quarta-feira, 13 de maio de 2015

The pictures in our heads

Um homem raramente observava paisagens, excepto, vamos supor, para examinar a possibilidade da sua divisão em lotes para construção. Mas durante anos ele contemplou algumas paisagens de quadros pendurados em paredes. Através dos quadros, aprendeu a associar as paisagens ao pôr-do-sol ou a uma estrada com uma igreja e uma lua de prata. Um dia, faz uma visita ao campo e durante horas não reconhece a paisagem. Chega então o pôr-do-sol e ele identifica finalmente uma paisagem e diz que é bonito. Dois dias mais tarde, tenta lembrar-se do que viu, mas na sua mente apenas vê a paisagem dos quadros pendurados nas paredes.

Nos anos 1920, Walter Lippmann chamou a este fenómeno “the pictures in our heads”. O mundo é demasiado grande, complexo, diversificado. Por isso, o homem não age em função de um conhecimento directo e rigoroso do mundo, mas das imagens e representações que tem do mundo, feitas por ele próprio ou que lhe são inculcadas pelos outros. São as pictures in our heads.

7 comentários:

  1. Os gajinhos da fenomenologia dizem mais ou menos o mesmo. Ouvi dizer. No Fórum da TSF. Por isso deve ser verdade.

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    1. Sim, há várias pensadores que disseram mais ou mesmo com outras palavras. Mas eu gosto especialmente da expressão "the pictures in our heads". E o Lippmann, que era um conceituado e influente jornalista e opinion maker americano, escreve com uma clareza e elegância que esses gajinhos da fenomenologia não atingem.

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    2. Olha que o meu querido Schutz até se entende bem. Basta pensar nisto: eu li e consegui entender. E os rapazes lá da construção social da realidade (ou será da construção civil? Nunca sei...) também são de leitura compreensível, e explicam essas cenas da organização mental dessas imagens, ouvi outro dia numa conversa de corredor.

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    3. Bem, se tu o dizes, ainda sou capaz de me pôr a ler o Schutz, andava a evitar.

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  2. Desta vez excedeste-te, Zé Carlos! Uma pessoa acorda às quatro da manhã e lê isto e fica a pensar em coisas giras, como na Anaïs Nin: "We do not see things as they are; we see things as we are." Gostei muito...

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    1. Essa frase da Anais Nin é muita gira, vou guardá-la,

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    2. "a beleza está nos olhos de quem vê" -- sabedoria popular.
      "beauty is in the eye of the beholder" -- sabedoria popular em estrangeiro.

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