição à área das tecnologias, mas tal foi inviabilizado por Mariano Gago).
    Permita-me que deixe alguma inforrmação sobre A. Nóvoa:
    Quando foi vice-reitor da Universidade de Lisboa durante, salvo erro 8 anos, pôs a funcionar um sistema de ligação da universidade às mais importantes do mundo, coisa que nunca tinha existido, para consulta permanente de bases de dados, bibliografia, troca de informações, etc.
    Mas isso implicava um determinado número de consultas por mês e viu-se aflito para que as pessoas, professores e alunos, se habituassem a fazer esse intercâmbio universitário, essencial nos dias que correm.
    Como reitor, pôs como meta incluir a UL no ranking das 100 melhores do mundo, não o conseguiu mas conseguiu uma melhoria muito substancial.
    Propôs fundir a UL com a UTL, tarefa que muitos diziam impossível de concretizar, para criar uma grande universidade com todas as áreas, potenciando a interacção de áreas de investigação, como, por exemplo, a biologia e certas tenologias.
    Quando deixou o cargo de reitor recebeu uma homenagem na universidade: houve um almoço em Julho de 2013 (salvo erro).
    De entre as pessoas que falaram todos realçaram as suas excepcionais qualidades para pôr as coisas e as pessoas a funcionar correctamente.
    Especialmente as pessoas do sector administrativo, habituadas a receber ordens e nada mais. Referiram com muita enfâse a responsabilização a que eram sujeitas e o grau de autonomia que lhes era dado. E racionalizou assim os recursos, 1 só reitoria, 1 só Serviço Social, a eliminação de departamentos e de cursos repetidos.
    Prescindiu de ajudas de custo e do carro com motorista: deslocava-se de Oeiras para Lisboa num Ford Fiesta banal.
    Não precisa, não quer, não faz parte do seu espírito e maneira de ser enriquecer, muito menos na política: vive muito bem com o que tem para os seus objectivos de vida.
    Já disse que prescindiria do ordenado de presidente, continuando a receber o de professor, pois considera o cargo como um serviço a prestar ao país.
    Como professor universitário, sempre que foi convidado para palestras ou conferências sempre se deslocou no seu carro e nunca recebeu 1 euro: considera que é a parte que tem de dar ao país. (Paulo Macedo fez coisa semelhante nestes 4 anos de ministro, recebendo um ordenado muito inferior ao que recebe como gestor onde tem trabalhado. E disse-o: é a minha parte que devo ao país).
    De certeza que António Nóvoa reduzirá o staff da presidência e os 16 milhões que se gastam actualmente para metade ou muito perto disso.
    É um mouro de trabalho e nunca passa férias, desde sempre. Apenas 5 dias para visitar os familiares no Minho, na quinta da família.
    É uma pessoa positiva, capaz de fixar objectivos e de motivar as pessoas, de formar equipas e de traçar objectivos (não deprimentes, como o Passos e o Cavaco) para o país.

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  2. Meu caro, "curriculos" académicos tão ou mais brilhantes como o de Sampaio da Nóvoa há, à vontade, em mais 1000 Portugueses com duas pernas e dois braços. Todos eles, civis e independentes. Com menos de duas pernas ou dois braços passará, certamente, a meia dezena de milhar.

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  3. O problema de Sampaio da Nóvoa é que muito mais fácil conhecer o pensamento político do Luís ou da Rita, através dos vossos posts neste blogue, do que o pensamento de Sampaio da Nóvoa através dos seus discursos, que parecem saidos dum qualquer gerador de lero-lero.

    Um ilustre desconhecido que se candidata a um cargo unipessoal cuja acção não é fiscalizada por ninguém, tem o dever de nos dar uma ideia clara e precisa de como pretende desempenhar o cargo.

    Além dos seus colegas docentes, alguém consegue prever que tipo de presidente seria? O que faria a um parlamento dividido, por exemplo? Que cobertura daria a um governo tipo Syriza? É previsível que durante a campanha se comprometa com respostas concretas a este tipo de questões?

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    1. Senhor Nuno Cruces:
      O problema de S. da Nóvoa para si é que ele é de esquerda.
      Já quanto a todos os outros de direita, nunca lhe puseram dúvidas à partida.
      Sempre teve a certeza de que teriam bons desempenhos nos cargos a que se propuseram: Cavaco, Durão Barroso, Passos, etc.
      Toda esta agitação na blogosfera causa-me algum espanto: o homem, de facto, está a assustar muita gente pois é, de facto, capaz de conquistar apoios num leque muito alargado de eleitorado.
      E o meu espanto é tanto maior quanto a benevolência da mesma direita para com o quase octogenário Henrique Neto, tal como tivera para com o TotóZé Seguro.
      No caso de H. Neto, nem referem o óbice da idade, que o Mário Soares teve há 10 anos quando se candidatou com apenas 3 anos menos que o H. Neto.
      Impressionante, a vossa isenção de análise!

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    2. Não vou morder o seu isco relativamente a todos os putativos candidatos a candidatos.

      Mas se há coisa que me parece consensual, é que Cavaco Silva foi exactamente o presidente que se esperava que fosse. Foi absolutamente previsível. Comprometeu-se com uma determinada visão dos poderes presidenciais enquanto primeiro ministro e mantêve-a. Não fez muito enquanto presidente (o que para mim é excelente). Do pouco que fez discordo da maior parte e tenho sérias dúvidas quanto à sua actual sanidade mental.

      Quanto a Henrique Neto, a idade é sem dúvida um problema, ainda que aparente estar bem. A sanidade mental de Cavaco Silva (e de Mário Soares) demonstram isso mesmo. Cavaco aparentava estar bem na primeira eleição, mas 10 anos é muito tempo.

      De Sampaio da Nóvoa, e de todos os ilustres desconhecidos, espero mais do que banalidades e intenções sobre assuntos que não competem a um presidente da república. Espero um comprometimento claro relativo à sua interpretação dos poderes discricionários do presidente. E espero que o parlamento dividido que vai sair das próximas eleições legislativas obrigue todos os candidatos a isso mesmo.

      Por fim, dizer-lhe que não tenho qualquer obrigação de ser isento nas minhas opiniões.

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  4. Rita estou 100% de acordo consigo.

    @Nuno Cruces
    "O problema de Sampaio da Nóvoa é que muito mais fácil conhecer o pensamento político do Luís ou da
    Rita, através dos vossos posts neste blogue, do que o pensamento de Sampaio da Nóvoa através dos seus discursos"

    Caro Nuno Cruces, não me parece que seja um problema muito relevante. Sampaio da Nóvoa está a candidatar-se com bastante antecedência (e bem na minha opinião) o que deverá permitir que o seu pensamento político seja suficientemente escrutinado.

    "Um ilustre desconhecido que se candidata a um cargo unipessoal cuja acção não é fiscalizada por ninguém, tem o dever de nos dar uma ideia clara e precisa de como pretende desempenhar o cargo."
    100% de acordo. é para isso que serve a campanha eleitoral.

    "Além dos seus colegas docentes, alguém consegue prever que tipo de presidente seria? O que faria a um parlamento dividido, por exemplo? Que cobertura daria a um governo tipo Syriza? É previsível que durante a campanha se comprometa com respostas concretas a este tipo de questões?"
    Mas existe alguém em relação a quem seja possível responder com seriedade a estas questões?



    .

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    1. Caro Rui:
      «Mas existe alguém em relação a quem seja possível responder com seriedade a estas questões?»
      Há, os candidatos da área política do senhor Nuno Cruces.
      Certamente que não teve estas «dúvidas existenciais» em relação ao actual PR.
      E não terá se for o Marcelo, o Santana ou o Rio.
      Mas a tirada de que gostei mais foi quando o senhor Nuno Cruces disse: «não tenho qualquer obrigação de ser isento nas minhas opiniões.»
      É por demais evidente que ninguém tem de ser isento nas suas análises e nos seus comentários: o problema é a credibilidade dessas análises e desses comentários.
      É por demais evidente que não há nenhuma obrigação legal ou de outro tipo que obrigue quem quer que seja a ser isento.

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    2. Perceba uma coisa Manuel, para mim, em Portugal, o sufrágio universal do PR não faz sequer sentido. Bastaria uma eleição por maioria alargada na AR, após escrutínio dos candidatos por parte da AR (a minha opinião seria diferente se o poder de veto fosse discricionário).

      A cor política do PR não me interessa minimamente, desde que o mesmo considere que os seus parcos poderes discricionários só devem ser usados em último recurso.

      Sampaio da Nóvoa seria para mim um excelente candidato (no sentido de que tem o perfil ideal) desde que comprometesse a não demitir governos com apoio parlamentar, seja qual for a sua cor política.

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  5. Acho que era fácil dar essa resposta relativamente ao candidato Cavaco Silva há 10 anos atrás. A resposta era que nada faria (além duns discursos inconsequentes) e genericamente cumpriu, surpreendendo rigorosamente ninguém.

    Quanto a Nóvoa, parece que já disse que o governo já devia ter sido demitido (e imagino que convocadas eleições). Não sei se o disse apenas por ser uma opinião popular, mas é um começo.

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    1. E porque era assim tão fácil dar essa resposta há 10 atrás? Mas mesmo que fosse possível então o critério para alguém ser candidato "fiável" a PR passaria a ser essa pessoa ter sido primeiro ministro durante 2 mandatos?

      e porque diz que o Cavaco "nada fez"? Teve um papel importante (pelo menos aparentemente) a manter a estabilidade do governo durante a crise da demissão "irrevogável" do Portas e houve várias peças legislativas que vetou ou que enviou para fiscalização do TC. Durante um período em que o país eventualmente com mais semelhanças economicas com o nosso (Grecia) viveu uma permanente instabilidade política em Portugal tivemos estabilidade governativa durante o período de resgate. Quando houve atritos com Espanha relativamente à extensão da plataforma continental fez questão de se deslocar às Cagarras. Dentro dos poderes de um PR queria que fizesse o quê? Que declarasse guerra à Espanha ou a Marrocos como supremo comandante das forças armadas? Que demitisse um governo provocando instabilidade governativa quando ele defende a estabilidade governativa? Que andasse a fazer presidencias abertas e a funcionar como contrapoder ao PM como o Mário Soares?

      P.S: faço a ressalva que do meu ponto de vista este governo foi dos mais incompetentes e maléficos para Portugal de sempre.

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    2. Cavaco foi previsível porque enquanto PM se comprometeu com uma determinada visão dos poderes do PR.

      Mesmo nesses períodos conturbados não demitiu o governo (alegando o irregular funcionamento das instituições) e só dissolveu a assembleia (poder discricionário do PR) depois de ter aceite a demissão dum governo e constatado que a assembleia não sustentaria um governo alternativo. Pode ter feito muito trabalho de bastidores, mas não fez uso dos seus poderes discricionários, surpreendendo ninguém.

      Isso não fez dele um bom presidente, fez dele um presidente previsível. Não precisava de ter sido PM para isso, bastava ter-se comprometido (ou não) com a visão de que um PR não dissolve uma assembleia capaz de aprovar orçamentos e votar moções de confiança.

      O PR tem alguns poderes discricionários, que não são fiscalizados por ninguém. Espero de todos os candidatos - mas sobretudo dos ilustres desconhecidos - saber como e quando entendem que devem ser usados.

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  6. Pela minha parte, eu espero que a comunicação social dê a todos os candidatos oportunidade de expressarem a sua visão para o país e que nos expliquem porque é que devemos votar num e não noutro. Não há mal nenhum em ter muitos candidatos. Ter opções é bom. O que é mau é ter uma comunicação social que, em vez de informar os cidadãos, faz parte do sistema de campanha dos partidos.

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