Alexandre Burmester, a pretexto do meu último ‘post’, com um
link para uma notícia de mais um atentado, lança uma série de perguntas:
Viveria num "ghetto"? Estaria desempregado? Seria vítima de racismo e xenofobia? Que fizemos nós, ocidentais, ou deixámos de fazer, para que isto tenha sucedido?
Como é óbvio, o
que Alexandre fez foi disparar algumas das desculpas que se costumam dar a pretexto dos ataques terroristas (e da criminalidade em geral) -- ou, se
preferirem, caricaturar as desculpas que muitas vezes se ouvem.
Gosto de as ver assim tão bem esplanadas. É interessante vê-las assim por causa das reacções que vi no Blasfémias e no Insurgente a um dos artigos que Fernanda Câncio escreveu em Bruxelas. Nesse artigo, Fernanda Câncio visita o bairro onde viviam o terroristas e faz uma descrição que permite questionar aquelas desculpas uma a uma. As raparigas que ela entrevista são modernas e ocidentalizadas, que têm iPhones, usam jeans e gel nas unhas. Deixa bem claro que o bairro não só não é um bairro pobre, como até está muito bem localizado, é asseado, podendo ser tudo menos um gueto. Ou seja, parece difícil alegar que ali nascem terroristas por problemas de integração.
Ao longo da reportagem, Câncio vai mais longe e dá sinais de como é aquela cultura que se recusa fazer parte de um todo maior. Por exemplo, diz-nos que quando as miúdas se aperceberam de que estava sozinha ficaram preocupadas. Por exemplo, não foram a um café porque era só para homens e acompanharam-na ao táxi por estarem preocupadas com a sua segurança.
Nesta reportagem são descritos muçulmanos que votam à direita e que defendem a deportação dos terroristas, miúdas que defendem os terroristas, mas que se comportam e se vestem de uma forma que as condenaria imediatamente no Estado Islâmico. Tipos que gostam do Abdeslam, mas que acham ele devia ir parar com os costados à prisão, etc. Enfim, uma série de paradoxos, que continuaram a ser explorados nos artigos seguintes.
A partir desta reportagem, que qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe que questiona uma série de argumentos desculpabilizadores, Vítor Cunha conclui que Câncio acha que há uma cabala ou uma campanha negra contra o bairro de Molenbeek. Como o Vítor é uma pessoa que escreve bem, é difícil de acreditar que não sabe ler. Custa entender como é que conseguiu perceber tudo ao contrário. Mas, depois, vemos ainda o André Azevedo Alves a reproduzir o post. E o Rui A., também do Blasfémias, aproveita o mote para gozar com a reportagem que pensam que leram.
Camaradas, tendes de passar a ler os artigos sem ver o nome dos autores. A vossa má-vontade é tal que vos retira qualquer capacidade de compreensão.
Ao longo da reportagem, Câncio vai mais longe e dá sinais de como é aquela cultura que se recusa fazer parte de um todo maior. Por exemplo, diz-nos que quando as miúdas se aperceberam de que estava sozinha ficaram preocupadas. Por exemplo, não foram a um café porque era só para homens e acompanharam-na ao táxi por estarem preocupadas com a sua segurança.
Nesta reportagem são descritos muçulmanos que votam à direita e que defendem a deportação dos terroristas, miúdas que defendem os terroristas, mas que se comportam e se vestem de uma forma que as condenaria imediatamente no Estado Islâmico. Tipos que gostam do Abdeslam, mas que acham ele devia ir parar com os costados à prisão, etc. Enfim, uma série de paradoxos, que continuaram a ser explorados nos artigos seguintes.
A partir desta reportagem, que qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe que questiona uma série de argumentos desculpabilizadores, Vítor Cunha conclui que Câncio acha que há uma cabala ou uma campanha negra contra o bairro de Molenbeek. Como o Vítor é uma pessoa que escreve bem, é difícil de acreditar que não sabe ler. Custa entender como é que conseguiu perceber tudo ao contrário. Mas, depois, vemos ainda o André Azevedo Alves a reproduzir o post. E o Rui A., também do Blasfémias, aproveita o mote para gozar com a reportagem que pensam que leram.
Camaradas, tendes de passar a ler os artigos sem ver o nome dos autores. A vossa má-vontade é tal que vos retira qualquer capacidade de compreensão.
A ideia que tenho é que neste momento não há grandes diferenças, a nível de juízos de facto, entre a opinião de muita esquerda e de muita direita sobre as "comunidades" islâmicas na Europa - ambos tendem a achar que são "comunidades" com valores e hábitos radicalmente diferentes dos nossos e que dificilmente se integram (depois a dúvida é apenas o que fazer com isso - reconhecer como algum de bom que cada "comunidade" tenha os seus próprios valores, como me dá a ideia que é a opinião de alguma esquerda mais pós-moderna e por vezes também de alguma extrema-direita? defender que são precisas maiores politicas de integração e que os imigrantes são vítimas de racismo e de xenofobia, como defende a esquerda mais tradicional? limitar a imigração muçulmana e facilitar os procedimentos para deportar para a Argélia os netos de imigrantes que cometam algum crime, como parece ser cada vez mais popular à direita*?); atendendo que, ao que me parece, a Fernanda Cancio não apresenta Molenbeek como sendo uma Raqqa-sobre-o-Zenne, talvez alguma direita ache que ela está a negar que as politicas de imigração irresponsáveis e que a ortodoxia intelectual politicamente correta puseram a Europa numa crise civilizacional (ou algo do género)?
ResponderEliminar*Não sei se é esta a opinião do AAAlves e do Rui A., mas parece-me ser a do Vitor Cunha, pelo que tenho lido dele.
Caro Luis,
ResponderEliminarMolenbeek está bem localizado mas é pobre, tem zonas com muita criminalidade e um grande desemprego jovem. Tem havido varias tentativas de gentrificacao nas zonas mais pobre mas que tem falhado precisamente devido ao crime e intolerancia.
A Fernanda Cancio descreveu a normalidade de qualquer bairro em qualquer cidade do mundo porque das favelas do Rio ate as barracas de Kinshasa a maior parte da gente vive a sua vida e cada uma tem as suas proprias opinioes. Mas Molenbeek nao é um bairro como qualquer outro em Bruxelas e disso nao escreveu.
Penso que parte da culpa das mas intrepretacoes é da edicao desta crónica da Fernanda. A lead dá a ideia que a Fernanda escreve sobre uma normalidade de um bairro em contraponto de uma ideia geral que o bairro é um centro de jihadistas. Tambem os destaques (Salam nao e uma pessoa violenta) nao ajudam e podem dar uma ideia de parcialidade.
A outra parte obviamente esta na cabeca das pessoas. Fernanda Cancio dá uma descricao incompleta de Molenbeek que obviamente näo e um bairro normal ainda que nao seja um suburbio (mesmo o Luis ficou com uma ideia errada). Eu, pessoalmente, vi isto como uma adicao à informacao já existente e mais como uma crónica que propriamente uma noticia. Outros deram mais importancia á reputacao de Fernanda como jornalista de causa e pensam que as omissoes sao propositadas e com alguma intencao.
Se ler o artigo original como uma entrevista, o que me fica é uma sensação de total falta de seriedade por parte dos entrevistados, que ao não ser abordada, resulta num artigo ele próprio muito pouco sério.
ResponderEliminarLido como artigo de opinião, não vejo que a autora faça os juízos que o Luís aqui fez sobre os paradoxos neles contidos.
Provavelmente sofro do mesmo problema do Vítor, do Rui e do André.
Claro que a autora não faz juízos. Os juízos são feitos por mim.
EliminarÉ BURmester, "ur", Luís;-). Danke.
ResponderEliminarDesculpa. Já está corrigido.
EliminarO que o Vítor, o Rui e o André pensam sobre as comunidades islâmicas na Europa é secundário. A forma como expressam a sua opinião é mais relevante do que o conteúdo. E essa forma o que revela, como já muito bem denunciou Fernanda, no regresso ao Jugular, é ódio. O ódio manifesta-se de muitas maneiras.
ResponderEliminarPor exemplo, o registo de Nuno André Martins, no Observador, http://observador.pt/especiais/molenbeek-deixem-nos-paz/, não é assim tão diferente do de Fernanda Câncio. E onde estão o escárnio e zombaria de Victor, André e Rui?
ResponderEliminarPensei exactamente o mesmo quando li essa reportagem esta manhã. Se alguma coisa, dá uma imagem bem mais idílica da vida do bairro do que a da Câncio.
Eliminaruma das coisas engracadas q passo a vida a constatar é a incapacidade das pessoas d distinguir entre generos jornalisticos e a iliteracia jornalistica q isso evidencia. haver quem nesta caixa de comentarios fale de 'noticia' e de 'cronica' -- aqui querendo dizer 'opiniao' - a proposito de uma reportagem (coisa q plos vistos nao sabera o q seja) é muito revelador. uma reportagem é um instantaneo, ou varios. pode, dependendo do espaço, ter mais ou menos contextualizacao. mas a contextualizacao da reportagem d molembeek q fiz é obviamente a existencia dos atentados, o sabermos q varios dos terroristas vieram dali e q um deles foo ali apanhado dpois d fugir d paris. e q se trata d um bairro pobre e com alto desemprego toda a gente ja sabe. nao é preciso la ir falar com as pessoas para saber isso. basta despejar estatisticas.
EliminarHa pessoas que nao sabem trocar argumentos nem explicar as suas razoes sem chamar aos outros estupidos ou iletrados. Pensarao que assim já partem de uma posicao de superioridade.
EliminarMuito obrigado pelo esclarecimento das diferencas entre noticia, crónica e reportagem. Nao fui feliz na escolha dos termos para retratar que a reportagem foi feita de uma forma mais subjectiva e menos contextualizada. Tem toda a razao, neste caso.
Por outro lado confirmo a minha ideia que a reportagem esta mal contextualizada. Se é um bairro pobre, com alto desemprego e delinquente porque é que se escolheu falar somente com trabalhadores, estudantes? Porque é que quando se fala da imagem de um bairro central e limpo nao se acrescenta algo que evite confundir os leitores - como se passou com o Luis?
Penso que se passa a ideia de que Molenbeek es um bairro igual aos outros o que eu acho que é uma descricao incompleta e outros acham que é uma descricao incorrecta mas propositada.
nao lhe chamei estupido, disse q nao sabe distinguir generos jornalisticos, problema alias nao so seu. mas o facto d achar q lh estou a chamar estupidoé bem curioso. continuando: escolhi somente falar com trabalhadores e estudantes? bom, falei com quem falou comigo, e por acaso nao eram todos trabalhadores e estudantes. releia. mas se calhar vou ter de exolicar como se faz uma reportagem num sitio onde nunca se esfeve, onde nao se conhece ninguem e onde as pessoas nao têm um letreiro no peito a dizer o q fazem: vamos ter com elas, apresentamo-nos e perguntamos se querem falar connosco. é algo q implica q nao sabemos quem sao as pessoas com quem falamos, esfa a ver a ideia? e q portanto depende da sorte, da nossa capacidade de cativar as pessoas o suficienhe para falarem connosco, de conseguirmos manter uma conversa, etc. quanto ao resto, de eu 'passar a imagem d molenbeek como um bairro igual aos outros'. limitei-m a retratar o q vi e a descrever as pessoas com quem falei. chama-s a isso honestidade. ja estive em bairros - nomeadamente em portugal - com muito pior ambiente. e esperar q encontrasse na rua tipos a defender os atentados - coisa q em parte aconteceu com as miudas q entrevistei - nao era exactamente expectavel, nao acha? faria a reportagem muito mais interessante, mas simplesmente nao aconteceu. de qualquer modo, repetindo-m, partimos de algo q toda a gente sabe: varios terroristas vieram dali. porq? posso ter muitas teorias sobre, mas o q m propus fazer foi ouvir as pessoas. achar q o resultado é 'desculpabilizante' é algo q m faz sorrir.
Eliminarpor exemplo haver quem ache (ou diz q acha, recuso-m a crer em tanta estupidez) q reproduzir o q as miudas dizem - q abdeslam nao é um terrorista - significa q concordo. ou q dizer q elas falam d um cafe so para homens significa q acho isso normal (serio? seria portanto preciso eu comentar na reportagem q nao é normal?). ou q acham q o bairro nao é seguro para eu andar sozinha e q ponho isso na reportagem porq nao tinha mais nada para dizer e nao porq isso significa q apesar de parecer inofensivo se calhar nao é. mas, confesso, o q m faz mais confusao é q pessoas d direita tenham relevado o facto de varios dos entrevistados defenderem a deportacao de abdeslam, q nasceu na europa, para marrocos; de dizerem q nao ha justificacao para o q ele fez; q na europa se vive muito bem e q ele devia perceber q marrocos é mto pior. ha ate um habitante q diz q a discriminacao existe mas nao é justificacao e q nao tem problemas c a ideia d a extrema direita governar o pais. isso, q é muitissimo surpreendente e q ate serve o discurso da direita, sendo portanto completamente contrario à ideia desculpabillizafora e vitimizadora q tentam colar à minha reportagem, é deliberadamente ignorado. nao ha outra justificacao para essa leitura senao o odio. a nao ser queiramos crer q sofrem de estupidez em ultimo grau.
O meu está aqui, NG. http://blasfemias.net/2016/03/28/discurso-de-odio-o-c-palermas/
ResponderEliminarCumprimentos.
A diferença entre estes 3 terroristas da palavra (V. Cunha, A. Azevedo Alves e Rui A.) e os terroristas islâmicos de Molenbeek (ou de qualquer outro sítio) é (por enquanto) só o modus faciendi: uns actuam com as bombas da palavra e os outros com as bombas reais.
EliminarMas o fanatismo e o ódio pelo Outro, pelo que não pensa como eles, é idêntico.
Ambos os 2 grupos de terroristas fanáticos destilam ódio, que é o seu leitmotiv.
O quadro mental fanático que orienta esta gente no seu dia-a-dia é semelhante.
Ainda bem que não somos obrigados (por enquanto) de ler estes 3 terroristas da palavra. Apenas porque não vivemos em nenhum DAESH comandado por eles.
No fundo, no fundo, eu acho que o ambiente é apenas um factor potenciador, que pode influenciar uns terroristas mais do que outros. O principal da questão é o ser que cada um é, e alguns seres que conhecemos são intrinsecamente maus.
Confirma o que estávamos a dizer, Vitor. Supostamente, para expressar a mesma opinião, de uma peça belicosa e trocista com, contados, nove "Câncio" e um "Sócrates", passamos a um mero "lamento que o Observador embarque num texto destes". Não é que discorde completamente da substância mas já não há pachorra para essa mania de, no Insurgente e no Blasfémias (e noutros), seja a falar do tempo ou da bola, arranjarem sempre maneira de jorrar fel sobre a mesma pessoa. Acho doentio.
Eliminar"Ambos os 2" é muito bom. "Ambos os 3" é que não tem jeito. "Ambos", assim a seco, é que não: soa a pouco...
EliminarSenhor Tiro ao Alvo:
EliminarObrigado pela correcção.
É evidente que se trata de um erro, em que todos nós, de vez em quando, incorremos.
Mas vejo que quanto ao que eu disse não fez comentários, o que me anima um pouco.
O artigo do Nuno André martins é bem menos interessante do que os da Fernanda Câncio, que neles mostra como é uma mulher muito inteligente e uma excelente jornalista. Eu ri-me com o post, que li muito em diagonal (não deu para ler todo), do Rui A., que é obviamente sobre a Fernanda Câncio e não sobre as reportagens que ela fez em Mollenbeek, porque sim. Mas as crónicas (sim, são mais crónicas do que notícias) são boas. E assino por baixo o último parágrafo do LA-C.
ResponderEliminarIsto resulta. O Vitor já acusou o toque.
ResponderEliminarDebate nicles, provocação barata sim.
EliminarSe Molenbeek é um bairro perfeitamente normal (como dizem a Câncio e o Martins) então porque é que está ligado a tantos terroristas ?
ResponderEliminarÉ aqui com isto que eu embirro. Nenhum dos jornalistas coloca perguntas incómodas (ao leitor, não aos habitantes do bairro). Limitam-se a meia dúzia de lugares comuns.
Quanto ao facto do artigo da Câncio ter suscitado as reacções que suscitou, é simples. Saíu primeiro e veio de quem veio.
"Se Molenbeek é um bairro perfeitamente normal (como dizem a Câncio e o Martins) então porque é que está ligado a tantos terroristas?"
EliminarNoutro contexto, se calhar muitas pessoas responderiam a questões desse género falando em responsabilidade individual, contra-argumentado que Molembeek também produziu pessoas ajustadas e eventualmente bem-sucedidas e negando que criminosos ou terroristas o possam ser em resultado da sociedade em que estão inseridos (quiça argumentando que isso era desculpabilizá-los)
Já agora, um post que eu escrevi em tempos que acho que aborda um tema similar
Eliminarhttp://viasfacto.blogspot.pt/2015/01/determinismo-e-indeterminismos.html
Miguel,
EliminarEu não estou a embirrar com Molenbeek, mas sim com as caricaturas que fazem do bairro. Estou muito mais interessado em saber porquê, e com que razões, existem habitantes de Molenbeek que apoiam (ou desculpam, o que vai dar ao mesmo) os terroristas.
Por isso é que embirro com as caricaturas que fazem sobre o bairro. Fornecem uma explicação plausível (numa primeira leitura, pelo menos) e um tipo pode continuar a ver a novela da noite sem se preocupar mais com um assunto complexo e incómodo.
P.S. Não penso que se trate de determinismo mas sim de factores de risco. Se o Islão é um factor de risco que leva ao terrorismo (e eu penso que é) então como fazemos ? Condicionamos a liberdade religiosa ? O assunto é espinhoso.....
é. é simples. a começar por nada na minha reportagem dizer q se trata d 'um
Eliminarbairro perfeitamente normal'. apenas nao corresponde à imagem tipica de um bairro 'problematico' e fechado ao exterior.
"apenas nao corresponde à imagem tipica de um bairro 'problematico' e fechado ao exterior."
EliminarCerto. E o que seria, numa cidade como Bruxelas, a imagem típica de um bairro problemático e fechado ao exterior ?
Estava à espera de uma favela ou um bairro de lata ? Algo no estilo da Cova da Moura, por exemplo ?
Não lhe parece que (e aqui reside a minha crítica ao seu artigo) não sendo Molenbeek o que você esperava de um bairro problemático, você estava a ser preconceituosa em relação aos habitantes do bairro ?
Aqui chegados, admito que nos primeiros dias a seguir aos atentados seria difícil a uma jornalista (note-se o género) estrangeira e desconhecida no bairro, falar sobre algo mais do que banalidades sociológicas. Mas por isso mesmo estava à espera de melhor da sua parte.
Eu não conheço Molenbeek, mas acredito que seja "um bairro perfeitamente normal". Isso não é impeditivo que esteja ligado ao terrorismo. Que tal faça tremer, ou até desmoronarem-se, algumas piedades da vulgata politicamente correcta no que à origem e motivação do terrorismo islâmico diz respeito, é outro assunto.
ResponderEliminarOsama bin Laden era filho de um magnata da construção; Mohammed Atta, o líder operacional dos terroristas de 11 de Setembro, era um arquitecto egípcio filho de um advogado;. Andreas Baader, um dos líderes do Grupo Baader-Meinhof, era filho de um historiador; Ulrike Meinhof, curiosamente, idem idem; Margherita Cagol, uma dos líderes das Brigadas Vermelhas italianas era filha de uma farmacêutica e de um próspero comerciante; Carlos "o Chacal", que não necessita de apresentação, era filho de um advogado. E podia continuar. Onde quero eu chegar: que a insistência na ligação dos terroristas, sejam eles de que vertente e de que época forem, às suas condições sociais, não passa de uma falácia; o terrorismo urbano, diga-se, sempre foi essencialmente uma actividade de burgueses, pequenos ou médios. Lenine chamar-lhes ia "revolucionários pequeno-burgueses de fachada socialista" (nos casos em que isso se aplicasse). Os "proletários" estão demasiado ocupados a trabalhar para se entregarem a tais "devaneios".
"o terrorismo urbano, diga-se, sempre foi essencialmente uma actividade de burgueses, pequenos ou médios"
EliminarDesculpe, mas tanto quanto sei os ataques em Paris e Bruxelas não foram obra de diletantes burgueses.
Bem, eu disse "essencialmente", e além disso esses eram apenas os peões de brega.
EliminarA ideia que eu tenho é que o terrorismo normalmente começa como um movimento de jovens de classe média, mas mal passa da plano das ideias ao da ação, rapidamente começa a atrair jovens semi-deliquentes de famílias de classe trabalhadora, como, p.ex, Hans-Joachin Klein (curiosamente o Andreas Baader quase que se poderia dizer que vinha dos dois meios ao mesmo tempo - nascido na classe média alta, mas, se não estou enganado, largamente crescido quase como um "lupenproletário")
EliminarSim, Miguel, esse seu diagnóstico não me parece desajustado. Eu falava - e, se calhar, fui pouco claro - na origem do terrorismo em meios confortáveis da sociedade.
EliminarA constante, caríssimos, insofismável, e que decorre do mais prosaico e instintivo nós, eles, é a existência de comunidades identitárias, étnica e culturalmente exclusivas. Uma espécie de embrião primordial de um nóvel direito das gentes. A comunidade magrebina, a comunidade africana sub saariana, a comunidade paquistanesa, Indiana, chinesa...e tudo e muito mais (haverá, virtualmente, nações entre nações)! Pode a coesão das nações passar incólume a esta erosão identitária!? Ou quedar-nos-emos por nações suportadas por laços meramente utilitários!? Os exemplos históricos que perseveravam a possibilidade e hipótese válida deste fenómeno demonstram hoje fendas colossais no tecido social!! Acho interessante discutir a arquitetura e fenomenologia social e cultural de Molenbeek, dos bairros de Marselha, de Paris e de tantas outras cidades, mas, sinceramente, acho mais pertinente discutir se deveremos, ou poderemos, expandir ou reproduzir o tal conceito das comunidades!!
ResponderEliminarFundamentalmente, a questão política, mui premente um pouco por toda a Europa (nos EUA e Austrália também), especialmente em França e no Reino Unido, resume-se à admissão de imigração e não admissão de imigração.
Daqui, facilmente se deduz o quão trágico é o problema quando, a este, aduzimos a provação de migrantes e refugiados que procuram a Europa!!
"Pode a coesão das nações passar incólume a esta erosão identitária!?"
EliminarDesconfio que é uma hipótese difícil de testar, por uma razão - não é muito fácil medir a "erosão identitária" (p.ex, a Suiça tem 4 línguas mas se calhar tem mais solidez identitária do que o Reino Unido, em que o quase toda a gente tem o inglês como 1ª língua, e os poucos que não o têm são bilingues; católicos e protestantes matavam-se na Irlanda até há pouco tempo, mas não na Alemanha; etc.); na prática, tendemos a considerar que uma sociedade tem erosão identitária, falta de uma cultura comum, etc., quando esse diversidade cultural cria problemas; mas isso tende a levar a que a resposta à pergunta "Pode a coesão das nações passar incólume a esta erosão identitária!?" tenda a ser "não" quase por definição.
Bem, Miguel, um à parte: os católicos e protestantes na Irlanda (do Norte) não se matavam principalmente por motivos religiosos. O conflito irlandês era de carácter nacionalista, político portanto, muito mais que de carácter religioso. Sucede que, como sabemos, os nacionalistas são largamente católicos (a religião ancestral dos irlandeses) e os unionistas (originários da Escócia) protestantes (a religião escocesa desde a Reforma, no caso deles o presbiterianismo, versão local do calvinismo).
EliminarJá os alemães mataram-se e não foi pouco, por motivos religiosos, pelo menos até à Paz de Vestfália! ;-)
No meio disto tudo, a fraca figura do serviços de informações e segurança belgas tem passado quase despercebida entre nós:
ResponderEliminar«It is a fact well known among the British intelligence community – which responds to any and every piece of intelligence it receives about potential terror cells - that the Belgians are pretty useless when it comes to counter-terrorist operations. A combination of not wanting to upset Muslim sensibilities and the country’s divisive political system have meant that the Belgian intelligence and security establishment has rarely been inclined to take effective action against hardened terrorists.
Thus we should not be surprised by the catalogue of astounding errors that resulted in the Brussels attacks. If the Belgian authorities are not prepared to treat seriously warnings that there are known jihadi terrorists living in their midst, then what do you expect?»
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/belgium/12204241/Belgian-security-is-so-bad-its-actually-a-threat-to-Britain.html
Felizmente pode sempre contar-se com os ingleses, especialmente o Torygraph, para chamar a atenção para essas coisas.
Eliminar“Sarcasm is the last refuge of the imaginatively bankrupt.”
EliminarCassandra Clare
Então eu digo por explicado: vivi 26 anos em Bruxelas e não deve ter havido um único desses anos em que não tivesse achado um milagre que não se passasse nada de muito grave numa cidade que alberga, para além da sede da Nato, as instituições europeias (dezenas de edifícios) onde todas as semanas, praticamente todos os dias, se reúnem os dirigentes de boa parte dos países europeus, fora as várias vezes por ano em que são mesmo os chefes de estado, no centro da cidade, em edifícios construídos por cima de linhas de caminho de ferro e de metro, por exemplo. E em que as fronteiras estão a 2 ou 3 horas de carro. É um facto que, durante esses 26 anos, houve alturas em que me senti desconfortável em sítios como o aeroporto, por exemplo, por causa do que se passava noutras capitais a umas centenas de quilómetros. Fora isso, nada.
EliminarPode ser ingenuidade minha, mas acabei por concluir que os serviços de informações e segurança belgas deviam ser muitíssimo melhores do que a reputação dos belgas em geral. Ou então, o que não é mutuamente exclusivo, escolheram fazer aquilo que se diz que os franceses fizeram com a ETA: vão lá fazer inferno para outro lado que a gente aqui não vos chateia...
Mas o Telegraph tem razão quando diz "you should not be surprised". Não conheço ninguém em Bruxelas que o esteja.
Pelos vistos, interpretei-a mal, Isabel. A falar é que a gente se entende.
EliminarComo se vê por alguns comentários relativamente a Vitor Cunha, há aqui pessoas que quando não concordam, começam a apelidar os outros de fanáticos, falam em ódio, etc. Só por isso, tenho de dar razão ao Vitor cunha!
EliminarSenhor Alberto Sampaio:
EliminarE também há aqui pessoas que aos seus correligionários tudo desculpam.
Já nos seus adversários (ou inimigos) só encontram defeitos.
Quase que me apetecia pedir-lhe um esforço (impossível de realizar, no entanto): imagine que a verborreia que o V. Cunha põe diariamente no Blasfémias era escrita por um dos seus inimigos de estimação (que são todos os que não pertencem à sua tribo).
O resto deixo consigo.
Engraçado que a mais importante crítica que se pode apontar aos Serviços de Informação Belgas nem sequer vem em nenhum OCS. Até há bem pouco tempo, ser bilingue não era obrigatório para se inscrever nesses serviços. Num país que são, efectivamente, 4 (Flandres, Bruxelas, Valónia e a pequena comunidade alemã de Liège), é engraçado que até há pouco tempo os inspectores de cada serviço de segurança e informação tinham que falar em inglês entre eles e muita informação se perdia na tradução.
EliminarPelo que sei, continua assim porque é mais difícil reformar aqueles serviços todos num país que nos últimos 5 anos deve ter tido um governo estável em 3 desses anos. Tão ou mais difícil que um rico entrar no Reino dos Céus...
Fácil foi ao Salah sair de França e entrar na fronteira terrestre belga pela Valónia porque os guardas ainda não tinham processado a informação para o capturarem, recebida nos serviços centrais de informação.
E não é para continuar a embirrar com a arrogância do Telegraph (por acaso até é, claro), mas está aqui um quadro muito interessante, o segundo (o primeiro também, por outras razões):
ResponderEliminarhttp://aliastu.blogspot.pt/2016/03/islao-na-europa.html
Por mim, embirre à vontade com o Telegraph, ou até com o Daly Mail, o Daily Express e, já agora, o Morning Star. Embirração com os ingleses é uma característica comum a muito boa gente com longos anos de "Bruxelas". Mas as suas embirrações predilectas não me aquecem, nem me arrefecem.
EliminarSó não vejo o que é que o artigo para onde nos envia tem a ver com o artigo do Telegraph que aqui postei.
Agora noto que os homens são tratados pelo primeiro nome no título, mas a Fernanda -- que partilha o nome com a minha mãe -- é tratada pelo último. Se as meninas do BE te apanham, estás tramado, LA-C...
ResponderEliminarQuer dizer e depois vem o Público e... http://www.publico.pt/sociedade/noticia/quem-deve-julgar-queixas-de-barbara-contra-carrilho-magistrados-estao-divididos-1727705
EliminarJá não sei quem está correcto. Agora, a razão pela que um seja tratado pelo primeiro nome e o outro pelo segundo ultrapassa-me
A Rita quer saber em que circunstâncias do tempo e do espaço poderá achar bem, ou tolerar, que lhe chamem "Carreira", um tom que ela, possivelmente, não conhece, nem sabia que existe, parece...
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