sexta-feira, 6 de maio de 2016

Contem comigo...

O nosso ilustre Presidente da República acha que se discute demasiado as contas do governo e que parece que se tornou num desporto nacional, em que em cada esquina se encontra um constitucionalista/economista. Se eu fosse constitucionalista, diria que ainda bem que a nossa Constituição permite a liberdade de expressão e nos dá a oportunidade de opinar à vontade as contas dos governos portugueses. Acontece que não sou constitucionalista, logo defiro para o nosso ilustre Presidente da República a forma como interpreta o direito à liberdade de expressão consagrado na Constituição da República Portuguesa.

Também não sou economista de esquina, sou economista a sério, e é meu direito enquanto cidadã dar a minha opinião informada quando acho que as contas não batem certo. Também o faço por interesse próprio, pois quando as coisas correrem mal, irá sobrar para os economistas -- o pessoal irá dizer que nós, economistas, deixámos correr e não avisámos dos riscos. Considerem-se avisados; se as coisas correrem mal, a culpa não será dos economistas, será de quem ignorou os avisos.

Finalmente, o nosso ilustre Presidente da República toca num ponto interessante: não é aconselhável “passar o dia-a-dia a comparar números e a fazer avaliações e previsões”. Discordo desta asserção, pois há entidades que têm como dever avaliar as projecções do governo como, por exemplo, o Banco de Portugal, o Conselho das Finanças Públicas, e a Comissão Europeia. É verdade, estas entidades são pagas com o dinheiro dos contribuintes para salvaguardar os interesses dos mesmos e, para isso, têm a obrigação de dar um parecer do potencial de crescimento do país e de o fazer público para que os cidadãos o possam discutir e comparar com o parecer do governo. Julgo que este comportamento é o que se espera numa democracia, pois era durante a ditadura que não se podia criticar o governo em público. A não ser que o nosso ilustre Presidente da República nos esteja a informar que o ideal era comportarmo-nos como se estivéssemos sob uma ditadura da Esquerda portuguesa.

Fazer estimativas é a minha profissão: eu passo mesmo todos os dias a fazer previsões, a avaliar a qualidade das minhas previsões, e a comparar números. É assim que eu ganho a vida e não vivo muito mal. Também faço previsões que não são muito más. Por exemplo, o progresso do plantio das colheitas de milho e soja nos EUA é uma das variáveis que acompanho nesta altura do ano. Eu previ que, até Domingo passado, 45% da colheita de milho e 7-9% da colheita de soja estariam plantadas. O mercado previa 50% e 10-12%. Os números oficiais publicados na Segunda-feira foram 45% e 8%. Na semana anterior, também tive melhores previsões do que o consenso de mercado. Nem sempre sou melhor do que o mercado, mas não é raro eu ter melhores números do que o mercado, até porque muitos analistas usam técnicas muito mais primitivas do que as minhas. Eu controlo os meus erros: ninguém é tão duro e exigente na qualidade das minhas previsões quanto eu. Cometo erros frequentemente, mas os meus erros não são sistemáticos e têm de ser pequenos.

Como vivo disto, gosto muito de recolher informação que me permite formar expectativas. Nesta última semana, o nosso ilustre Primeiro Ministro anunciou que o crescimento do PIB conseguido pelo governo PSD/CDS, de 1,5% em 2015, foi "fictício". Para mim, esta informação é muito valiosa, pois leva-me a acreditar que, este ano, nem 1,5% o PIB de Portugal irá crescer. Se o Primeiro Ministro tivesse confiança no seu governo não diria que os resultados conseguidos pelo governo anterior eram fictícios; em vez disso, falaria dos seus resultados futuros com confiança, pois estes obliterariam os conseguidos pelo governo anterior.

Reparem, então, no tamanho potencial dos erros das previsões de Mário Centeno:

Se Mário Centeno e agora o ministério que tutela, quando fazem previsões, não ligam à qualidade das mesmas, isso merece ser criticado porque é desonesto para com os portugueses. E é ainda mais desonesto membros do governo dizerem que estas previsões são consideradas "conservadoras e prudentes", ao mesmo tempo que demonstram não ter confiança nelas.

8 comentários:

  1. O Marcelo quer é bailar e passear. As contas do Estado são uma maçada! Meterem (eu não, porque nem sequer votei) um beto em Belém agora aguentem.

    Eu já tenho saudades do Cavaco. Pelo menos não havia palhaçada todos os dias na presidência, porque no governo aos anos que é isto.

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  2. Você que está na América não sabe muito do que se passa em Portugal, a não ser os números. Isto está tão mau que a malta que votou na geringonça nem "pia". Estou a falar nas pessoas comuns, não nos "papagaios" nos media, porque esses são pagos para desviar as atenções. Daqui a nada ninguém vai admitir que votou na esquerda.

    Não há dinheiro, não há investimento, não há movimento, nada. O que há é o palhaço na Câmara de Lisboa a querer escavacar as avenidas principais para mostrar que faz "obra". Esse só tem de ser corrido nas próximas eleições autárquicas, não é com buzinadelas que se metem esses trafulhas na ordem.

    Nas principais construtoras civis há salários em atraso porque têm centenas de milhões de euros retidos em Angola e na Venezuela que não conseguem receber, por causa do preço do petróleo. Vê no que deu o "capitalismo de Estado" em Portugal? Vai tudo atrás dos "desígnios" dos políticos e depois lixam-se. Mas não há UMA notícia sobre esta crise sem precedentes na construção civil na imprensa portuguesa. Não interessa para a narrativa.

    As receitas fiscais estão todas muito aquém das "previsões" da geringonça, porque não há reanimação económica alguma. Resta saber como será o resgate a Portugal. Não acredito que seja feito nos mesmos moldes de 2011, porque Bruxelas já não está para isso. Não haverá uma "troika" formal, mas provavelmente será feita por burocratas à distância, como aquando da resolução do Banif.

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    1. Eu não percebo muito bem o comentário. Está a dizer-me que eu não percebo nada do que se passa em Portugal porque estou na América, só percebo de números, e, no entanto, fui uma das primeiras pessoas a dizer que ia correr mal. Não percebo o que é que eu estar na América tem a ver com a minha competência porque o que eu disse que ia acontecer, aconteceu.

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    2. Não é nada disso. Você não fala com o povo aqui, é só isso. É muito curioso ver a reacção das pessoas hoje em dia...

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    3. Rita, acho que o in fact não queria dizer que não percebes o que se passa por estares na América, mas q a realidade q ele vê é ainda pior do q
      os números te mostram. Não me parece q ele seja uma daquelas pessoas parvas que te atacam por estares fora, mas admito que a minha interpretação possa estar errada.

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    4. Confirmo. A Rita analisa - e muito bem - a macroeconomia, mas quem está em Portugal apercebe-se do que se passa no dia-a-dia, porque a comunicação social em Portugal está minada pelos socialistas.

      Imagine o que diriam os "papagaios" se o Cavaco andasse permanentemente em viagens como tem andado o Marcelo. Como o Marcelo anda a fazer "claque" pela geringonça ninguém diz nada, mas é um escândalo que num país em dificuldade, como o nosso, e em que as coisas ainda por cima estão a piorar, os principais órgãos de soberania queiram fazer das pessoas parvas. E agora ainda por cima estão a reabilitar o Sócrates, mas o desmancha-prazeres" é o líder da oposição por não ter querido estar naquela palhaçada que ocupou os directos dos canais de "notícias" por cabo toda a tarde de ontem. Discute-se a frase do Passos Coelho, de nunca ter estado em inaugurações, mas não se questiona como pode estar ali um político que é arguido e que toda a gente saber ser corrupto.

      Desculpem, mas nós merecemos inteiramente a porcaria de vida que temos, ao aturar isto passivamente!

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  3. 1) Não adianta falar de números a toda a hora
    2) Foram os Economistas que deram cabo do País
    3) Acha que é o Centeno que faz as previsões e afins? Sozinho?
    4) Não diga mal do Marcelo

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