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Que se pergunte a uma criança de oito ou dez anos o que levaria numa mochila se tivesse de fugir da guerra, compreende-se. É um exercício que permite à criança pôr-se na pele do outro e entender um pouco melhor o que se está a passar no nosso mundo.
Que se pergunte o mesmo a um adulto, é um disparate. Os adultos deviam ter a capacidade de abstracção suficiente para perceberem o que isso significa sem precisarem de fazer bonequinhos.
Que se mostrem os filmes com as respostas mais ridículas, pior ainda. Em vez de falarmos da tragédia dos refugiados, entretemo-nos com o que alguns dos nossos famosos levariam. Fica ao nível banal e fútil da rubrica "o que leva Fulano na sua bagagem de mão?" das revistas dos aviões.
Muitos deles fazem pior figura que as crianças: parece que estão a falar de um fim-de-semana no Alentejo. Nem levam água, nem comida, nem o dinheiro todo que têm, nem medicamentos, nem pensos para as bolhas nos pés, nem sabão para se lavarem. E pensam que vão ter muito tempo para ler e fazer trabalhos manuais. Na travessia do Mediterrâneo, talvez, ou então quando se estiverem a enterrar na lama junto a uma fronteira fechada.
Uma sugestão à TV: mudem a questão, e entrevistem os mesmos. Perguntem-lhes: e se fosse eu a querer ajudar um refugiado concreto, um dos africanos à porta de Melilla, uma das pessoas que está em Idomeni, o que fazia?
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